• Percival Puggina
  • 09/03/2022
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PALAVRAS QUE O VENTO NÃO LEVOU

 

Percival Puggina

 

         O suicídio político de Arthur do Val está sendo patético. Ele conseguira aquilo que muitos tentam e poucos conseguem, ou seja, sair do anonimato para a fama e desta para o sucesso político-eleitoral num breve espaço de tempo.

A rápida escalada lhe foi proporcionada pelo bom uso de recursos argumentativos e disposição para evidenciar o despreparo da juventude esquerdista em rápidas e corajosas entrevistas de rua. Foi agredido, apanhou, mas continuou seu trabalho com determinação e ousadia.

Meio milhão de eleitores fizeram dele o segundo deputado estadual mais votado de São Paulo.  Dois anos depois, concorreu a prefeito da capital na eleição vencida por Bruno Covas e ficou em 5º lugar. Agora, aspirava ser candidato a governador.   Seu prestígio, portanto, se não cresceu, não foi consumido pelo tempo e resistiu ao desgaste do MBL, grupo político a que pertencia. 

A ideia presente no longo discurso sexista do deputado que viu as loiras da fila como objeto de usufruto e descarte pode ser amplamente observada na vida social. No entanto, jamais deixará de ser desumano e perverso numa perspectiva emocional e moral. A prova disso é que, verbalizado, dá no que deu.

O episódio fornece mais do que isso para se pensar. Será realmente próprio do ser humano ver o sexo apenas como fonte de prazer, lazer e satisfação? Há meio século, em artigo intitulado “A civilização do prazer”, Gustavo Corção, diagnosticou que “O praticante da moral do prazer se torna grosseiro, embotado, às vezes enganosamente aprimorado na conquista de tais bens, e inevitavelmente, como já vimos, se torna exigente de doses maiores...”.