• Percival Puggina
  • 12/02/2022
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O MUNDO LIVRE SOFRE COM A UCRÂNIA

 

Percival Puggina

 

         Todo drama vivido nestes dias pelos ucranianos é um resíduo perigoso da Guerra Fria. Suscita compaixão mundial e é o mais grave desses resíduos.

Em 1949, cinco anos após o acordo que dividiu a Europa em dois blocos, o das democracias ocidentais e o dos países entregues ao comunismo, foi criada a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Essa organização é um ente multinacional de natureza militar, voltado ao fortalecimento da estrutura de defesa das nações democráticas do Oeste contra o notório expansionismo comunista comandado pela URSS, que tanto sofrimento causou aos países forçados a esse agregado pelo centralismo imposto por Moscou.

Em 1955, esse bloco respondeu à existência da OTAN com a formação do Pacto de Varsóvia (firmado na injustiçada e sofrida Polônia, onde até o vermelho “chique” das camisetas de Che Guevara é hoje proibido!). Entre 1989 e 1991 toda a estrutura do bloco comunista desabou. Dele só subsistem o poderio militar russo, o apetite de Putin pela preservação de seu poder e o sonho imperialista que marcou a história de seu país, antes e depois de 1917.  

Poucas coisas desagradam tanto a Rússia e seu atual líder quanto a adesão de algum de seus antigos satélites à OTAN. Afinal, o artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte requer que os Estados-membros auxiliem qualquer outro que esteja sujeito a um ataque armado. Para a Ucrânia, entrar na OTAN representa uma espécie de graduação para ingresso no mundo das democracias e das economias livres. Para estas, a recepção do país significa retirar do controle russo todo o armamento soviético ali ainda existente, que possivelmente inclua armas nucleares passíveis de cair em mãos terroristas.

Enquanto escrevo estas linhas, governos ocidentais conclamam seus cidadãos a deixarem a Ucrânia. É um sinal sensível da gravidade do momento num país militarmente sitiado, em relação ao qual, por enquanto, só pode o Ocidente ameaçar o potencial agressor com poderosas sanções. E estas implicarão retaliações que serão mundialmente sentidas. É de origem russa 40% do gás utilizado na Europa Ocidental.

Enquanto escrevo estas linhas, Biden está evacuando pessoal da embaixada em Kiev e possivelmente já esteja em curso a conversa agendada para este sábado com Putin. Rezemos pela paz e pela vida, lembrando que todas as guerras são fruto dos totalitarismos e ditaduras. Nunca houve guerra entre duas democracias. Prudentemente afaste de seu cenário eleitoral para o mês de outubro qualquer candidato que revele apreço por governos totalitários como são os de Cuba, Venezuela, Nicarágua, China e Coréia do Norte.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.