• Percival Puggina
  • 23/02/2023
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Galão de água por R$ 93?

 

Percival Puggina

Leio no jornal O Tempo (21/02)

Em meio ao resgate de pessoas e corpos após o temporal da madrugada de domingo (19) em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, há comerciantes aproveitando a tragédia para explorar a população. Alguns deles estão vendendo um litro de água por R$ 93 na região. 

Comento

Obviamente, a informação causa revolta e eu imagina o que diria a quem tivesse o descaramento de me cobrar esse preço por água de beber durante uma tragédia.

Em sequência, novas reflexões se impõem. Isso é o livre mercado? Escassa a mercadoria, seus preços sobem na mesma prateleira onde antes custava menos? Por outro lado (ou até do mesmo lado) enquanto houver quem pague R$ 93 por galão de água, haverá quem o venda por esse preço, não é mesmo? E haverá, também, quem acrescente ser essa a forma de regrar o consumo para evitar o desabastecimento pela formação de estoques privados.

Há uma certa “lógica” nesses raciocínios. Basta que para isso desprezemos um fato tão simples quanto esquecido: nós não somos seres apenas racionais. Somos também sentimentos, inclusive sentimentos morais; não somos apenas matéria; temos, também, uma dimensão espiritual. Somos tendentes ao eterno, ao infinito, principalmente quando pensamos em felicidade. Não somos apenas indivíduos pois temos uma existência social.

Se não fôssemos assim, por natureza, como explicar que, de um modo ou outro, façamos todos os dias, por imposição de consciência, tarefas que nos são penosas ou desagradáveis? Por que tantos se dispõem a ajudar os outros em suas dificuldades? É moralmente errado valer-se do desastre alheio para ampliar de modo expropriatório os próprios ganhos. O desabastecimento pela formação de estoques privados pode ser evitado com a restrição ao número de unidades vendidas por cliente, ora essa!

O sujeito que vendia água por R$ 93 podia alinhar diversos motivos para fazê-lo. Mas não tinha razão, de modo algum, porque há coisas que não se faz. “Punto e basta!” como dizem os italianos.