Quem será vice de Bolsonaro?

Percival Puggina

26/06/2022

Percival Puggina

 

                  A tensão emocional entre prefeitos, governadores, presidentes e seus vices é clássica e farta em evidências históricas. Nos casos extremos, eles rompem relações e o vice conspira contra o titular; nos casos moderados, o vice acaba alijado. Muitas vezes, por não ser objeto de voto nominal, o vice é eleitoralmente desconsiderado.

Creio ser por isso que Bolsonaro ainda não informou quem será seu vice, embora muitos saibam que sua preferência vai para o general Braga Neto, habilitado à participar da eleição após exonerar-se do cargo de ministro da Defesa. No entanto, como bem registra a Gazeta de Povo, a deputada Tereza Cristina tem a preferência da base político-partidária do governo.

Bolsonaro talvez esteja dividido. Braga Neto tem sua estrita confiança, mas pouco agrega politicamente à chapa. Provavelmente nem em Minas Gerais, seu estado natal, o nome do general atraia votos significativos para o presidente.  Tereza Cristina, por sua vez, agrega um perfil feminino e político à chapa presidencial. Também é competente e habilidosa, o que lhe viabilizou a proeza de ser ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Dilma (2011-2014) e de Bolsonaro (2019-2022). É uma unanimidade no Agro nacional.

O momento eleitoral aponta para a conveniência de uma composição que gere ganho político e Bolsonaro tem, na deputada por Mato Grosso do Sul, uma boa solução ao alcance da mão. Ademais, uma segunda chapa militar pura pode fornecer discurso à oposição.   

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Vivendo e aprendendo

Percival Puggina

25/06/2022

Percival Puggina

 

Quase meio século depois, revertida decisão de 1973, os Estados norte-americanos podem votar leis restritivas ao “direito” de abortar. Espera-se que pelo menos 24 Estados adotem legislação nesse sentido.

Já em 1973 a questão dividia a opinião pública. De lá para cá, num verdadeiro genocídio, a cada ano, mais de um milhão de fetos foram dispensados como lixo humano nos EUA.

Enquanto isso, aqui no Brasil, uma menina de 11 anos abortou um bebê de 24 semanas, apesar de determinação em contrário da juíza do caso, com base no precipitado atendimento de uma recomendação do Ministério Público Federal.

Aqui como lá, a mídia tutora da opinião pública  defende o aborto e reprova a juíza brasileira e os justices da Suprema Corte. Aqui como lá, os defensores do aborto confundem motivos pessoais com razões da razão sem perceber que motivos pessoais podem ser atenuantes ou agravantes de um homicídio, mas não são autorizações para matar. Nem criam para o Estado a obrigação de cometer o ato criminoso conveniente aos motivos da mãe.

Grupos humanos, em condições selvagens e primitivas de vida, têm o hábito cultural de matar seus bebês do sexo feminino ou portadores de anomalias. Veem essas condições como motivos para matar bebês, mas parece difícil encontrar em ambiente civilizado quem se disponha a “militar” em favor da preservação desse “direito”.

Vivendo e aprendendo”, afirma antigo chavão. Vivendo, a gente aprende o quanto o interesse próprio é determinante de “argumentos” que não se sustentam perante princípios como o do direito à vida, ou à liberdade, ou à propriedade, que sequer seriam contestados em ausência do interesse próprio...

O presidente Biden qualificou a decisão da Suprema Corte como “erro terrível”, o que, por consequência, transforma um amontoado de fetos humanos, depositados em lata de descarte hospitalar, num esplêndido acerto.

Olhe um berçário de maternidade e uma lata dessas e me diga onde há algo muito errado. 

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Eleições democráticas x eleições brasileiras – 2

Fernão Lara Mesquita, em O Vespeiro

24/06/2022

 

Fernão Lara Mesquita, em O Vespeiro

 

O Brasil discute apaixonadamente a insegurança das urnas e tem boas razões para isso. Ninguém recheia pacientemente um supremo tribunal com militantes, anula irreversivelmente as três instâncias do Poder Judiciário abaixo dele resgatando um criminoso condenado para enfia-lo diretamente na eleição e mata a pau o Poder Legislativo inteiro ao derrubar três votações democráticas maciças dos representantes eleitos do povo mandando imprimir um comprovante do voto alegando razões futeis porque esteja bem intencionado. Tirar da eleição o caráter de argumento indiscutível da pacificação nacional que a transparência da contagem dos votos lhe confere em todas as democracias do mundo certamente não vale os caraminguás que se quer "economizar" negando ao eleitorado brasileiro um comprovante do voto que ele possa ler.

Mesmo assim, na merda em que estamos a questão da urna chove no encharcado!

A "fraude", quando "aparece", verdadeira ou "falsa", consiste na pessoa votar num nome e seu voto ser transferido para outro pela máquina. Mas o fato é que o otário do eleitor brasileiro vota numa pessoa e elege outra sem o concurso de qualquer hacker. No sistema do voto proporcional essa transferência fraudulenta já é operada PELA LEI. Só 15 a 20% da fauna que habita os legislativos brasileiros, conforme lembrou artigo publicado ontem por José Serra em O Estado de S. Paulo, foi eleita por votos em sua pessoa. 80 a 85% dela ganhou o poder de ditar-nos leis "de carona".

Hoje essa fraude sistematizada está delimitada ao interior de cada "partido político" criado e sustentado pelo Estado. Até 2020 rolava até entre partidos diferentes, desde que estivessem mancomunados numa mesma "coligação".

O resultado é esse que está aí. O eleitor não sabe quem elegeu e o eleito não deve lealdade a ninguém senão ao "dono" do partido em que se homiziou. E sua única missão na vida passa a ser a de defender o sistema sem o qual jamais se elegeria e reelegeria, os menos ruins para ter privilégios vitalícios e hereditários às custas do favelão nacional, os mais iguais à média para assaltá-lo impunemente. 

E enquanto rasga-se assim, já não digo a nossa constituição drogada e prostituída, coitada, mas até a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, a imprensa nacional das redações franqueadas aos "jornalistas" formados no "sistema educacional" criado pela fauna dos 15 a 85%, dança em frenesi a dança do "estado democrático de direito" em torno da fogueira da ignorância (e não só da ignorância) como um bando de anacrônicos pajés de uma tribo institucionalmente primitiva.

O resto da tragédia nacional é mera consequência.

Leia o restante do artigo aqui: https://vespeiro.com/2022/06/24/eleicoes-democraticas-x-eleicoes-brasileiras-2/

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Percival Puggina

 

          Durante as quase duas décadas em que trabalhei numa grande empresa nacional de engenharia de projetos, tive oportunidade de admitir muitos estagiários, através do excelente serviço prestado pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE-RS), instituição privada, sem fins lucrativos, altamente benéfica para o treinamento de estudantes em suas áreas de formação, junto às empresas. De lá para cá, a instituição cresceu e ampliou, em muito, suas atividades.

Os procedimentos eram simples. Aberta vaga para estágio, a empresa solicitava envio de currículos dos pretendentes já inscritos no sistema e, posteriormente os entrevistava. Os jovens admitidos eram incorporados e recebiam atenção especial supervisores dada a natureza pedagógica implícita em sua participação nas atividades da empresa.

Por isso, foi com pesar que li hoje (20/06) em ZH, matéria sobre uma pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) que escrutinou o desempenho de 59.776 concorrentes a vagas, concluindo que “83,5% foram reprovados por apresentarem conhecimento gramatical insuficiente”.

No entanto, sublinho eu, ainda há quem diga que isso não é importante, que não se pode confrontar o aluno com o ambiente cultural de onde procede e que cada um se comunica como quer e pode – o que são verdades em inúmeras circunstâncias e condições de vida – mas não tem validade para outras em que dificulta o acesso ao trabalho e a remuneração.

Não surpreendem os dados da tabela que ilustra a matéria e está reproduzida acima. Os piores resultados foram constatados entre estudantes de Pedagogia. Insistentemente tenho apontado, com a concordância de bons mestres, expandir-se aí uma das raízes do problema. Há questões teóricas e ideológicas mal elaboradas nos cursos ligados à Educação! E há, também, problemas sociais pendentes de solução através dos séculos em nosso país, problemas que só a Educação poderá resolver. Nossa maior riqueza, cujas potencialidades são superiores a qualquer dos fatores de produção, está no conjunto daquilo que os indivíduos podem, consciente e dedicadamente, com educação de qualidade, desenvolver em si mesmos.

Já é daí que, embora insuficiente, vem muito do que somos. Contudo, só sentaremos orgulhosamente entre as grandes nações da terra, só alcançaremos um bom nível de bem estar social quando a formação da nossa gente estiver elevada a um bom padrão de suficiência. Em outras palavras: quando estudantes estudarem, professores ensinarem e as comunidades, com suas elites políticas, sociais e econômicas se preocuparem e se ocuparem disso.

Então, a prosperidade e o bem estar social advirão de modo irresistível, como irresistíveis são as forças da natureza. Esse é o ignorado ensinamento de tantos povos!

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A guerra de fakes russa

Luis Dufaur

17/06/2022

Luis Dufaur


“Toda a história humana é a história da arte de enganar”, instruiu o general Alexander Vladimirov apresentando seu livro 'Teoria Geral da Guerra' numa escola de cadetes em Moscou. (Russian International Affaires Council. Moscou 15-04-2014)
Ele é vice-presidente do Colégio de Especialistas Militares da Rússia e um mestre na técnica de iludir no noticiário e nas ações da guerra.
Em russo é a “maskirovka”, ou “pequeno baile de máscaras”, em Ocidente se usa “guerra psicológica”, de “guerra da informação”, e os mais modernos “fake news” e “guerra híbrida”.
A Crimeia foi invadida por “pequenos homens verdes” desarmados e sem insígnias trazidos em caminhões militares sem identificação.
A evidência era de soldados russos, mas a mídia ocidental insistia em não saber de onde vinham.
Putin disse em conferência de imprensa que eram “patriotas voluntários” de férias, mas, cinco semanas depois, glorificou o operativo das tropas russas, não se incomodando com a contradição.
A mentira deu retorno e foi das maiores vitórias da “maskirovka”.

“A estratégia russa, fora e dentro do país, é dizer que a verdade não existe”, explicou à BBC
Peter Pomerantsev, que trabalhou anos na TV russa. “É um tipo de cinismo que tem muito eco no Ocidente, ... e os russos confiam nesse cinismo e o usam num contexto militar”, explicou.
A Rússia aprimorou o uso da mentira até a perfeição, registrou a jornalista Lucy Ash da BBC.
Na rua Savushkina nº 55 de São Petersburgo Putin mantinha uma central de “guerra da informação” que espalha na Internet palavras de ordem com milhares de pseudônimos.
O nome oficial é Internet Research Agency e é chamada 'fábrica de trolls'.
“O termo deriva da expressão trolling for suckers (enganando os trouxas)”.
Os trolls (enganadores) todo dia recebem uma instrução técnica como esta do 28 de fevereiro: “Ideia central: criar a opinião de que oficiais ucranianos estavam envolvidos na morte do oposicionista russo”.
Os comentários não devem ser identificáveis ideologicamente e devem parecer bem documentados para viralizar em artigos, comentários e tuites pró-russos.

Outra jornalista, a finlandesa Jessikka Aro entrou entre “os propagandistas pro Kremlin nas redes sociais” e ficou estarrecida: eles faziam uma guerra invisível para assediar, desalentar, intimidar e caluniar.
O general Valeri Gerassimov, atual chefe do Estado Maior russo (morto em combate segundo Kiev, ou vítima de expurgo em Moscou), explicou no semanário Military-Industrial Courier:
“as guerras não são mais declaradas, mas simplesmente começam e prosseguem por vias que não são familiares. O uso escancarado das forças militares é só para a fase final do conflito”.
“A nova forma de guerra não pode ser caracterizada como campanha militar”, diz o Centro de Pesquisas para a Segurança e a Estratégia da Letônia.
E Dmitry Kiselyov, tido como “o chefe propagandista do Kremlin” sublinha que hoje a “guerra de informação” é “a forma primordial de guerra”.
Outro favorito de Putin e filosofo ocultista Alexander Dugin prega uma “revolução conservadora” enquanto “oligarcas” putinianos transmitem atraentes promessas para os movimentos conservadores do mundo.
Nem sempre Putin as cumpre, o importante é enganar, por interesse estratégico, sem moral.
O referido general Gerassimov, insistiu na Academia Militar de Moscou: “as fronteiras entre a guerra e a paz se apagaram no século XXI”.
Hoje a ofensiva visa submergir o inimigo no caos mental espalhando fakes que apagam os limites entre o real objetivo e a ficção pré-fabricada.

“El Mundo” de Madri observa que muitos direitistas acreditam mais no líder russo do que nos nacionais.
“Die Zeit” vê muitos alemães acreditar mais em Putin do que no próprio chanceler; agentes da FSB (ex- KGB) infiltraram a campanha eleitoral de Trump.
Jeanne Smits ex-diretora do jornal “Présent” de Le Pen espantou-se com “tradicionalistas” católicos invertendo a mensagem de Fátima em favor da Rússia contra o Ocidente, e defendendo até que o Espírito Santo saiu de Roma após o Concílio Vaticano II e se instalou em Moscou.
Essa ofensiva bate na tecla de que a “nova Rússia” é o baluarte da moral tradicional cristã diante de ideologias do tipo LGBT, da ideologia de gênero, anti-vida, anti-família, etc., subprodutos da Nova Ordem Mundial com que hiper-capitalistas afogariam Ocidente, omitindo que esses males existem em grau exacerbado na própria Rússia.
Jeanne Smits registrou até o exagero de apresentar Putin investido da “missão providencial” de salvar o cristianismo.
Como fazer desaparecer a Igreja Católica dizendo ao mesmo tempo que está sendo salva por quem a extingue?
Smits fornece exemplos. Um “próximo entre os próximos” de Vladimir Putin, o multibilionário Konstantin Malofeev sustenta o think-tank Katehon do citado ideólogo gnóstico Alexander Dugin onde o “tradicionalista” Charles Upton defende que a “nova-Rússia” e o Patriarcado de Moscou vão salvar a Igreja de Ocidente, extinguindo os Papas de Roma.

Smits conclui que se ela fosse da KGB não agiria de outro modo para espalhar que a Igreja Católica fracassou.
A professora Cécile Vaissié, da Universidade de Rennes 2, especializada em Estudos Soviéticos e Pós-Soviéticos e autora do livro Les réseaux du Kremlin en France (As redes do Kremlin na França), mostra que as redes de propaganda sub-reptícia da URSS, outrora centradas no “pacifismo” nos últimos anos assumiram bandeiras “conservadoras” e de “extrema direita”.
Na realidade, diz ela, essas são práticas da velha KGB que fazem as pessoas perder o senso e impedem que entendam o que está acontecendo.
Alexeï Komov, representante do Patriarcado de Moscou nos Congressos Mundiais da Família, defende que a Revolução Bolchevista de 1917 nada teve de russa.
Ora, essa Revolução instalou o comunismo, proclamou o amor livre, legalizou o divórcio e instalou o aborto sem limites. 

Mas Komov, “convertido” pelo Patriarcado de Moscou em defensor da família, escapuliu-se da contradição alegando haver um “milagre” na Rússia que faz renascer os valores tradicionais da família e da tradição e que o regime de Stalin “acabou mais favorável à família” .
A estratégia falseia conceitos e posições para ludibriar as vítimas e Dugin comemora:

“Nós os embaralhamos passando do direitismo ao esquerdismo e vice-versa. Seduzimos ao mesmo tempo a extrema-direita e a extrema-esquerda” (Dugin).

*      Publicado originalmente em https://flagelorusso.blogspot.com/ em 29/05/2022.

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Ciro e seu adversário

Percival Puggina

12/06/2022

 

Percival Puggina

 

         Nestes dias que antecedem o início da campanha eleitoral presidencial, os marqueteiros dos candidatos, especialmente os de Bolsonaro e Lula, estão selecionando suas armas de guerra e suas estratégias para a campanha eleitoral. Todo esse material será convertido em peças publicitárias e serão disparadas desde as respectivas trincheiras, tanto para fragilizar o adversário diretamente quanto para suprir munição aos próprios eleitores e candidatos apoiadores nas eleições proporcionais.

A posição de Ciro Gomes, candidato mais forte fora da dupla, já parece bem definida. Conhecido como homem de esquerda, por não medir palavras e por seu gênio explosivo, Ciro sabe que precisa reconstruir sua imagem e tirar muitos votos de alguém para somar ao que tem como eleitorado próprio e chegar ao segundo turno. Isso significa que até o dia 2 de outubro (1º turno), seu adversário é Lula. Ciro precisa conquistar os votos do eleitor de esquerda que perdeu a confiança no ex-presidiário e está fazendo o seu trabalho, dando trancos em Lula ciente de que isso será lido como elogio a Bolsonaro nas comparações que faz.

Ao mesmo tempo, transformou-se num gentleman, num “Cirinho paz e amor” empenhado em “pacificar e unir o país”. Há um prêmio disponível a quem conseguir imaginar Ciro Gomes pacificando algum ambiente conflituoso. Mas é por essa trilha que ele pretende ocupar o lugar de Lula no 2º turno da eleição presidencial.

Já em relação a ele, a estratégia dos candidatos que ponteiam a corrida não inclui embate frontal. Em outubro, precisarão buscar esses eleitores, não convindo, então, confrontá-lo desnecessariamente. Vida mansa para suas estratégias de campanha nos próximos meses.

Na minha perspectiva, porém, o Brasil que eu quero de volta não virá com um retorno à esquerda, seja pelas mãos de quem for. Tanto para a nação brasileira quanto para o importante papel que o país precisa desempenhar na geopolítica destes tempos desarvorados, isso seria desastroso.

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