• Percival Puggina
  • 23/04/2023
  • Compartilhe:

Réus em pacotes de cem

 

Percival Puggina

         Não tenho o hábito de agir impulsivamente. Costumo esperar que as informações cheguem em quantidade e qualidade suficientes para emitir uma opinião que dispense posteriores correções. No entanto, quando começou a invasão dos prédios no dia 8 de janeiro, corri para expressar, num artigo cujo título é “Um erro descomunal”, total rejeição ao que assistia. Tenho repulsa por quem protagoniza cenas de vandalismo como as praticadas nos prédios dos três poderes. Hoje, sabe-se que as coisas não eram como pareciam ser.

Não é menor, porém, minha rejeição à justiça assimétrica, que nem se importa com disfarçar suas motivações pessoais quando se precipita, com o push de um recordista como Usain Bolt, atrás de quem a desagrada e parece ter artrose no quadril se o alvo é “mero” inimigo da sociedade. 

Pensando nisso, espero ver bem esclarecida a informação de que os vídeos a que assistimos – tomados no interior do Palácio do Planalto durante o dia 8 de janeiro – foram entregues pelo GSI à PGR e ao STF. Se isso de fato aconteceu, providências imprescindíveis deixaram de ser tomadas.

Por outro lado, algo também me inquieta desde que li, pela primeira vez, a notícia de que o STF está votando em plenário virtual a denúncia da PGR que torna réus uma centena de presos envolvidos naqueles inadmissíveis acontecimentos. Esse número, esse lote de 100... dá a impressão de um “Passa a régua, empacota e logo que der me manda outro tanto”. Mais ou menos como se encomenda tijolo da olaria. Fica difícil inferir, de algo assim, a cuidadosa individualização das responsabilidades. Não digo impossível, digo difícil, bem difícil. Pode ser um número bom para empacotar processos, mas para julgar, convenhamos, não é bom. Não é bom, mesmo!