O DIA EM QUE PUTIN SE TORNOU TERRORISTA

Percival Puggina

01/03/2022

 

Percival Puggina

          

         Durante o período das ameaças recíprocas, Putin preparava a invasão e desdenhava as sanções que seriam impostas pela OTAN dizendo-se suficientemente precavido para que elas não afetassem a Rússia.

Putin atacou, então, uma nação livre, valendo-se dos mesmos argumentos de Hitler (lebensraum, ou espaço vital) e fazendo a roda da História girar no sentido inverso. Enquanto este falava na unidade do povo germânico (1), Putin sonha com “recompor” uma suposta unidade do povo eslavo (2). Não gosto desse tipo de coisa.  Fazendo uma analogia, pergunto: e se aparecer alguém, na América, querendo restabelecer a unidade do povo ibérico (ou, quem sabe, visigodo) no continente? Loucura imperialista, coisa de quem se crê regente geral da História.

O ditador russo soube, desde a invasão da Crimeia (2014), que não haveria reação militar por parte da OTAN contra a invasão da Ucrânia. Ao virar terrorista, ele já tinha conhecimento das manifestações populares de rejeição à invasão em todo o mundo livre. (Do jeito em que as coisas andam talvez fosse melhor falar em mundo mais ou menos livre, ou mais livre do que o mundo dele, Putin, mas vá lá.)

No entanto, quando o que era previsível se tornou evidente, com as sanções postas em prática, com a Bolsa caindo 45%, com os papéis russos sendo cotados como lixo, com o rublo perdendo 30% de seu valor, Putin adotou a mais insana de suas reações e comunicou ter colocado suas instalações nucleares em alerta máximo.

Isso não é uma cartada. O nome é terrorismo! É apostar no terror subsequente à ameaça. Num mundo onde existe armamento nuclear bastante para explodir todos os planetas do sistema solar, ameaçar usá-las é um ato contra a humanidade inteira.

Com a palavra o povo russo, a quem cabe dar um jeito nesse cara.

  1. Conjunto dos povos primitivos que povoavam a Europa ao norte do Império Romano.
  2. Conjunto de povos primitivos que povoavam o leste da Europa.
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E OS FATOS PEDEM SOCORRO

Percival Puggina

25/02/2022

 

Percival Puggina

 

Eu faço esse tipo e coisa. Li todo o pronunciamento do ministro Fachin ao tomar posse como presidente do TSE... Li e guardei. Por ora, vou me deter em apenas dois pontos.

No primeiro, o ministro fala sobre a imprensa.

Quem almeja a paz, portanto, também reconhece o papel da imprensa livre e efetivamente respeitada em todas as suas prerrogativas, na garantia do pluralismo democrático.”

Onde está essa imprensa que o ministro vê exercendo suas prerrogativas na garantia do pluralismo democrático e cobrando respeito? Certamente não no coro uniforme dos grandes grupos de comunicação; nem no silêncio do consórcio dessas empresas em relação ao que não convém tornar conhecido; nem no seu cavernoso silêncio ante o ativismo judicial dos nossos tribunais superiores.

No segundo, fala sobre as redes sociais (sem as mencionar diretamente).

Nada menos de 11 vezes, em diferentes momentos, Fachin menciona o tema da informação. Foi o que ele mais enfatizou, dirigindo-se, sempre, sem o referir, aos espaços de protagonismo direto da sociedade na comunicação.

Em contrapartida, se há algo irrepreensível na comunicação social é o que ele chama, genericamente, mas com endereço bem específico, de imprensa. E o vice-versa é verdadeiro: para a essa imprensa, se há algo insusceptível de crítica nas instituições nacionais, são nossos tribunais superiores.

O ministro, então, se volta ao que denomina “circuito desinformativo”. Menciona o “Programa de Enfrentamento à Desinformação”; clama pelo “protagonismo da verdade no sistema informativo”; afirma que o tal “circuito desinformativo impulsiona o extremismo”; põe lupa sobre as “armadilhas da pirataria informativa”; denuncia a “normalização da mentira” e reitera o “combate à desinformação”.

Tudo certo, ninguém quer desinformação, mentira e pirataria, mas a contradição grita nas entrelinhas! O discurso mede a comunicação da sociedade nas redes com uma régua, e com outra a comunicação dos grandes veículos. Entende-se. Foi a democratização do direito de opinião, extinguindo o monopólio dos grandes veículos, a principal causa da derrota da esquerda em 2018. É sobre elas e só sobre elas, então, que incidem agora os rótulos e as suspeitas. Sobre elas, e só sobre elas, se aplicam censura, ameaças, articulações, acusações.

Por isso, se depreende do discurso que o ministro bebe da grande imprensa a verdade na mais cristalina de suas formas, sem fake news, nem fake analysis, nem factoides, nem omissões, nem acordos, nem conivências, nem conveniências. 

Essa imprensa assim idealizada só pode existir na unanimidade que a caracteriza. E os fatos passam a pedir socorro.

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Percival Puggina

 

         O modo como os grandes grupos de comunicação noticiaram a transferência da presidência do TSE para o ministro Edson Fachin só se explica pela decadência de seu jornalismo. O antagonismo do ministro ao presidente da República e o emprego de chavões de nítida matriz ideológica já disponibilizariam vasto repertório a todo jornalismo ciente de sua missão.

Muito mais, contudo, foi servido e jogado às redes sociais como restolho desprezível. Enquanto o ato em si criava um clima de guerra aos que, em seu delírio, os ministros imaginam ser a síntese dos eleitores de Bolsonaro, o novo presidente da Corte eleitoral lascou: "Paz e segurança nas eleições com o máximo de eficiência e o mínimo ruído, é o que desejamos".

Sobre isso, Mara Montezuma Assaf escreveu:

“E quando foi que nas campanhas não tivemos paz e segurança? Somos um povo ordeiro, ministro, com exceção de uns bandos que tomam as avenidas para quebrar portas de vidro de bancos ou de lojas... mas essas manifestações passam por democráticas aos olhos da lei, não é? O senhor fala como se o período  das campanhas eleitorais fosse o caos no Brasil. Não, ministro, nunca foi. Mas o que o senhor deseja mesmo com  o "mínimo ruído possível", é nos amordaçar durante a campanha para que as redes sociais não bombem o nome de Bolsonaro ou  as críticas justas aos outros candidatos”.

Boiada ainda maior passou acriticamente pela mesma porteira, sob  olhos e ouvidos da mass media subalterna. Disse Fachin:

“Senhoras e senhores, em breve iniciaremos nossa gestão. E há robusto conjunto de desafios que encontraremos. Segurança cibernética, por exemplo, é um item essencial. Há riscos de ataques de diversas formas e origens. Tem sido dito e publicado, por exemplo, que a Rússia é um exemplo dessas procedências. O alerta quanto a isso é máximo e vem num crescendo. A guerra contra a segurança no cyber espaço da Justiça Eleitoral foi declarada faz algum tempo. Deixemos dito de modo a não pairar dúvida: violar a estrutura de segurança do Tribunal Superior Eleitoral abre uma porta para a ruina da democracia. Aqueles que patrocinam esse caos sabem o que estão fazendo para solapar o Estado de Direito”.

Deixo ao leitor a conclusão sobre o quanto essas palavras contradizem as arrogantes certezas do ministro Barroso.

De minha parte, como cidadão, preocupa-me ver o Tribunal enfrentando crescentes dificuldades geradas pelos seus próprios fantasmas e pela forma autoritária e politicamente alinhada como tem pretendido lidar com eles. É uma perspectiva em que os condenados são inocentes e os inocentes se tornam objeto de todas as suspeitas.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 

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CHINA: ARREMATANDO A EUROPA

Judith Bergman, Gatestone Institute

15/02/2022

 

 Judith Bergman
 

 

- Impressionantes 40% dos 650 investimentos chineses na Europa entre os anos de 2010 e 2020, segundo Datenna (uma empresa holandesa que monitora os investimentos chineses na Europa), tiveram "alta ou moderada participação de empresas estatais ou controladas pelo Estado".

- Quando o presidente da Comissão de Assuntos Estrangeiros do parlamento britânico, Tom Tugendhat, escreveu que a compra pelos chineses da fábrica britânica de microchips Newport Wafer Fab "representava uma ameaça significativa para a economia e segurança nacional", o Secretário de Negócios do Reino Unido, Kwasi Kwarteng respondeu que o negócio tinha sido "considerado tim-tim por tim-tim". Somente após uma considerável pressão, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson concordou em realizar uma reavaliação de segurança nacional em relação à venda.

- Sistemas eficientes destinados a bloquear investimentos estrangeiros com base em apreensões de segurança nacional parecem não existir ou simplesmente não estarem sendo utilizados o suficiente.

- As "mais rigorosas estruturas de monitoramento" indubitavelmente não estão contendo as aquisições chinesas.

- O que ao que tudo indica ser urgentemente necessário na Europa agora é uma compreensão mais aprofundada da ameaça que a China representa, bem como a vontade política de agir frente a esta ameaça. A tomada de medidas é urgentemente necessária para que se bloqueie dar de mão beijada investimentos que proveem os ativos estratégicos da Europa para as empresas estatais da China, que o Partido Comunista Chinês usa para promover seus objetivos Por mais de uma década, a China vem comprando sorrateiramente empresas europeias de setores estratégicos, principalmente no âmbito da tecnologia e energia. Ao que tudo indica, a China está fazendo uso desses bens europeus no sentido de facilitar as ambições do Partido Comunista Chinês (PCC) de se tornar uma potência global, tecnologicamente independente do Ocidente e, em última análise, suplantar os EUA como a superpotência econômica, política e militar do planeta.

A China vem acobertando as aquisições europeias, ostensivamente fazendo de conta que são investimentos comerciais. Ela oculta as empresas estatais envolvidas nos investimentos atrás de "níveis de propriedade, complexas estruturas acionárias e negócios executados por meio de subsidiárias europeias", de acordo com a Datenna, uma empresa holandesa que monitora os investimentos chineses na Europa. Impressionantes 40% dos 650 investimentos chineses na Europa entre os anos de 2010 e 2020, segundo Datenna, tiveram "alta ou moderada participação de empresas estatais ou controladas pelo Estado, incluindo algumas de tecnologia avançada".

(Leia mais em https://pt.gatestoneinstitute.org/18235/china-arrematando-europa). 14/02/2022

** Original em inglês: China: Buying Up Europe

**Tradução: Joseph Skilnik

 

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A INFLAÇÃO NÃO ENTENDE DE AMORES

Ernesto Pérez Chang, em CubaNet

14/02/2022

Nota do editor do site: Seria bom se todos lessem. Este artigo descreve a situação de pobreza em que vive a quase totalidade da população cubana. Apenas a nomenklatura e o alto comando das empresas privadas alinhadas com o governo escapam dessa realidade. Hoje é Dia dos Namorados em Cuba e assim os pares cubanos vivem a data.

Ernesto Pérez Chang

HAVANA, Cuba.- “Sair para comer? Passar o dia na praia? Você está louco? Felizmente, 14 de fevereiro cai em uma segunda-feira e não é feriado”, responde uma amiga quase gritando depois de perguntar o que ela fará neste dia de amor e amizade. Como é dia de trabalho, ele vai aproveitar para ser quem esqueceu a data e assim economizar o dinheiro do presente. “O momento não é de presentinhos”, me conta, e logo relaciona as coisas que faltam comprar na casa para chegar “mais ou menos vivo” no final do mês.

“Compre um pacote de frango no mínimo, que já está em torno de 800 (pesos), porque é difícil arrumar um exceto, para quem não trabalha e pode ficar na fila; uma garrafa de azeite, que desaparece e quando ressurge lhe cobram 300 pesos”, lamenta a jovem enquanto aumenta sua lista de compras pendentes que, possivelmente, se o dinheiro não aparecer em breve, ficará como um inventário de desejos não realizados: arroz, purê de tomate, detergente, sabão, um par de sapatos para substituir aqueles que não suportam mais remendo.

Tudo a preços de mercado negro (onde só é possível encontrar coisas sem tantas dificuldades) soma mais de dez vezes o salário mensal da jovem que não é trabalhadora braçal, mas professora universitária, como o marido. Mas nem mesmo entre os dois estão conseguindo lidar com esses tempos em que a crise econômica adquiriu ainda maior intensidade.

Embora a maioria das pessoas com quem falei sobre os planos para este 14 de fevereiro tenham concordado em ignorar a celebração, devido à situação econômica pela qual estamos passando, há quem ainda corra o risco de chegar no vermelho em março, endividado com algum agiota do bairro, para ter uma noite romântica próxima da que imaginaram com a parceira.

Assim fará Dayán, um jovem estudante do segundo ano de Educação Física que trabalha como personal trainer em uma academia nos fins de semana, e de quinta a domingo à noite como garçom em um restaurante particular e, quando tiver oportunidade, também como "massagista com happy end", exclusivamente para mulheres, principalmente estrangeiras. Mas nem assim conseguiu juntar o suficiente para o presente que prometeu à noiva: levá-la ao Hotel Nacional, que promove vários jantares e espetáculos "para o Dia dos Namorados", e aproveitando a ocasião, dar-lhe um anel.

“O Hotel Nacional é um dos mais baratos que encontramos porque os jantares nos paladares e os espetáculos são encomendados. Nada inferior a 10 mil pesos (...) Quando você acha que já tem dinheiro, acontece alguma coisa, o tênis quebra ou você tem que comprar coisas para a casa, minha mãe não dá conta de tudo sozinha (...), eu vou conseguir dinheiro emprestado e o dinheiro e depois vejo o que faço para pagar”, diz o jovem.

Por sua vez, Armando, torneiro mecânico de uma oficina estatal, vai abrir mão de presentes tradicionais para levar dois pacotes de frango para sua esposa, presente semelhante ao do ano passado, quando comprou quatro pacotes de carne moída do açougue em seu bairro (esse sonho de consumo é regulamentado apenas para crianças) e um pacote de máscaras sanitárias.

 “Tem que se adaptar aos tempos. A inflação não entende o amor. Antes era o perfume, as flores, mas nada disso se come. O pouco dinheiro extra que ganho na oficina, tenho que economizar. Minha esposa já entendeu que temos que deixar este país. Ela estava antes com a bobagem de que sim o presentinho e sim a comida do dia 14. No ano passado ela mesma me disse, você me dá comida e pronto, o dinheiro que a gente está ganhando é para pegar um avião para qualquer lugar", diz Armando.

Este Dia dos Namorados será como tantas outras "datas especiais" que os cubanos serão obrigados a aceitar como um dia tão cinzento como qualquer outro no meio de tantas desolações que nos invadem, embora não como um "dia normal" porque, como outro amigo me respondeu, a vida cotidiana em Cuba é feita de dezenas de “doenças” e “absurdos” novos e velhos. Dificuldades que no resto do mundo seriam uma exceção, um acidente, são o "anormal" em nosso cotidiano.

Vivemos em um país que mais parece um acampamento militar, tendo a fatalidade de alguns governantes que não trabalham para alimentar um povo, mas para que o povo os alimente.  Vivemos em um país onde compramos com uma moeda com a qual não nos pagam, onde nos sentimos privilegiados quando ganhamos um pouco de dinheiro — quase sempre ilegalmente — e vamos a uma loja do MLC, onde sonhamos que nossos filhos se casem com um estrangeiro para que possam ir embora e prosperar. Aqui, o estudo e o esforço pessoal não garantem o sucesso. Assim, com tantos exemplos e reflexões sobre a situação crítica que vivemos na Ilha, muitos entrevistados responderam a uma pergunta tão simples como o que farão neste 14 de fevereiro?

E é que é uma questão que provoca reações tão furiosas, pois leva diretamente à questão vital da inflação, do dinheiro, de como a vida se tornou insuportável devido ao poder aquisitivo nulo da moeda nacional, devido à obrigação de comprar moeda estrangeira no mercado negro, simplificando nossas “prioridades” a uma: sobreviver a tantas adversidades que nos cercam, seja pela pandemia (o contágio é o menor medo de quem tem geladeira vazia), seja pela ausência de verdadeiras liberdades, e pelos efeitos catastróficos de um “cada um por si” que o regime chama de “tarefa de ordenação”, “continuidade”, “resistência criativa”, porque nisso são “criativos”.

Tanto assim que os apaixonados pelo "sistema" esperavam algum "presente" do governo para o dia 14 de fevereiro, algo como o anúncio do fechamento das lojas no MLC ou a venda de dólares nas Casas de Câmbio (CADECA), ficaram devidamente satisfeitos, mas apenas com vários dicas do Ministro da Economia, em conferências de imprensa e na televisão, onde deixou bem claro que tudo vai ficar tão mal quanto eles queriam, ou ainda pior. Suas mais recentes intervenções — com um riso sarcástico até o fim —, quase na véspera deste 14 de fevereiro, depositaram nele uma dose mais do que suficiente de antipatias, mas isso não deve afetá-lo em nada, afinal, às vezes, ódio, intenso e insano, é um sentimento que suplanta o amor.

 

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O MUNDO LIVRE SOFRE COM A UCRÂNIA

Percival Puggina

12/02/2022

 

Percival Puggina

 

         Todo drama vivido nestes dias pelos ucranianos é um resíduo perigoso da Guerra Fria. Suscita compaixão mundial e é o mais grave desses resíduos.

Em 1949, cinco anos após o acordo que dividiu a Europa em dois blocos, o das democracias ocidentais e o dos países entregues ao comunismo, foi criada a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Essa organização é um ente multinacional de natureza militar, voltado ao fortalecimento da estrutura de defesa das nações democráticas do Oeste contra o notório expansionismo comunista comandado pela URSS, que tanto sofrimento causou aos países forçados a esse agregado pelo centralismo imposto por Moscou.

Em 1955, esse bloco respondeu à existência da OTAN com a formação do Pacto de Varsóvia (firmado na injustiçada e sofrida Polônia, onde até o vermelho “chique” das camisetas de Che Guevara é hoje proibido!). Entre 1989 e 1991 toda a estrutura do bloco comunista desabou. Dele só subsistem o poderio militar russo, o apetite de Putin pela preservação de seu poder e o sonho imperialista que marcou a história de seu país, antes e depois de 1917.  

Poucas coisas desagradam tanto a Rússia e seu atual líder quanto a adesão de algum de seus antigos satélites à OTAN. Afinal, o artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte requer que os Estados-membros auxiliem qualquer outro que esteja sujeito a um ataque armado. Para a Ucrânia, entrar na OTAN representa uma espécie de graduação para ingresso no mundo das democracias e das economias livres. Para estas, a recepção do país significa retirar do controle russo todo o armamento soviético ali ainda existente, que possivelmente inclua armas nucleares passíveis de cair em mãos terroristas.

Enquanto escrevo estas linhas, governos ocidentais conclamam seus cidadãos a deixarem a Ucrânia. É um sinal sensível da gravidade do momento num país militarmente sitiado, em relação ao qual, por enquanto, só pode o Ocidente ameaçar o potencial agressor com poderosas sanções. E estas implicarão retaliações que serão mundialmente sentidas. É de origem russa 40% do gás utilizado na Europa Ocidental.

Enquanto escrevo estas linhas, Biden está evacuando pessoal da embaixada em Kiev e possivelmente já esteja em curso a conversa agendada para este sábado com Putin. Rezemos pela paz e pela vida, lembrando que todas as guerras são fruto dos totalitarismos e ditaduras. Nunca houve guerra entre duas democracias. Prudentemente afaste de seu cenário eleitoral para o mês de outubro qualquer candidato que revele apreço por governos totalitários como são os de Cuba, Venezuela, Nicarágua, China e Coréia do Norte.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

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