Percival Puggina
Há alguns anos, ao sair de uma solenidade de formatura, assumi o irrevogável compromisso de nunca mais comparecer a tais atos. Aquelas horas de consternação e aborrecimento haviam esgotado minha paciência. Cada formando que cruzou o palco do Salão de Atos tinha uma lição a dar à plateia sobre o “estado das coisas” no Brasil e no mundo. Como quem escolhe itens de um cardápio, despejavam clichês e inutilidades avulsas sobre desigualdade, diversidade, discriminação, inclusão, opressão, meio ambiente, dominação cultural, mal costurada história universal etc. Ficassem a nação e o planeta advertidos de que eles, elas e elus estavam chegando!
Na sequência, falou o paraninfo. Se ninguém é profeta na própria terra, aquele senhor, consagrado pela moçada, de corpo presente, no palco dos acontecimentos, driblou o preceito. Seu discurso derrubou cercas, muros e muralhas. Como ante um Vesúvio em chamas, tudo veio abaixo para ele se erguer vitorioso sobre... sobre o quê, mesmo? Dedo em riste, atacou como um patético Procurador de Justiça do Juízo Final. Observei silenciosos sinais de discordância da plateia, certamente ocupada numa avaliação de perdas e danos causados por quatro anos de tais doutrinações sobre seus pimpolhos. Tarde demais.
O pior, porém, ainda estava por vir. Ergueu-se o diretor da faculdade. Limpou a garganta com um gole de água e começou outro falatório de teor semelhante, com esta inesquecível declaração: “O ‘coletivo’ da faculdade subscreve integralmente as palavras proferidas pelo professor paraninfo”. Bah! Aquele não era um ato acadêmico de conclusão de curso superior, mas a celebração da morte das individualidades, do pluralismo sem o qual não há o que dizer sobre diversidade. O coletivo cumprira sua missão! Ao mesmo tempo, estava ali o grito de guerra da intolerância e do cancelamento de toda divergência.
Em crônica de 1970, Gustavo Corção conta o diálogo sobre a burrice moderna que entreteve com um amigo que lhe disse, em telefonema: “A burrice não é novidade, é antiquíssima. Garanto-lhe que ao lado do artista genial que pintava touros nas cavernas de Espanha, anunciando há quarenta mil anos a brava raça de toureiros, havia dois ou três idiotas a acharem mal feita a pintura”. Laconicamente, Corção apontou a diferença: - “Mas calavam-se!”.
Sim, os burros de antigamente se calavam. Já a burrice moderna é vistosa e arrogante. Dou razão ao leitor que, outro dia, me observou ter ela deixado de ser atributo de uso pessoal e se disseminado. O mecanismo de disseminação é o moedor de cérebros, cujas consequências testemunhei naquela assustadora solenidade acadêmica porto-alegrense.
Há quem diga ser ilegal a iniciativa do governo Trump de cortar a destinação de recursos públicos para instituições universitárias privadas dos Estados Unidos que se transformaram em “coletivos” esquerdistas. Não sei se as medidas são ilegais ou não. Sei é que não deve ser legal impor verdadeiro apartheid mediante políticas de cancelamento da divergência, nem usar o espaço acadêmico como comitês eleitorais de candidatos de esquerda. Nesses espaços e instituições que recebem verbas públicas, menos legal ainda há de ser a formação de núcleos antissemitas, pró terroristas e de animosidade contra os Estados Unidos – gigantescos cavalos de Troia da revolução cultural. Saudades do Olavo de Carvalho!
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Helvécio Gouvêa - 22/04/2025 10:58:38
Por mim, fechem-se as Faculdades federais. Não são inúteis, são verdadeiras fábricas de minas explosivas mentais que explodirão por muito tempo ainda. Onde amarramos nossos burros?marisa van de putte - 21/04/2025 12:37:07
A realidade e bem simples. Se as universidades recebem verbas do governo e sao exentas de imposto federal, elas devem aceitar as imposicoes que restrigem praticas de ativismo dentro da universidade. Nao e concebivel que usem de violencia e persiguicao a aqueles que divergirem das manifestacoes que sao escandalosamente praticadas dentro do campo universitario.. Estamos qui falando em milhoes que recebem do governo e que vem do contribuinte.Dimas - 21/04/2025 10:36:29
O alinhamento dos estúpidos aos inescrupulosos, ganhou até ares de cultura e tolerância. Como gente burra e ou estúpida é também preguiçosa, arregimentam-se em bom número na sociedade.rogerio pocebon - 21/04/2025 09:59:55
Olavo de carvalho faz muita falta ,hoje em dia,cada vez a alienaçao e burrice tomando conta ,antigamente se admirava pessas inteligente onde a gente aprendia muito ,uma pena o que fazem no brasil pra haver dominaçao das riquezas sem ter guerra ,ate os melancias servemEnézio E. de Almeida Filho - 21/04/2025 09:02:07
Harvard, Columbia e outras universidades sobreviverão aos cortes de Trump? A liberdade de expressão e opinião não se aplica aos discursos de ódio racista e nem contra os inimigos do seu próprio país. Elas vão ter que rever sua política sobre isso.Roque Eugenio - 20/04/2025 12:20:21
Olavo esta entre nós e cada vez mais, seu legado seus estudos para sempre serão lembrados e quanto mais se manifestam comunistas e esquerdistas ele atraves de seus ensinamentos ressurge. imagine o foro de são paulo, acampados na Casa Branca, acampados na Casa Branca,tiveram que levantar acampamento e hoje o mundo todo percebe que o que se pensava ser TEORIA DA CONSPIRAÇÃO não era TEORIA, era CONSPIRAÇÃO mesmo, conforme nos ensinava OLAVO.Junior - 19/04/2025 10:43:19
é o que sempre digo, antigamente as pessoas tinham vergonha de ser burras, hoje é motivo de orgulho demonstrar a burrice.Afonso Pires Faria - 19/04/2025 10:03:19
Perfeito professor. Fechaste com chave de ouro ao fazer referencia ao cavalo de Troia e ao Olavo. Fica aqui também, a minha advertência. Podes ir a formaturas sim. Mas não da área das humanas. Parabéns. Obrigado.FERNANDO A O PRIETO - 19/04/2025 04:46:22
Muito bom texto, como sempre! Vivemos tempos em que tudo está invertido, e é preciso denunciar isto, dizendo claramente que "o rei está nu". Deus o conserve.