• 24/06/2016
  • Compartilhe:

NA FRENTE DA MANGUEIRA DA LAVA JATO
Percival Puggina

 Ontem (23/06), cumprindo ordens judiciais da operação Custo Brasil, prendendo conhecidos dirigentes petistas, a PF também vasculhava o diretório nacional do PT. Enquanto isso acontecia, o secretário de comunicação do partido, diante da sede, caminhava e discursava, furioso, sobre enorme banner estendido no pavimento. Nele, uma grande imagem de Eduardo Cunha dividia espaço com dizeres onde se lia "Tchau ladrão!", seguido de uma interrogação: "E o Temer?".

Indo e vindo sobre a faixa, o orador reclamava: "Eu não vejo os companheiros do PT irem à casa do Cunha". E sobre essa suposta duplicidade de conduta, tecia seu discurso. Ora, enquanto, com razão, o orador atacava o desonesto Cunha, ele mesmo produzia uma desonestidade intelectual, um sofisma, ou seja, corrupção do raciocínio lógico para induzir a uma conclusão errada. Sim, sofisma é corrupção. Corrupção da lógica. Aliás, trata-se de um dos instrumentos mais recorrentes na argumentação de tantos políticos: dane-se a verdade, o que importa é convencer. Como escrevi anteriormente, ninguém enche os bolsos com dinheiro alheio sem, antes, ter sido um mentiroso porque a mentira é o primeiro e necessário degrau na deformação do caráter. Na política, o segundo é o sofisma. O terceiro é o assassinato de reputações. E por aí vai a escada até penetrar a intimidade dos cofres.

O sofisma repetido com exaltação pelo secretário de comunicação do PT consistia em desconsiderar o fato de que caso do réu Eduardo Cunha está no STF. Enquanto não for cassado pelo plenário da Câmara dos Deputados, ele conserva a prerrogativa de foro. Mas Cunha já tem um bilhete aéreo em aberto para Curitiba, que será usado tão logo seu mandato seja tomado pelo plenário da Câmara dos Deputados. É claro que o secretário de comunicação do PT sabe disso tudo, mas nesse degrau da escada a verdade já deixou de ter importância há bom tempo.

Creio que vale a pena aproveitar o tema para explicar a diferença entre doações legítimas e ilegítimas em campanhas eleitorais. Cumpridos os requisitos legais, todo recurso que um candidato receba da sua direção partidária e contabilize devidamente na respectiva prestação de contas é presumivelmente legítimo. O que está revelando ilegítima a recepção de muitos desses valores são as investigações que a Lava Jato vem conduzindo a partir da prisão de diretores das grandes empreiteiras. Ao iniciar por eles as prisões e condenações, a operação desvendou o lado obscuro desses recebimentos, obtendo evidências da participação direta de parlamentares na cobrança de valores, a título de propina, nos respectivos feudos partidários rateados em órgãos e empresas estatais.

Quem acha que pode parar a Lava Jato com gritaria, sofismas e ardis, vai acabar na frente da mangueira por obstrução à justiça.