• Percival Puggina
  • 14/03/2015
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QUANDO A MÁ INTENÇÃO É EXCESSIVA

Quando a má intenção é excessiva, até os bobos percebem. Estive lendo algumas matérias de jornais sobre as ditas manifestações de ontem, sexta-feira. Registram os eventos com coloridas estampas onde dominam as bandeiras vermelhas e informam um número estimativo de participantes. Esclarecem que as pautas principais eram a defesa da Petrobras, direitos trabalhistas e preservação do mandato da presidente Dilma. Corretamente, as matérias divulgam que o público era formado, em sua totalidade, por gente da CUT, MST e assemelhados. Bastava olhar as bandeiras para saber isso.

 Havia, porém, outros fatos acontecendo simultaneamente. E o silêncio sobre eles se enquadra na situação a que aludi na primeira frase deste artigo. Quem são essas pessoas que não percebem a contradição intrínseca ao que postulam? Não foi a presidente cujo mandato defendem quem detonou a Petrobras e agora quer lhes suprimir direitos? Quem são essas pessoas que em plena tarde de sexta-feira estão disponíveis para atender convocação de sua entidade e se deslocar para determinado ponto de concentração? Uma vida tão sem compromissos laborais em dia útil seria, no meu modo de ver, mais compatível com "coxinhas". Classes "trabalhadoras" dispensadas de trabalhar? Por quem, cara-pálida?

 Tem mais. O telefone celular e, em especial os iphones, conjugados com as redes sociais, parecem ainda não detectados por muitos profissionais da mídia. Hoje, cada cidadão, com um aparelho desses, é parte de uma agência de notícias onipresente. E enquanto os "do ramo" se atinham à ramagem dos fatos, pessoas comuns, de iphone em mãos, falavam com taxistas, conversavam com os atendentes de restaurantes e bares, registravam onde iam, como se alimentavam e quais as rotinas adotadas por aqueles a quem a mídia denominava manifestantes.

 Pelo Twitter, me informavam sobre os taxistas, a quem os portadores de bandeiras vermelhas pediam recibos das corridas (alguém, portanto, estava custeando aquela modorrenta espontaneidade). Pelo Face me mostravam fotos de coordenadores de grupos distribuindo dinheiro aos participantes e de grupos almoçando em restaurante caro de um shopping de Belo Horizonte. Ali, os manifestantes manifestaram bom apetite e bom gosto, consumindo três garrafas de vinho cujo preço unitário excederia R$ 100. E venha a bendita nota fiscal. Por e-mail, chegavam fotos mostrando filas nas sorveterias imperialistas do Mc Donalds. Via Face, relatos de atendentes de bares e restaurantes que gastaram canetas e talonários fornecendo recibos individuais para cada item consumido. Por e-mail, recebi short clips de manifestantes do MST marchando em filas paralelas de modo a parecerem muitos, sendo poucos, interrompendo o trânsito e criando confusão sem qualquer comunicação positiva com a sociedade (que eles, aliás, foram ensinados a rejeitar). Mas nada disso parece ter sido visto por quem, em tese, teria o dever profissional de estar observando, registrando e comunicando.

 Essa informação deficiente não é inócua. Ela transmite a ideia de duas manifestações antagônicas e semelhantes, ainda que em quantitativos diversos (como necessariamente terá que ser registrado domingo). Contudo, são eventos incomparáveis. Um é manipulado, com participantes remunerados e pautas que se contradizem. O outro é amplamente democrático, vai quem sente que deve, no uso de sua liberdade, por amor ao Brasil e com o desejo de dar um basta à sordidez que se apoderou de nossas instituições.