• Gilnei Lima
  • 21/03/2016
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ABIOGÊNESE, A GERAÇÃO ESPONTÂNEA

 

Falar mal de políticos (e de política em geral) é um hábito de todos nós. Fazer críticas e comentários sobre improbidades e roubalheira é uma constante.


O que pouquíssimos de nós percebe é que, todo é qualquer político, que são representantes dos cidadãos, são nossos parentes, parentes de alguns parentes, amigos de parentes, gente que conhecemos ao longo da vida; foram nossos vizinhos ou estudaram na mesma classe ou na mesma escola. Quem sabe trabalharam nas mesmas empresas ou foram colegas, diretos ou indiretos.


De um modo ou outro estamos ligados a todos os políticos eleitos, sem exceções.


A distância que projetamos dos homens e mulheres da classe que atua na política, nos remete ilusoriamente à um planeta distante, como se não vivêssemos nas mesmas cidades, estados ou país.


O que mais pesa na nossa falta de consciência, é que agimos como se a culpa sempre fosse de outros, e não nossa própria. Tal como se políticos brotassem em árvores ou surgissem por geração espontânea, que é um fenômeno da biologia.


A TEORIA DA GERAÇÃO ESPONTÂNEA E A POLÍTICA

Percebam a relação direta que existe, quando refletimso sobre a geração espontânea, da qual muitos acreditam (inconscientemente) ser a origem de agentes políticos, que é conhecida como abiogênese. Esta é um teoria tão antiga que existe desde Aristóteles.


De acordo com ela, a vida poderia surgir espontanea e continuamente da matéria bruta. Algumas observações feitas por pessoas comuns, no dia-a-dia, pareciam reforçar essas ideias: o fato de aparecerem larvas de insetos sobre o lixo em decomposição, por exemplo, alimentou a ideia de que as larvas teriam “brotado” do lixo, pois não se conheciam os detalhes da reprodução dos insetos.


A circunstância de girinos surgirem na água de uma poça, de um dia para outro, parecia ser a prova de que tinham se originado diretamente da lama da poça. A descoberta dos microrganismos, depois da construção do microscópio pelo holandês Anton Van Leeuwenhoek, no século XVII, representou mais um argumento a favor da geração espontânea: não se podia imaginar que seres tão simples pudessem possuir qualquer método de reprodução.


A situação chegou a tal ponto que, por volta do século XVII, o belga Van Helmont anunciou uma famosa “receita” para obter ratos, a partir da mistura de roupa suja com sementes de trigo! Pouco tempo depois, no entanto, o italiano Francesco Redi demonstrou por meio de um engenhoso experimento, que o surgimento de larvas na carne em decomposição não se dava espontaneamente, mas sim a partir de moscas que ali depositavam seus ovos.


Uma famosa polêmica entre os defensores e os atacantes da doutrina da abiogênese iria instalar-se, no século seguinte, entre o inglês John Needham (defensor das ideias de geração espontânea) e o italiano Lazaro Spallanzani. O inglês realizou várias experiências utilizando-se de variados “caldos nutritivos”, constatando seguidamente a proliferação de microrganismos em seus recipientes.


Spallanzani acusou, então, Needham de não ter procedido com a total eliminação dos micróbios em seus caldos. Para demostrá-lo, repetiu os experimentos de Needham levando os caldos à fervura e em seguida fechando-os bem: não havia, nesse caso, o crescimento de microrganismos enquanto os frascos não fossem novamente abertos. Mas Needham retrucou, acusando Spallanzani de ter destruído, pelo calor, o “princípio vital” de suas infusões nutritivas.


Por mais estranho que nos pareçam essas ideias hoje, a crença na geração espontânea perdurou até meados do século XIX, quando finalmente o francês Louis Pasteur conseguiu derrubar essa teoria da maneira definitiva, por meio de alguns experimentos simples porém muito corretos em sua formulação.


Esta é a eterna discussão entre a ilusão propagada como verdade absoluta a um grande grupo de ignorantes - que a aceitam como serviçais imbecis –, e alguns que defendem a divulgação da verdade para eliminação de insetos, germes e bactérias.


O maior de todos os problemas é que a infecção nas coisas da política não é bacteriana, mas viral, e para a qual não há vacina conhecida desde a invenção da urna eletrônica. Enquanto as moscas depositam ovos para criação de vermes, nós depositamos votos.


Todos nós somos os propagadores de uma praga que deveria servir como remédio.

*Jornalista