• 24/08/2021
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DAVA PARA FAZER UMA SÉRIE DA NETFLIX

 

Percival Puggina

 

         Refiro-me ao misterioso caso de “um certo sítio em Atibaia”. Aliás, esse foi o título de artigo que escrevi em 16 de novembro de 2018. Nele, relato as peripécias de um desconhecido rapaz, de nome Fernando, que sonhava com ter um confortável sítio na Serra de Itapetinga para afetuosos encontros familiares. Um dinheirinho daqui, outro dali, juntou o suficiente para adquirir uma propriedade. Antiga e mal cuidada, demandava novos investimentos. Fernando, porém, tinha a têmpera dos vencedores. Para empreitada, ninguém melhor do que a maior empreiteira do Brasil.

Requisitado, Marcelo Odebrecht deslocou gente de suas hidrelétricas, portos e plataformas de petróleo, subiu a serra e assumiu a encrenca: casa, alojamento, garagem, adega, piscina, laguinho, campinho de futebol. Tudo por Fernando e para Fernando. A cozinha, porém, não correspondia, às expectativas do exigente rapaz. E veio para Atibaia a segunda maior empreiteira do Brasil. A poderosa OAS de Leo Pinheiro encarou a sofisticada engenharia de forno e fogão. E então, ooops! Telefonia ruim, sinal de internet fraco! A Oi, conhecida por sua dedicação aos clientes, acionada, correu para instalar uma torre na serra e atender à demanda do desconhecido cliente Fernando.

Quando tudo estava pronto, surge Lula, como retirante – com mulher, filhos, netinhos e se instala para ficar. Anos mais tarde, já no curso de um processo penal, a Polícia Federal foi inspecionar o estabelecimento e não encontrou um palito de fósforos que pudesse ser atribuído ao desafortunado e desalojado Fernando. Do pedalinho ao xarope para tosse, incluindo adega, santinha de devoção, estoque de DVD, fotos de família, era tudo de Lula.

O ex-presidente foi condenado pela juíza Gabriela Hardt a mais de 11 anos de prisão e o TRF-4 aumentou a pena. Nos três anos seguintes, o STF foi desencadeando uma sequência de mudanças de “convicção” que cortou a água da Lava Jato. Acabou com a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, deixou de lado as anteriores rejeições a pedidos de habeas corpus em favor do réu, Curitiba deixou de ser o juízo natural para o caso de Lula, afirmou a suspeição de Sérgio Moro, declarou nulas as provas do processo e a juíza de Brasília, Pollyana Coelho Alves, por óbvia falta de provas (!), encerrou o caso.

Dava ou não dava para fazer uma série da Netflix contando estes fatos que transitam acriticamente nos grandes noticiários, para os quais é preciso que os críticos do STF nunca tenham razão?