Percival Puggina

25/04/2024

 

Percival Puggina

         O esquerdismo militante convence seus agentes de que isso acrescenta importantes polegadas à sua estatura moral, induzindo-os a olhar a humanidade de cima para baixo. Cada um deles é o novo Adão que emergiu das trevas da injustiça, das opressões e das exclusões que até então “encobriam a superfície do abismo” (para usar a expressão bíblica).

Em suas ocupações e atividades profissionais, o esquerdista militante coloca a missão acima da função. Seja ele professor, jornalista, padre, pastor, artista, militar, burocrata, empresário – o que for – antes de tudo é um esquerdista empenhado no papel transformador e revolucionário que lhe cabe na construção dessa nova humanidade, bem ali, no lado esquerdo do palco das ideias.        

Em todas as muitas experiências históricas e atuais, essas premissas e seus fundamentos ideológicos levam, isto sim, a uma nova eugenia. A tal de direita (sempre dita “extrema”) precisa ser sufocada para perder expressão política. Há que quebrar esses ovos para a omelete da revolução. Daí a censura que sai do texto, da obra, e atinge o autor, a família e o ordenamento jurídico do país, com sucessivas e crescentes restrições de direitos. Daí termos modernos gulags nos tais inquéritos sigilosos. Daí, também, serem os alunos, os pacientes, os fiéis, os presos, os pobres, os negros, os pardos, os gays, os leitores e o público de esquerda os únicos merecedores de atenção e defesa. Infelizmente, de tanto ver, entendi, mas preferia não ter visto.

O ministro Luís Roberto Barroso, em recente encontro da OAB Nacional, fez uma série de afirmações que exigem reflexão (assista aqui). Disse ele, em síntese, que:

- a democracia enfrenta uma onda de populismo autoritário, anti-institucional e antipluralista que vem representando um risco em muitas partes do mundo;

- a referida onda se torna perigosa por ser “autoritária, xenófoba, racista, homofóbica e misógina”;

- o populismo autoritário é o responsável por uma divisão política “nós e eles”;

- no Brasil e noutras partes do mundo, a comunicação direta by-passa instituições intermediárias como o Legislativo, a imprensa, a sociedade civil, e com muita frequência elege as Supremas Cortes como adversárias;

 - as Supremas Cortes têm o papel de limitar o poder político das maiorias políticas;

- a articulação global extremista de extrema direita se utiliza das plataformas digitais para espalhar ódio, desinformação, teorias conspiratórias e destruir reputações.

O ministro parece ter retomado nesse pronunciamento o múnus ideológico e o esquerdismo militante que assumiu no último Congresso da UNE. O raciocínio, o vocabulário e a rotulagem dos opositores como “autoritários, xenófobos, racistas, homofóbicos e misóginos” o revelam.

Se há algo que conservadores e liberais não têm é uma articulação internacional que funcione em seu favor! Estaria o ministro se referindo a Elon Musk e à plataforma X quando menciona “articulação global da extrema direita”? Nesse caso, porém, não deveria levar em conta a atuação no sentido oposto dos notórios Facebook, YouTube, Instagram, Google, etc., que já reprimiam por conta própria e gosto os perfis e páginas de direita bem antes de serem instados a isso pelo STF e pelo TSE?

Esse by-pass às instituições intermediárias criticado pelo ministro não seria, em palavras mais claras, simplesmente a livre busca da verdade? Não seria o mero direito que assiste cada cidadão de interpretar e se expressar a respeito dos acontecimentos com liberdade, independentemente do que proclamem os oráculos oficiais?

Quando li sobre a tal “articulação global extremista de direita” me lembrei de que essa articulação sempre foi marca da extrema esquerda, com suas muitas e sucessivas “Internacionais” que até um belo hino próprio têm há um século e meio: (“De pé, ó vítimas da fome! De pé, famélicos da terra!"). Ademais, como desconhecer o Foro de São Paulo, o Sul Global, a Pátria Grande e outras articulações semelhantes? Como ignorar o movimento Woke? Onde ficam, nessa narrativa, a Nova Ordem Mundial e seus bilionários promotores?

Por fim, num país onde o presidente proclamado eleito é petista, tem maioria de 9 a 2 no STF, compra maioria no Congresso, conta com ampla cobertura do jornalismo militante das grandes redações e comanda com o tilintar das moedas o setor cultural, o ministro vê necessidade de controlar o poder político das maiorias! E essa maioria – surpresa! - não é a maioria governista, mas a ameaçada e silenciada oposição.

Infelizmente, entendi, mas preferia não ter entendido.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

22/04/2024

 

Percival Puggina

        Está em curso no Brasil um câmbio radical nas relações entre a nação e o Estado. Na vida real, longe das enganosas narrativas e torcidas populistas, resta apenas um fiapo do ânimo que levou Ulysses Guimarães a identificar como “Constituição Cidadã” a carta de 1988. A entusiasmada definição dada pelo idoso e experiente político paulista, deputado federal por 11 legislaturas, refletia a expectativa de ter sido estabelecida a prioridade da nação sobre o Estado. No entanto, com um modelo institucional errado, saiu tudo ao reverso das expectativas.

Passados 35 anos, o cidadão – perdoem-me por dizê-lo – é o último pau do galinheiro nacional. Vive em servidão, a custear mordomias e disparidades infinitas com o suor de seu rosto sob um Estado que se cobre de sigilos enquanto lhe restringe as liberdades. A opinião dos brasileiros é a suprema inutilidade nacional, objeto de desprezo por parte daqueles que, seguindo o “Waze” de Gramsci, chegaram ao poder pela “longa marcha através das instituições”.

No trajeto, os princípios constitucionais foram transformados em massa de moldar manuseada segundo a estética das circunstâncias. No tempo do general Golbery, isso era chamado “casuísmo”.

Com o advento das redes sociais, os cidadãos erguidos em 1988 à condição de fonte da qual o poder emana puderam se expressar com eficácia. Na semana passada, porém, ficou-se sabendo que tais redes vieram acabar com a felicidade dos membros da oligarquia instalada. Que dó que dá! Em nome dessa felicidade habitual, as redes sociais ganharam mordaça, usuários pagaram multas e restrições de direitos, outros carregam tornozeleiras ou foram para o exílio. O ruído da senzala perturba o sossego da Casa Grande.

Hoje, querem nos convencer que o Estado é o oráculo, o deus da religião civil de Rousseau – onisciente, onipotente e onipresente. Ademais, alguns de seus sacerdotes veem a si mesmos como Charlotte, a última bolachinha do pacote.

Com o espírito abalado nos últimos dias por saber que nossa própria realidade política e institucional precisou ser escrita em inglês e descrita com sotaque, participei no último fim de semana, em Londrina, do 4º Fórum Educação, Direito e Alta Cultura. Falei sobre o “Eloquente silêncio de uma nação”.

O convite para ali estar me proporcionou uma experiência maravilhosa, desde o impacto causado ao ver, do alto, aquela metrópole que nasceu no início do século passado e já conta 600 mil habitantes. Acrescida de seu entorno, vai além de um milhão.

Durante o Fórum, realizado pela Editora E.D.A., com a amável e criativa regência de Cláudia Piovezan, vi a trajetória institucional e social brasileira ser esmiuçada por personalidades como Ricardo Vélez Rodríguez, Roberto Motta, Pe. Antônio Fiori, Sandres Sponholz, Filipe Regueira de Oliveira Lima, Ludmila Lins Grilo, Diego Pessi, Isabelle Monteiro, Araceli Alcântara e Henrique Cunha de Lima. Uau! Londrina me cativou e renovou meu ânimo. Quanta gente boa, não por acaso na terra do casal Edson e Cláudia Piovezan, de Paulo Briguet, de Bernardo Küster, de Silvio Grimaldo e tantos outros!

Que o Salvador os abençoe pelo bem que fazem, conduzidos pela fé legítima, a fé que conta, no Deus de amor.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 

Percival Puggina

18/04/2024

 

Percival Puggina

         O ministro Alexandre de Moraes afirmou ao Senado Federal, sorrindo como quem se diverte no que diz: “Antes das redes sociais, éramos felizes e não sabíamos”.

É desconhecido o motivo pelo qual coube ao ministro a tarefa de levar para o Legislativo o anteprojeto do novo Código Civil. Já escrevi antes que o STF se tornou uma esponja de prerrogativas e que o ministro faz o mesmo dentro do STF. Em seu pronunciamento, ele retomou sua ideia fixa e proferiu a frase que repercutiu sobre tudo mais que tenha dito na solenidade. Primeiro, porque o sorriso contraria o dito; segundo, porque ninguém se dedica tanto a um combate sem trégua se não apreciar o enfrentamento.  

O episódio me levou a avaliar meu próprio estado de espírito perante a pretensa infelicidade de Sua Excelência. Eu era feliz antes das redes sociais. Escrevi durante quatro décadas, como articulista de opinião, para os dois principais jornais do Rio Grande do Sul. Eu tinha esse privilégio de pertencer ao reduzido grupo dos influenciadores da opinião pública do meu estado. Nos últimos 10 anos desse período, como articulista dominical de Zero Hora, fui um singular sinal de “pluralismo” diante do esquerdismo das opiniões impressas.

Com o advento das redes sociais, vi a luz da liberdade de opinião chegar às multidões. Isso me tornou ainda mais feliz! A liberdade abriu suas asas sobre nós e um pluralismo sadio iluminou as consciências para a efetiva liberdade de escolha. O que era possibilidade de uns poucos se multiplicou em proporções inimagináveis e vivi a graça de desfrutar da verdadeira explosão de talentos até então ocultos pela hegemonia dos grandes e velhos meios de comunicação.

Somente alguém insensível ou aferrado às conveniências daquela hegemonia pode se opor a tal liberdade impondo-lhe freios e arreios. Somente a sede de poder explica o anseio por reitorar essa liberdade entregando a verdade a seus usufrutuários como prato feito, em serviço de delivery, sob pena de pesadas, automáticas e irrecorríveis sanções.

Pior do que isso. Não são apenas a nebulosa e arisca verdade e o controverso fato que correm o risco de ser proclamados por um definitivo oráculo burocrático. Há algo ainda pior que sai embrulhado na mesma dicção: a análise do fato, a crítica à verdade selada e carimbada e o desagrado com a atividade do oráculo.

Não estamos felizes perdendo a liberdade. E sabemos.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

15/04/2024

 

Percival Puggina

         Na eleição nacional de 2022, dezenas de milhões de brasileiros sabiam o que queriam quando votaram contra a extrema-esquerda, contra o petismo, contra Lula fora da cadeia, contra inquéritos sem fim e excessos do Poder Judiciário, contra urnas sem impressora, contra a corrupção, contra a omissão do Congresso, contra o uso político-ideológico da Educação e contra a abusiva sexualização das crianças movida pela temática de gênero nas escolas.  Esses eleitores, então, votaram em conservadores, em liberais, em candidatos de direita, em apoiadores da Lava Jato e do combate à corrupção.

Se um dia houve uma eleição polarizada, essa foi a eleição de 2022. Todos os eleitores cujas motivações foram descritas acima sabem o quanto aquele pleito foi controlado. Sabem que ali se aprofundou o silêncio imposto durante a pandemia e reduzida a democrática atividade das redes sociais. Podem tapar os fatos com o manto do sigilo e das ameaças, mas esses eleitores viram, sentiram e choraram a mordaça dos conteúdos não compartilhados, dos bloqueios, das “violações dos termos de uso”, etc., sempre voltados ao objetivo comum: fazer com que as mensagens do grupo majoritário e preponderante nesses canais tivesse sua propagação desestimulada, reduzida ou impedida. Tudo previsível. Quem tivesse o poder de influenciar esse espaço de comunicação social à luz do resultado pleito de 2018 e da vitória de Bolsonaro, saberia o que fazer em 2022. E fez.

Pense naqueles milhões de eleitores e na traição de que a maioria deles foi vítima. Votaram em alguém que, no exercício do mandato, se revelou o oposto do que dizia ser. Quase dois terços dos representantes frustraram, roubaram as expectativas de seus representados! Convivem nos embalos do erário com os males e malefícios de que somos vítimas. Dos eleitos por aqueles anseios dos eleitores, não resta mais de uma centena. Todos os demais pularam o muro e sentaram no colo de Lula, do petismo corneteiro. E elegeram os tranqueiras Lira e Pacheco.  

Foi uma dura lição que não poderá se repetir novamente. A eleição de outubro vindouro é municipal, mas é tão relevante para o plano nacional de dois anos mais tarde que o ministro Alexandre de Moraes já remontou e aprimorou a estrutura que usou para apitar a partida de 2022 e quer manter ativa em 2026.

Ela deve ser importante também para nós. Os traidores devem ver nela a porta da rua que os eleitores lhes apontarão em 2026. Se aparecerem por aí no seu município com emendas liberadas e recursos federais, saibam que tais favores são o prêmio da traição. Não valem um infinitésimo do que os generosos doadores nos tomaram! Esses brindes foram pagos com injustiças que gritam aos céus, com vergonha nacional, com o nanismo diplomático, com o tacão do autoritarismo, com uso casuísta da Constituição, com dinheiro que sai da Educação e da Saúde e vai para os parceiros da guerra cultural, com perda de liberdades sem as quais a democracia é apenas uma ridícula “fumacinha” que ficou por aí, volátil resíduo de algo que passou.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

12/04/2024

 

Percival Puggina

       Duas perguntas. 1ª) Onde estão os jornalistas que você conhecia e respeitava por sua atuação inteligente, competente e independente nos principais órgãos de mídia do país? Expurgados de seus postos de trabalho – numa proporção que todos veem e pouco se comenta – migraram para as redes sociais e para as mídias digitais. 2ª) O que você acessa com maior frequência: jornal, rádio, TV ou fontes que já estão na memória de seu smartphone? Pois é.

As redes sociais democratizaram o direito de opinião e expuseram as narrativas fraudulentas da extrema-esquerda. Submetida a um contraditório para o qual não estava preparada, ela viu minguar seu apoio junto à opinião pública. Milhões de eleitores se descobriram liberais, conservadores, de direita.

Os antigos meios de comunicação sentiram a perda de influência e de receita. A mídia digital, para onde se mudou a maior parte dos grandes jornalistas, ganhou importante acréscimo de qualidade. Uma nova geração de jovens estudiosos e talentosos passou a ganhar bom dinheiro nessa atividade.

A revolução cultural, até surgir esse novo fenômeno, avançava sem encontrar resistência, contando com o aparelhamento das universidades, com a militância das redações, com as CEBs e pastorais dos teólogos da libertação e com a segregação de autores conservadores e liberais. Os revolucionários da cultura, em seu combate contra os fundamentos do Ocidente, sempre dispuseram de ativa e poderosa linha de frente formada pela multidão de seus censores. Sim, há muitos anos a censura sobre a divergência e o expurgo dos divergentes é instrumento cotidiano no meio cultural. O produto prático de seu trabalho e a razão de seu sucesso está em que milhões de pessoas foram compelidas a viver e formar suas opiniões sem acesso a qualquer conteúdo conservador ou liberal.

Vitimadas por essa censura cotidiana sobre autores e obras que não lhes era permitido conhecer, sucessivas gerações de alunos entraram e saíram das nossas universidades sem ouvir falar em João Camilo, Gustavo Corção, Mário Ferreira dos Santos, Oliveira Lima, Otto Maria Carpeaux, Nelson Rodrigues e tantos outros. O silencioso enterro de autores e suas obras é bem mais danoso que a crepitante fogueira de livros na praça. (Obs.: meu amigo Olavo de Carvalho era excessivamente notório para ser ocultado, mas era apedrejado.)

A extrema-esquerda é censora por natureza! Onde minoritária, usa a gritaria para impedir que seus adversários se manifestem. Onde majoritária, expulsa-os a gritos, xingamentos e corredores poloneses... Ou não? Coleciono centenas de depoimentos sobre a permanente reiteração dessas ações fascistas. Denomino Censura 1.0 o conjunto de tais práticas.

A Censura 2.0, turbinada, surgiu durante a pandemia, num modelo de teste, com controle exercido sobre as redes sociais e suas plataformas. Suprimir postagens, retirar perfis e/ou desmonetizá-los é um agravado misto de censura de conteúdo com censura prévia e simultânea penalização dos autores. O texto constitucional tornou-se uma anomalia. A novidade veio sob aplausos e intensa colaboração dos prejudicados pelo advento das novas tecnologias: partidos de extrema-esquerda e mídia tradicional.

A censura 3.0, de última geração, já está prometida e organizada para operar nos pleitos municipais de outubro. Para sua implementação, foi instalada, recentemente, a estrovenga tecnológica, policial e jurídica que atende pelo nome de Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia. É uma força tarefa para controlar redes sociais e serviços de mensagens como forma de “proteger a liberdade dos eleitores”. A grande vantagem de quem, prestativamente, se dispõe a tais serviços à nação é seu suposto convívio íntimo com a Verdade, assinalado por afagos no rosto e tapinhas nas costas. Acresça-se a isso o chamego com os fatos, causa do caráter impositivo do ponto de vista e da interpretação que os todo-poderosos lhes dão. Puxa vida! Comovente esse espírito de serviço à “democracia” e à “liberdade de escolha” do eleitor, entregando-lhe a verdade prontinha, tipo delivery, não é mesmo?

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

08/04/2024

 

Percival Puggina

         O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Por isso, os homens de grande poder, quase sempre são homens maus. (Lord Acton, in  Letter to Bishop Mandell Creighton, April 5, 1887)

Essa frase do conhecido historiador britânico que viveu no século XIX é mais conhecida do que ele mesmo. No entanto, em tempos de oligarquia, quando no elegante dizer de Ruy Barbosa se agigantam os poderes nas mãos dos maus, é importante mantê-la em nossa mente, soando seu alerta.

No Brasil onde vejo ladrões serem soltos e receberem de volta o produto de seu roubo, pessoas de bem serem presas e perderem seus direitos e sua liberdade, vejo também milhões de brasileiros de consciência rota, se divertirem com isso fazendo piadas e memes. Quanto tempo no sofá, assistindo à Globo, é necessário para obter esse desastre moral? Quanto tempo para um esquerdista achar que censura é coisa útil e boa, inerente ao regime democrático? Quanto tempo para nossas instituições terem de ouvir de um norte-americano, como Elon Musk, o quanto estão erradas? Por isso, repito: tudo que é podre, um dia cai no chão. Nosso trabalho como cidadãos é sacudir o galho que esteja ao alcance da mão.

No início dos anos 80 do século passado, diante do que víamos acontecer no país, nos reunimos num pequeno grupo de pessoas católicas para criar e ministrar cursos de Formação de Senso Crítico. O tema e o conteúdo se impunham. A sociedade se transformava e se moldava ao ditame dos grandes meios de comunicação, especialmente aos hábitos e condutas induzidas pela poderosa Rede Globo. As novelas comandavam os padrões de consumo, a moda, a linguagem e as rotinas sociais. O resultado podia ser medido em degradação, com afrouxamento dos laços familiares, instabilidade das relações parentais e esvaziamento da autoridade moral.

Os efeitos eram percebidos nas famílias, no embalo das madrugadas festivas, no abandono paterno, nas adolescentes grávidas, na zorra das salas de aula, no alcoolismo juvenil, na expansão do consumo de drogas, no abandono das práticas religiosas, no grande número de divórcios e nos consequentes desarranjos familiares. A lista já era grande.

A equipe do curso, ministrado em paróquias e escolas, tinha apenas cinco pessoas e a demanda ia muito além da nossa capacidade de atendimento. Ainda assim, conseguimos mantê-lo por alguns anos e só se extinguiu quando a atividade particular de seus membros os dispersou para destinos distantes da capital gaúcha.

A grande motivação para a missão que havíamos assumido era aquilo que, então, se chamava “crise dos valores”. Bastava usar a expressão para que todos entendessem a importância e a necessidade daquele conteúdo. Eu ministrava a palestra sobre Valores Morais, dos quais destacava cinco assuntos: Amor, Justiça, Liberdade, Respeito e Honestidade.

A juventude, desde sempre, é alvo prioritário dos inimigos do Bem e dos fraudadores da verdade, que se instruem e se preparam para avançar sobre ela. De nossa parte, cuidávamos de mostrar aos adultos aos quais falávamos que Valores, assim, com V maiúsculo, são bens que se planta e cultiva. Os principais semeadores são as famílias, as escolas e as igrejas.

Crianças, de modo especial, são verdadeiras esponjas de absorver e processar informação. Aprendem do que veem e sentem em palavras, imagens e exemplos, ações e omissões de pais, professores, religiosos, comunicadores.

Lembro que muitas vezes, os casais presentes naquelas palestras se entreolhavam, interrogando-se mutuamente, quando dizia que os pais são mestres, querendo ou não, por ação ou omissão. São mestres do amor ou do desamor, da verdade ou da mentira, da justiça ou da injustiça.

São reflexões que me vem de tempos antigos. Me faz feliz lembrar que, lá atrás, aquele pequeno grupo em Porto Alegre anteviu os primeiros sintomas do que iria eclodir nas décadas seguintes, transformando a crise de valores na guerra de uma civilização contra si mesma.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 

Percival Puggina

03/04/2024

 

Percival Puggina

           Quantas horas no sofá assistindo à Globo são necessárias para levar um ser humano a esse estado de atrofia emocional?

         Minha esperança no Brasil perdeu alguns palmos de amplitude quando li no site do Senado que o placar da pesquisa on line sobre o projeto de anistia do senador Mourão contava 540 mil votos a favor e 532 mil contra. Meu Deus! O que tantos filhos teus têm na mente ou no coração que são capazes de achar de boa justiça sentenças de 14 a 17 anos de prisão para os capturados nos arrastões dos dias 8 e 9 de janeiro de 2023? Passou-lhes pela cabeça que aquelas pessoas – cuja imensa maioria estava pacificamente na praça manifestando opinião num ato de presença – têm família e têm direitos? Que efeitos daninhos produzem nas mentes essa política desajuizada e essa justiça politizada, que tomam para si tanto dinheiro e proteção? E note-se: são os mesmos cidadãos que, de repente, surgem cheios de amor para defender o desencarceramento de bandidos condenados por juízes com a cabeça no lugar!

Esses mesmos que aplaudem com as mãos as condenações em massa, prisões preventivas sem fim, sigilos e espalhafatos do STF afirmam, com a lógica dos cotovelos, que “no Brasil se prende demais”, exceto se os presos forem adversários, bolsonaristas “da direita” ... Como consequência, o Brasil, hoje, tem mais presos políticos do que Cuba. Do que Cuba! Devem achar que os companheiros do regime cubano amoleceram; contudo, “hay que endurecerse”, como receitou seu bem amado Che Guevara.

Não lhes ocorre clamar por penas mais graves quando um estuprador de vulnerável é condenado a somente 10 anos de prisão, dos quais apenas uns poucos serão cumpridos em regime fechado.

Ideologia maligna essa que protege criminosos e os reintroduz nas cenas dos crimes enquanto criticam a polícia, se dedicam a assassinar a reputação de gente de bem e combatem tudo cujo Valor se escreva com “V” maiúsculo.

Quantas horas no sofá assistindo à CNN são necessárias para levar um ser humano a esse estado de atrofia emocional?

Mesmo que lhe tenham tomado a esperança, caro leitor, lembre-se de que muitos se expõem para mantê-la viva. Fazem isso por eles mesmos, claro, e por você. Os acontecimentos são meus grandes motivadores. Sempre aprendi deles e neles nutro meu ânimo, aconteça o que acontecer.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

*      Sobre a pesquisa de opinião a respeito do projeto de anistia: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/160575

Percival Puggina

02/04/2024

 

Percival Puggina

       Em breve, o STF prosseguirá com mais uma das tantas tarefas que resolveu assumir, embora – por todas as razões da razão e do espírito da Constituição – sejam de competência do Congresso Nacional. Do alto de sua onipresença, onisciência e onipotência, o Supremo usará esses três poderes sobrenaturais, divinos, para o feito notável de definir quantos exatos gramas um maconheiro pode portar como limite máximo. Com o ar mais sério do mundo, os ministros ocuparão as cadeiras em torno da mesa e se ocuparão disso. Eu não sabia, mas há fumacinha na Constituição.

Os ministros dizem estar preocupados com a discricionariedade policial. No entanto, o que chamam de discricionariedade, eu chamo de experiência.  É experiência de quem está nas ruas e conhece as “bocas de fumo”. Mais do que a gramatura da apreensão interessa a ficha da pessoa abordada, o local da abordagem, o dinheiro que a pessoa tem consigo e sua atitude. A simples possibilidade de ser o usuário vitimado por um discernimento equivocado do policial que o aborde tem efeito inibidor no consumo. Dá argumento aos pais para orientar os filhos. Aliás, dispensada a experiência dos policiais, do ministério público, dos advogados e dos juízes diante dos casos concretos, toda a sociedade ficará exposta às consequências de uma decisão que o Congresso Nacional, sabiamente, não quis tomar e que a sociedade também rejeita por esclarecida maioria. No Brasil “progressista”, de fumaça e pó, a maioria é sempre a grande discriminada.

Em cinco ocasiões, o Legislativo se recusou a modificar o que está na lei: produzir, transportar, comercializar e consumir drogas é crime. Isso é lei de uma sociedade que entendeu o recado dos fatos a quem tem ouvidos de ouvir e olhos de ver: se está ruim assim, qualquer ato que possa ser visto como permissivo ao consumo será muito pior para todos. Aumentará a demanda e multiplicará os males decorrentes.

Enquanto se aguardam os votos faltantes no plenário do STF, a nação que leva o país a sério olha sem esperança e ilusão para o Congresso Nacional que vive a expectativa de mais um momento de submissão. A PEC 45/23 estacionou na Ordem do Dia do Senado Federal.

A omissão do Legislativo naquilo que lhe compete e sua passividade perante excessos do STF ferem o espírito da Constituição. Você pode ler este artigo e crer que estou exagerando. No entanto, examine a realidade da América Latina. Faça isso como quem vê a realidade a uma distância que o desconecte de seus gostos e desgostos e das figuras de nossa cena política. Faça as observações que proponho como se estivesse embarcado numa estação espacial para observar as ditaduras de esquerda que existem em nosso continente.

Detenha-se, então, nas realidades de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Essas repúblicas, em acelerado empobrecimento, são unidas por um denominador comum: o Executivo nomeia e comanda o Judiciário. As ditaduras de Maduro e Ortega, que não são de partido único, como a cubana, valem-se do Judiciário para conter a oposição parlamentar e preservar tranquila a perpetuidade do grupo governante. As cortes inibem, coíbem e controlam a divergência nos parlamentos, caçam mandatos, impõem inelegibilidades e criminalizam quaisquer ações que representem risco à estabilidade do poder instalado. Impõem censura à comunicação social e instauram o crime de opinião.

Agora, dê uma olhada para o Brasil e responda a si mesmo: “Qualquer semelhança é mera coincidência?”.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

31/03/2024

 

Em certo momento do extraordinário discurso que proclamou aos discípulos na Última Ceia, Jesus disse:

“Eu vos falei tais coisas para terdes paz em mim. No mundo, tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo”.

Na Páscoa de 2024, cravo minha esperança nesse anúncio. Assim como Ele conheceu a morte, o sepulcro e a Ressureição, também nós, brasileiros, haveremos de superar as tribulações em que nos precipitaram estes tempos de corrupção da verdade, da beleza, das virtudes e da justiça.

Desejo a todos uma Páscoa da Ressureição muito confiante e feliz!