• Sebastião Ventura
  • 09 Abril 2025

 

 

Sebastião Ventura

            O voto concede poder. E poder político é mando e organização social. Todavia, em uma democracia autêntica, autoridade não é autoritarismo, independentemente de onde venha o poder exercido. Tais conceitos básicos se esvaem em um tempo no qual os significados perdem sentido. Na desconstrução estrutural do presente, assentada na ruptura de padrões tradicionais e no desmonte cultural da razão superior, não é somente a democracia, mas a própria civilização que está em risco.

Sim, os conceitos de paz e prosperidade são construções sociais recentes. Historicamente, a humanidade passou por longos períodos de guerras, pestes e misérias absolutas. A longevidade era baixa, a mortalidade infantil altíssima, a pobreza era regra, a riqueza, exceção majestática. Aliás, faz menos de 100 anos que o mundo viveu um conflito armado de larga proporção que devastou a Europa e, após anos de destruição e ruína absoluta, só chegou ao fim com o uso do poder atômico e consequente estabelecimento de um novo norte de hegemonia global.

Com o fim da Guerra Fria, o poder hegemônico se consolidou sob a direção de Washington, possibilitando a implantação de pautas capitalistas de largo alcance com geração de prosperidade, desenvolvimento econômico, científico e impressionante aprimoramento da qualidade de vida e do bem-estar humano. Por certo, algum sabujo indagar-se-á: quer dizer, então, que todos os males sociais foram resolvidos? Ora, é lógico que não, até mesmo porque a gravidade da hora dispensa ingenuidades juvenis. Agora, negar os avanços promovidos pelo capitalismo é fechar os olhos para a realidade evidente, preferindo-se a cegueira ideológica que usa a ignorância e a miséria dos que ainda sofrem para mantê-los na agonia da dor e da pobreza. Na verdade, como o progresso os ofende, preferem mentir despudoramente.

Infelizmente, a mentira elege fácil, pois ser verdadeiro exige o peso da responsabilidade e o compromisso com valores pessoais. No inverno das virtudes, os sistemas de poder se tornam ocos, sendo preenchidos por perigosos gases asfixiantes. Por assim ser, as democracias perdem vitalidade, reduzindo o espaço público a um jogo de interesses rasteiros, sem visão superior e despido de raízes de sustentação. A consequência é direta: a política decai, fulminando a crença dos cidadãos nas instituições republicanas. Entre angústias e desmandos, a esperança por justiça se torna premente, mas a relativização da legalidade a torna ilusória. Onde não há lei, as injustiças se tornam reais.

O Estado teoricamente de Direito passa a ser uma ilegalidade prática. Como último freio, chama-se o poder togado para resolver problemas que a política democrática se tornou incapaz de resolver, seja por covardia, omissão ou ausência de espírito público. Sobre o ponto, em artigo seminal, o general americano Charles J. Dunlap Jr. cunhou a expressão “lawfare” para indicar o uso da legalidade para fins bélicos, vindo a pontuar a “evidência perturbadora de que o Estado de direito está sendo sequestrado em outra forma de luta (lawfare), em detrimento de valores humanitários, bem como da própria legalidade”. A manobra, através de expedientes jurídicos de ocasião, embrulha matérias políticas fundamentais em ações judiciais, colocando na decisão jurisdicional o exercício de opções democráticas de titularidade prioritária da política.

O fato é que, por maior que seja o talento do julgador, não terá ele o poder de consertar ou suprir o exercício político responsável. Afinal, política democrática não se faz com um homem só. Plenamente ciente das imperfeições da democracia, bem como dos limites da jurisdição constitucional, o grande Oliver Wendell Homes afirmou: “if my fellow citzens want to go to Hell I will help them. It’s my job.”. A expressão do notável juiz americano, antes de indiferente fatalismo, expõe que há escolhas democráticas que, independentemente de serem boas ou más, estão acima do poder de interferência judicial. Até mesmo porque, entre escolhas erradas, a cidadania aprende a escolher certo. E, entre erros e acertos, entre idas e vindas, a democracia aprimora-se como instrumento pulsante de poder.

No cair da noite, os desafios da contemporaneidade exigem prudência máxima. A busca de atalhos apenas acelerará imprevisíveis processos de ruptura. Com tato e sensibilidade, o resgate institucional da democracia não se fará por litígios, mas pela hábil construção de pautas majoritárias que impactem a vida das pessoas. Antes de bravatas, precisamos de lideranças públicas e privadas com capacidade de dizerem palavras sinceras que cativem a confiança dos cidadãos em um projeto de futuro factível. Tudo com respeito, altura e dignidade. Com verdade e sem ilusões. Uma força democrática séria, honesta e com a simplicidade que faz conquistar. Enfim, valores que somos e que precisamos representar.

*           Publicado originalmente em Dynamic Mindset – https://dynamicmindset.com.br/capitalismo-e-progresso/

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 08 Abril 2025


Gilberto Simões Pires

 

CONSEQUÊNCIA

Mais do que percebido, como bem atestam as substanciais e sistemáticas desvalorizações dos preços dos ativos negociados nas bolsas de valores, o mundo todo está jogando toda a culpa do DESASTRE ECONÔMICO/FINANCEIRO nas -MALDOSAS TARIFAS- impostas pelo governo Trump. O fato, entretanto, é que, em meio ao entrevero poucos conseguiram perceber que a imposição das TARIFAS não é CAUSA, mas a CONSEQUÊNCIA dos DÉFICITS CRÔNICOS E GIGANTESCOS DA BALANÇA COMERCIAL NORTE-AMERICANA. 

PASSO CERTO

Digo -POUCOS-, porque segundo informa o jornal Washington Post, os BRITÂNICOS, ao invés de ficar choramingando, saíram na frente e acharam por bem se oferecer para REDUZIR AS TARIFAS impostas, por exemplo, sobre as importações de carne bovina e dos peixes pelos EUA. Gostem ou não, esse é o PASSO CERTO para dar início ao que manda a NOVA ORDEM COMERCIAL MUNDIAL que foi deflagrada no Liberation Day, pelo presidente Donald Trump. 

PROTECIONISMO

Ainda que muita gente, influenciada pela Mídia Socialista, entenda que a imposição das TARIFAS foi um -ATO PROTECIONISTA-, o fato é que NÃO HAVENDO IMPOSIÇÃO TARIFÁRIA de parte dos países que compram dos EUA, Trump afirma que não vai impor TARIFAÇÃO. A rigor, para que fique bem claro, quem vinha praticando o PROTECIONISMO eram os países que impunham TARIFAS sobre os produtos vendidos pelos EUA.   

BRASIL TARIFÁRIO

No caso do nosso país, é importante que todos tenham em clara mente que mais de 86% das importações brasileiras estão sujeitas a algum tipo de barreira não tarifária. Mais do que sabido, as empresas brasileiras são altamente COMPETITIVAS vistas através do que acontece no lado de dentro. Tão logo os produtos estão prontos para serem colocados no mercado, à disposição dos eventuais compradores, o governo trata de destruir por completo com esta vantagem, através de burocracia excessiva, grande má vontade e altíssima CARGA TRIBUTÁRIA. 

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 05 Abril 2025

 

Alex Pipkin, PhD


            O Brasil atual é o império da mentira escrachada e das falácias. Em especial, a falácia do espantalho. Falácias dominam os discursos em diversas esferas no cenário político, jurídico ou econômico. A distorção dos argumentos alheios, transformando-os em caricaturas simplificadas e desprovidas de contexto, tornou-se uma prática recorrente, contribuindo para uma cultura de mediocridade intelectual e, por consequência, para um ambiente de mentira e manipulação da realidade.

No campo jurídico, a falácia do espantalho se apresenta de forma flagrante na atuação de figuras como o ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF). Em vez de uma interpretação justa e equilibrada da Constituição, o que vemos é uma distorção dos argumentos da oposição para construir uma versão - ou ficção - simplificada e atacável de suas posições. Durante a crise do 8 de janeiro, por exemplo, as manifestações legítimas de insatisfação com o governo foram deslegitimadas e transformadas em uma tentativa de golpe, sem considerar o contexto e a complexidade dos eventos. O uso da falácia do espantalho aqui é evidente: em vez de discutir a liberdade de expressão e os limites da manifestação política, o ministro e outros membros do STF preferiram simplificar o debate, atacando uma versão distorcida de seus opositores.

É importante lembrar que, em episódios anteriores, como o quebra-quebra nas instalações dos três poderes em Brasília, a avaliação foi completamente diferente. Naquele momento, manifestantes do MST invadiram os prédios, destruíram mobiliários e enfrentaram a Polícia Militar, mas a reação judicial foi branda. Mesmo com a gravidade dos atos, como tentativas de invasão e destruição de bens públicos, não houve a mesma pressão judicial e as punições foram mínimas. Isso contrasta enormemente com o tratamento que as manifestações de 8 de janeiro receberam, com penas altíssimas e condenações aceleradas. A cabeleireira Débora, que escreveu “perdeu, mané” com batom em estátua, por exemplo, foi condenada a 14 anos de detenção!

Esse tipo de reação seletiva revela a distorção da justiça, que se mostra ideologicamente motivada e desonesta, favorecendo narrativas convenientes. É um reflexo claro de como a justiça tem se tornado uma ferramenta de perseguição ideológica, em vez de cumprir seu papel com imparcialidade.

Tal disparidade no tratamento jurídico desses eventos ilustra a falácia do espantalho, com uma versão distorcida sendo criada para justificar um posicionamento ideológico.

No que se refere ao jogo da “grande mídia”, esse é o de criar uma “realidade paralela”, em que a verdade é distorcida e as pessoas se tornam meros espectadores de um espetáculo manipulador.

O mesmo comportamento também é evidente na economia, especialmente quando se aborda a questão da intervenção estatal. O discurso liberal, que defende a não intervenção do Estado nos mercados, é frequentemente simplificado e caricaturado pelos críticos. Em vez de discutir as razões pelas quais o mercado deve operar livremente, muitos opositores acusam os defensores do liberalismo de quererem “acabar com os direitos sociais” ou “deixar os pobres à própria sorte”. Essa falácia do espantalho diminui a complexidade do argumento, atacando uma versão simplificada que não reflete a profundidade do pensamento liberal.

Esse modo de agir contribui diretamente para a polarização política e o aumento do ódio e da divisão social. O uso da falácia do espantalho é uma ferramenta eficaz para criar um ambiente de hostilidade, pois permite que as discussões se transformem em um campo de batalha ideológico, em que os adversários são reduzidos a caricaturas e as ideias são tratadas de forma superficial. A distorção dos argumentos enfraquece o debate político e enfraquece a democracia, pois impede que questões complexas sejam abordadas de maneira honesta e equilibrada.

Em vez de uma análise profunda e objetiva das ideias, a discussão política se tornou um jogo de desqualificação, onde quem se opõe à ideologia progressista é atacado e deslegitimado por meio de versões simplificadas e distorcidas de suas ideias. Esse tipo de retórica, que constrói inimigos fictícios para atacar, acirra ainda mais a polarização, separando a sociedade em campos ideológicos antagônicos, nos quais a verdadeira troca de ideias é substituída por uma guerra de narrativas.

A falácia do espantalho, como se vê, não é apenas uma falha lógica, mas uma estratégia deliberada que visa desviar o foco das questões reais. Ao atacar versões simplificadas e distorcidas das ideias de seus opositores, aqueles no poder criam uma narrativa confortável que apaga as falhas do próprio sistema e enfraquece o debate público.

Para que o país seja, de fato, mais justo e equilibrado, é necessário ir além da caricatura das ideias e buscar as verdades mais profundas, por mais desconfortáveis que elas sejam. A manipulação da realidade, distorcendo as ações e intenções dos adversários, apenas perpetua a crise de confiança e a divisão social. Só com uma mudança de mentalidade, que valorize o pensamento crítico e o debate honesto, será possível superar essa era de mediocridade e da mentira. Não podemos permitir que a falácia do espantalho continue sendo usada para justificar injustiças e perpetuar um ciclo de engano.

Somente assim se construirá um ambiente mais saudável, em que as ideias são debatidas com respeito e onde a verdade prevalece sobre as narrativas distorcidas que apenas perpetuam a divisão e o ódio.

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 04 Abril 2025

Gilberto Simões Pires

OXIGENAÇÃO CEREBRAL

Antes de tudo convido os leitores, notadamente aqueles que têm interesse em exercitar e oxigenar o cérebro, a ingressar na fantástica -SALA DO RACIOCÍNIO-, onde a CAPACIDADE DE PENSAR se manifesta de forma altamente positiva. Detalhe importante: quanto menor a resistência para o entendimento e/ou aceitação daquilo que é tido e havido como -LÓGICO-, mais o CÉREBRO colabora para o importante desenvolvimento do RACIOCÍNIO. 

SEMPRE FOI ASSIM...

Mais do que sabido, tem certas coisas que pelo simples FATO de existirem há muitos anos, ou algo do tipo -SEMPRE FOI ASSIM...- isto é mais do que bastante para que a maioria dos cidadãos não questione, ou mesmo coloque em dúvida, sobre a real e efetiva necessidade de sua existência ou imposição. 

 UM BANCO CENTRAL É INCOMPATÍVEL COM UMA ECONOMIA LIVRE

Pois, embora já tenha dedicado alguns editoriais tentando explicar que é totalmente DISPENSÁVEL a existência de um BANCO CENTRAL, desta vez aproveito o brilhante e esclarecedor texto -UM BANCO CENTRAL É INCOMPATÍVEL COM UMA ECONOMIA LIVRE- escrito pelo ex-congressista republicano do Texas, e candidato à presidente dos EUA em 1988, Ron Paul, . Eis: 

 CONTROLE DE PREÇOS É ALGO VILIPENDIADO

Controle de preços é algo vilipendiado quase que universalmente pelos economistas.  As consequências negativas de se impor preços mínimos e preços máximos são numerosas e muito bem documentadas. Por outro lado, os economistas não só aceitam normalmente, como também debatem entusiasmadamente, a mais importante, porém menos compreendida, manipulação de preços que ocorre no mundo atual: a manipulação das taxas de juros.

Ao determinar a taxa básica de juros – que nada mais é do que a taxa à qual os bancos fazem empréstimos entre si no overnight com a intenção de manter os níveis de reservas bancárias (compulsório) determinados pelo Banco Central – o Banco Central assume o lugar dos participantes do mercado, que é quem teoricamente deveria determinar os juros através de suas ações, compatibilizando a oferta de poupança com a demanda por ela.

O Banco Central e o governo federal não ousam fixar os preços da madeira, do aço, dos automóveis e dos imóveis.  Entretanto, quando o Banco Central determina a taxa de juros – e pelo fato de esta ser o preço do dinheiro para aquele que contrai empréstimos, o que afeta toda a demanda por dinheiro -, ele está afetando os preços de toda a economia de uma maneira menos explícita, porém tão deletéria quanto um controle direto de preços.

 ECONOMIA PLANEJADA

O exemplo da União Soviética já deveria ter nos ensinado que nenhum indivíduo, nenhum grupo de pessoas, não importa sua capacidade científica, pode arbitrariamente determinar preços sem que isso gere caos econômico.  Somente a interação espontânea dos participantes do mercado pode levar ao desenvolvimento de um sistema de preços que funcione corretamente e que permita que as necessidades e desejos de todos os participantes sejam satisfeitas.  A sensação que fica quando se lê as atas do Banco Central é que a taxa de juros é frequentemente determinada de acordo com os caprichos e fantasias dos diretores da instituição. Os defensores dizem que há critérios científicos por trás de cada escolha.  Entretanto, mesmo explicações mecanicistas como a Regra de Taylor dependem de estatísticas que ficam totalmente a critério dos burocratas do Banco Central: qual o PIB potencial, qual índice de inflação será utilizado, qual segmento deve ser desconsiderado (alimentos, energia, educação), etc.  No fim, o que temos é uma economia centralmente planejada.

Quando os agentes de mercado são obrigados a gastar boa parte de seu tempo tentando descobrir a próxima jogada desses fixadores de preços, analisando cada frase das declarações e das minutas do Comitê de Política Monetária, eles necessariamente se afastam das atividades econômicas produtivas.  Eles deixam de ser atores econômicos e forçosamente se tornam prognosticadores políticos.  Este não é um problema econômico isolado, uma vez que as empresas também têm de levar em consideração outras intervenções estatais, como aumento de impostos, isenções fiscais expirantes, tarifas de importação, subsídios aos concorrentes, etc.  Entretanto, como a taxa de juros determina o custo dos empréstimos e, consequentemente, determina se investimentos de longo prazo devem ou não ser empreendidos, essa manipulação estatal tem um impacto muito maior do que outras políticas governamentais.

É a manipulação dos juros que causa os ciclos econômicos. Quando os juros se tornam artificialmente baixos, o mercado é distorcido e os empreendedores são levados a fazer maus investimentos – investimentos que não fazem sentido à luz dos recursos presentemente disponíveis (que parecem maiores do que realmente são).  Esses investimentos irão ocorrer nos estágios mais remotos da estrutura do capital, isto é, nos estágios da produção mais afastados dos bens de consumo final.  Porém esses investimentos não serão sustentáveis a longo prazo, pois não há poupança real disponível para tal (os juros foram diminuídos artificialmente).  Quando o padrão normal de consumo for readotado, esses investimentos revelar-se-ão inúteis e a recessão será a consequência.  Esses investimentos errôneos não teriam acontecido caso o banco central não tivesse brincado com os juros e tivesse permitido que eles informassem o preço e a quantidade real dos recursos disponíveis.

Até entendermos os resultados que essas ações do Banco Central provocam, a economia estará fadada a repetir esses períodos abruptos de expansão e recessão.  É imperativo que se entenda que não pode existir livre mercado enquanto houver um banco central.  Se o preço do dinheiro, que é preço mais importante da economia, é determinado pelo governo, então estamos vivendo sob uma economia planejada.

PANAMÁ

A propósito, entre os países que EXTINGUIRAM O BANCO CENTRAL está o Panamá, sabidamente um dos países menos endividados das Américas (58.4% de dívida / PIB, contra 128% dos EUA e 93% do Brasil). Que tal? 

 

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  • Dartagnan da Silva Zanela
  • 29 Março 2025


Dartagnan da Silva Zanela

             Podemos realizar muitas coisas, boleiras, porém, não podemos fazer nada que preste quando estamos tomados, até o tutano, pela dita-cuja da má vontade.

E é claro que jamais iremos admitir que somos movidos por essa impostura, pois não acreditamos, de jeito-maneira, que somos embalados por ela.

Na real, muitas vezes nos recusamos a tomar consciência disso porque, se nos tornássemos cônscios desse mal, teríamos de aboli-lo de vereda.

Ou, como diria Platão: verdade conhecida, verdade obedecida.
 
Ela, a verdade, como todos nós sabemos, é desconcertante, principalmente quando nos apresenta um retrato cristalino das más inclinações que nos guiam.
 
Inclinações essas que assimilamos quando nos habituamos a fazer pequenas tarefas de qualquer jeito, simplesmente para cumprir uma formalidade.

E a nossa sociedade, desde tenra idade, nos apresenta inúmeras ocasiões para agirmos bem desse jeitão para nos configurar ao contínuo desleixo.
 
Por isso, o cumprimento de nossas pequenas obrigações, como nos lembra Simone Weil, seria algo similar à prática de uma oração; uma oportunidade singular para exercitarmos a autodisciplina, que é a base de uma vida virtuosa.
 
Ora, quando ensinamos nossos filhos a se esmerar na feitura de um trabalho escolar, por mais simples que ele seja, estamos ensinando-os valores que irão robustecer o caráter da gurizada. Robustez essa que impactará profundamente a vida deles.
 
Agora, quanto os pais nem mesmo procuram acompanhar a vida escolar dos seus filhos e, ainda por cima, não os tratam como sujeitos responsáveis por tudo aquilo que eles fazem ou deixam de fazer, ao invés de ajudar os infantes a crescerem com um caráter vigoroso, eles estarão apenas fragilizando-os, abrindo caminho para que eles se tornem adultos infantilizados, de coração mimado, que imaginam que todos devem acatar os seus caprichos.
 
Lembremos: educar, em grande medida, é contrariar os desejos desordenados que imperam no coração humano. É saber dizer não.

Preparar uma criança para a vida madura é levá-la a aprender, abnegadamente, a servir ao próximo, de forma digna, útil e generosa; o que é bem diferente do ato vil de nos servirmos dos nossos semelhantes.
 
Em resumo, podemos colocar tudo a perder, quando não compreendemos o sentido das pedras que foram levianamente retiradas do meio do caminho.

  
*       O autor, Dartagnan da Silva Zanela, é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 29 Março 2025

 

Alex Pipkin, PhD


          Vivems uma era da mediocridade, em que afirmar que necessidades são direitos se transformou em dogma inquestionável.

Essa mentalidade coletivista, amplamente difundida por políticas assistencialistas e discursos populistas, propaga a falsa noção de que qualquer carência deve ser suprida pelo Estado - e, por consequência, por outros indivíduos, independentemente de sua vontade. O problema dessa visão não é apenas econômico, mas, principalmente, moral: quando se diz que alguém tem direito a algo sem precisar conquistá-lo, se está a afirmar que outra pessoa tem a obrigação de fornecer esse algo, queira ou não. Isso não é justiça, é coerção disfarçada de solidariedade.

Se essa lógica fosse levada às últimas consequências, por exemplo, qualquer um poderia exigir que um médico lhe prestasse atendimento sem remuneração ou que um empresário contratasse funcionários sem considerar seus custos. O que é isso, senão uma forma de escravidão justificada pela necessidade? O que poucos percebem é que, quando o Estado assume esse papel de provedor universal, ele não gera riqueza para cumprir suas promessas, apenas a transfere à força, retirando de uns para dar a outros. O que começa como uma promessa de justiça social termina como uma política de coerção institucionalizada.

Esse sistema é sustentado por uma das maiores falácias do nosso tempo: a falácia do bom-mocismo estatal, que se apresenta como uma defesa do bem-comum, mas que, na realidade, prejudica a todos. O discurso oficial pinta o assistencialismo como um ato de benevolência, como se o governo estivesse corrigindo desigualdades de forma nobre. Na prática, faz exatamente o contrário: desincentiva a produção, pune quem trabalha e premia a dependência. A retórica do “bem-estar social” esconde a verdade incômoda de que esse modelo mina a produtividade, sufoca a inovação e aprisiona milhões na mediocridade.

A perversidade pode ser comparada a um alpinista tentando escalar uma montanha. No início, ele pode precisar de orientação e ajuda. Mas se alguém o carregar montanha acima sempre que ele encontrar dificuldades, ele jamais será capaz de escalar por conta própria. O assistencialismo funciona da mesma forma, já que em vez de incentivar o indivíduo a superar desafios e crescer, ele o mantém dependente e enfraquecido, tirando dele qualquer senso de independência e conquista.

O que acontece quando uma sociedade inteira é condicionada a depender do Estado? O experimento do etólogo John B. Calhoun, conhecido como “Universo 25”, ajuda a responder tal pergunta. Nele, foi criada uma colônia de ratos em um ambiente onde não faltava comida, água ou abrigo. No início, a população cresceu rapidamente, mas, com o tempo, os ratos começaram a apresentar comportamentos autodestrutivos. Os machos se tornaram passivos, as fêmeas perderam o instinto materno e a reprodução despencou. No fim, a sociedade colapsou e os ratos desapareceram, mesmo sem nenhuma escassez material.

A semelhança com o efeito do assistencialismo excessivo na sociedade humana é impressionante. Quando se eliminam os desafios e se dá tudo de graça, a iniciativa desaparece, a autoestima enfraquece e a própria razão de existir se perde. O Estado babá cria indivíduos frágeis, inseguros e incapazes de tomar as rédeas de suas próprias vidas. O que começa como “proteção social” acaba gerando uma sociedade de dependentes, sem ambição e sem dignidade.

A Venezuela, outrora nação próspera, caiu nessa armadilha. O país mergulhou no caos após anos de políticas que diziam garantir direitos para todos, mas que, na prática, destruíram a liberdade individual e a economia. Enquanto isso, países que apostaram na responsabilidade individual, como Coreia do Sul e Singapura, prosperaram ao incentivar seus cidadãos a crescerem por conta própria. O Brasil, por outro lado, mantém um extenso aparato de benefícios estatais e, mesmo assim, a pobreza persiste. Isso acontece porque o assistencialismo não elimina a miséria; ele apenas a administra, garantindo que a dependência do Estado nunca acabe.

É verdade que o homem tem uma preocupação natural com o próximo, e a caridade e a solidariedade são virtudes nobres. Mas a verdadeira ajuda deve ser voluntária, uma generosidade espontânea, nunca imposta. Quando o Estado força uns a sustentarem outros, ele não está promovendo a bondade, mas sim a coerção.

A verdadeira dignidade não está em receber migalhas governamentais, mas em conquistar a própria vida por meio do trabalho e do mérito.

Necessidades não podem ser usadas como justificativa para forçar os outros a trabalhar por nós. Cada indivíduo deve buscar suprir suas próprias carências por meio do esforço e da autorresponsabilidade.

Então, você quer ser um indivíduo autônomo ou um súdito do Estado, preso à ilusão de segurança? Definitivamente, a liberdade e a prosperidade de uma sociedade dependem do reconhecimento de uma verdade singela: não há justiça na coerção, nem dignidade na dependência.

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