• Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 04 Abril 2025

Gilberto Simões Pires

OXIGENAÇÃO CEREBRAL

Antes de tudo convido os leitores, notadamente aqueles que têm interesse em exercitar e oxigenar o cérebro, a ingressar na fantástica -SALA DO RACIOCÍNIO-, onde a CAPACIDADE DE PENSAR se manifesta de forma altamente positiva. Detalhe importante: quanto menor a resistência para o entendimento e/ou aceitação daquilo que é tido e havido como -LÓGICO-, mais o CÉREBRO colabora para o importante desenvolvimento do RACIOCÍNIO. 

SEMPRE FOI ASSIM...

Mais do que sabido, tem certas coisas que pelo simples FATO de existirem há muitos anos, ou algo do tipo -SEMPRE FOI ASSIM...- isto é mais do que bastante para que a maioria dos cidadãos não questione, ou mesmo coloque em dúvida, sobre a real e efetiva necessidade de sua existência ou imposição. 

 UM BANCO CENTRAL É INCOMPATÍVEL COM UMA ECONOMIA LIVRE

Pois, embora já tenha dedicado alguns editoriais tentando explicar que é totalmente DISPENSÁVEL a existência de um BANCO CENTRAL, desta vez aproveito o brilhante e esclarecedor texto -UM BANCO CENTRAL É INCOMPATÍVEL COM UMA ECONOMIA LIVRE- escrito pelo ex-congressista republicano do Texas, e candidato à presidente dos EUA em 1988, Ron Paul, . Eis: 

 CONTROLE DE PREÇOS É ALGO VILIPENDIADO

Controle de preços é algo vilipendiado quase que universalmente pelos economistas.  As consequências negativas de se impor preços mínimos e preços máximos são numerosas e muito bem documentadas. Por outro lado, os economistas não só aceitam normalmente, como também debatem entusiasmadamente, a mais importante, porém menos compreendida, manipulação de preços que ocorre no mundo atual: a manipulação das taxas de juros.

Ao determinar a taxa básica de juros – que nada mais é do que a taxa à qual os bancos fazem empréstimos entre si no overnight com a intenção de manter os níveis de reservas bancárias (compulsório) determinados pelo Banco Central – o Banco Central assume o lugar dos participantes do mercado, que é quem teoricamente deveria determinar os juros através de suas ações, compatibilizando a oferta de poupança com a demanda por ela.

O Banco Central e o governo federal não ousam fixar os preços da madeira, do aço, dos automóveis e dos imóveis.  Entretanto, quando o Banco Central determina a taxa de juros – e pelo fato de esta ser o preço do dinheiro para aquele que contrai empréstimos, o que afeta toda a demanda por dinheiro -, ele está afetando os preços de toda a economia de uma maneira menos explícita, porém tão deletéria quanto um controle direto de preços.

 ECONOMIA PLANEJADA

O exemplo da União Soviética já deveria ter nos ensinado que nenhum indivíduo, nenhum grupo de pessoas, não importa sua capacidade científica, pode arbitrariamente determinar preços sem que isso gere caos econômico.  Somente a interação espontânea dos participantes do mercado pode levar ao desenvolvimento de um sistema de preços que funcione corretamente e que permita que as necessidades e desejos de todos os participantes sejam satisfeitas.  A sensação que fica quando se lê as atas do Banco Central é que a taxa de juros é frequentemente determinada de acordo com os caprichos e fantasias dos diretores da instituição. Os defensores dizem que há critérios científicos por trás de cada escolha.  Entretanto, mesmo explicações mecanicistas como a Regra de Taylor dependem de estatísticas que ficam totalmente a critério dos burocratas do Banco Central: qual o PIB potencial, qual índice de inflação será utilizado, qual segmento deve ser desconsiderado (alimentos, energia, educação), etc.  No fim, o que temos é uma economia centralmente planejada.

Quando os agentes de mercado são obrigados a gastar boa parte de seu tempo tentando descobrir a próxima jogada desses fixadores de preços, analisando cada frase das declarações e das minutas do Comitê de Política Monetária, eles necessariamente se afastam das atividades econômicas produtivas.  Eles deixam de ser atores econômicos e forçosamente se tornam prognosticadores políticos.  Este não é um problema econômico isolado, uma vez que as empresas também têm de levar em consideração outras intervenções estatais, como aumento de impostos, isenções fiscais expirantes, tarifas de importação, subsídios aos concorrentes, etc.  Entretanto, como a taxa de juros determina o custo dos empréstimos e, consequentemente, determina se investimentos de longo prazo devem ou não ser empreendidos, essa manipulação estatal tem um impacto muito maior do que outras políticas governamentais.

É a manipulação dos juros que causa os ciclos econômicos. Quando os juros se tornam artificialmente baixos, o mercado é distorcido e os empreendedores são levados a fazer maus investimentos – investimentos que não fazem sentido à luz dos recursos presentemente disponíveis (que parecem maiores do que realmente são).  Esses investimentos irão ocorrer nos estágios mais remotos da estrutura do capital, isto é, nos estágios da produção mais afastados dos bens de consumo final.  Porém esses investimentos não serão sustentáveis a longo prazo, pois não há poupança real disponível para tal (os juros foram diminuídos artificialmente).  Quando o padrão normal de consumo for readotado, esses investimentos revelar-se-ão inúteis e a recessão será a consequência.  Esses investimentos errôneos não teriam acontecido caso o banco central não tivesse brincado com os juros e tivesse permitido que eles informassem o preço e a quantidade real dos recursos disponíveis.

Até entendermos os resultados que essas ações do Banco Central provocam, a economia estará fadada a repetir esses períodos abruptos de expansão e recessão.  É imperativo que se entenda que não pode existir livre mercado enquanto houver um banco central.  Se o preço do dinheiro, que é preço mais importante da economia, é determinado pelo governo, então estamos vivendo sob uma economia planejada.

PANAMÁ

A propósito, entre os países que EXTINGUIRAM O BANCO CENTRAL está o Panamá, sabidamente um dos países menos endividados das Américas (58.4% de dívida / PIB, contra 128% dos EUA e 93% do Brasil). Que tal? 

 

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  • Dartagnan da Silva Zanela
  • 29 Março 2025


Dartagnan da Silva Zanela

             Podemos realizar muitas coisas, boleiras, porém, não podemos fazer nada que preste quando estamos tomados, até o tutano, pela dita-cuja da má vontade.

E é claro que jamais iremos admitir que somos movidos por essa impostura, pois não acreditamos, de jeito-maneira, que somos embalados por ela.

Na real, muitas vezes nos recusamos a tomar consciência disso porque, se nos tornássemos cônscios desse mal, teríamos de aboli-lo de vereda.

Ou, como diria Platão: verdade conhecida, verdade obedecida.
 
Ela, a verdade, como todos nós sabemos, é desconcertante, principalmente quando nos apresenta um retrato cristalino das más inclinações que nos guiam.
 
Inclinações essas que assimilamos quando nos habituamos a fazer pequenas tarefas de qualquer jeito, simplesmente para cumprir uma formalidade.

E a nossa sociedade, desde tenra idade, nos apresenta inúmeras ocasiões para agirmos bem desse jeitão para nos configurar ao contínuo desleixo.
 
Por isso, o cumprimento de nossas pequenas obrigações, como nos lembra Simone Weil, seria algo similar à prática de uma oração; uma oportunidade singular para exercitarmos a autodisciplina, que é a base de uma vida virtuosa.
 
Ora, quando ensinamos nossos filhos a se esmerar na feitura de um trabalho escolar, por mais simples que ele seja, estamos ensinando-os valores que irão robustecer o caráter da gurizada. Robustez essa que impactará profundamente a vida deles.
 
Agora, quanto os pais nem mesmo procuram acompanhar a vida escolar dos seus filhos e, ainda por cima, não os tratam como sujeitos responsáveis por tudo aquilo que eles fazem ou deixam de fazer, ao invés de ajudar os infantes a crescerem com um caráter vigoroso, eles estarão apenas fragilizando-os, abrindo caminho para que eles se tornem adultos infantilizados, de coração mimado, que imaginam que todos devem acatar os seus caprichos.
 
Lembremos: educar, em grande medida, é contrariar os desejos desordenados que imperam no coração humano. É saber dizer não.

Preparar uma criança para a vida madura é levá-la a aprender, abnegadamente, a servir ao próximo, de forma digna, útil e generosa; o que é bem diferente do ato vil de nos servirmos dos nossos semelhantes.
 
Em resumo, podemos colocar tudo a perder, quando não compreendemos o sentido das pedras que foram levianamente retiradas do meio do caminho.

  
*       O autor, Dartagnan da Silva Zanela, é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 29 Março 2025

 

Alex Pipkin, PhD


          Vivems uma era da mediocridade, em que afirmar que necessidades são direitos se transformou em dogma inquestionável.

Essa mentalidade coletivista, amplamente difundida por políticas assistencialistas e discursos populistas, propaga a falsa noção de que qualquer carência deve ser suprida pelo Estado - e, por consequência, por outros indivíduos, independentemente de sua vontade. O problema dessa visão não é apenas econômico, mas, principalmente, moral: quando se diz que alguém tem direito a algo sem precisar conquistá-lo, se está a afirmar que outra pessoa tem a obrigação de fornecer esse algo, queira ou não. Isso não é justiça, é coerção disfarçada de solidariedade.

Se essa lógica fosse levada às últimas consequências, por exemplo, qualquer um poderia exigir que um médico lhe prestasse atendimento sem remuneração ou que um empresário contratasse funcionários sem considerar seus custos. O que é isso, senão uma forma de escravidão justificada pela necessidade? O que poucos percebem é que, quando o Estado assume esse papel de provedor universal, ele não gera riqueza para cumprir suas promessas, apenas a transfere à força, retirando de uns para dar a outros. O que começa como uma promessa de justiça social termina como uma política de coerção institucionalizada.

Esse sistema é sustentado por uma das maiores falácias do nosso tempo: a falácia do bom-mocismo estatal, que se apresenta como uma defesa do bem-comum, mas que, na realidade, prejudica a todos. O discurso oficial pinta o assistencialismo como um ato de benevolência, como se o governo estivesse corrigindo desigualdades de forma nobre. Na prática, faz exatamente o contrário: desincentiva a produção, pune quem trabalha e premia a dependência. A retórica do “bem-estar social” esconde a verdade incômoda de que esse modelo mina a produtividade, sufoca a inovação e aprisiona milhões na mediocridade.

A perversidade pode ser comparada a um alpinista tentando escalar uma montanha. No início, ele pode precisar de orientação e ajuda. Mas se alguém o carregar montanha acima sempre que ele encontrar dificuldades, ele jamais será capaz de escalar por conta própria. O assistencialismo funciona da mesma forma, já que em vez de incentivar o indivíduo a superar desafios e crescer, ele o mantém dependente e enfraquecido, tirando dele qualquer senso de independência e conquista.

O que acontece quando uma sociedade inteira é condicionada a depender do Estado? O experimento do etólogo John B. Calhoun, conhecido como “Universo 25”, ajuda a responder tal pergunta. Nele, foi criada uma colônia de ratos em um ambiente onde não faltava comida, água ou abrigo. No início, a população cresceu rapidamente, mas, com o tempo, os ratos começaram a apresentar comportamentos autodestrutivos. Os machos se tornaram passivos, as fêmeas perderam o instinto materno e a reprodução despencou. No fim, a sociedade colapsou e os ratos desapareceram, mesmo sem nenhuma escassez material.

A semelhança com o efeito do assistencialismo excessivo na sociedade humana é impressionante. Quando se eliminam os desafios e se dá tudo de graça, a iniciativa desaparece, a autoestima enfraquece e a própria razão de existir se perde. O Estado babá cria indivíduos frágeis, inseguros e incapazes de tomar as rédeas de suas próprias vidas. O que começa como “proteção social” acaba gerando uma sociedade de dependentes, sem ambição e sem dignidade.

A Venezuela, outrora nação próspera, caiu nessa armadilha. O país mergulhou no caos após anos de políticas que diziam garantir direitos para todos, mas que, na prática, destruíram a liberdade individual e a economia. Enquanto isso, países que apostaram na responsabilidade individual, como Coreia do Sul e Singapura, prosperaram ao incentivar seus cidadãos a crescerem por conta própria. O Brasil, por outro lado, mantém um extenso aparato de benefícios estatais e, mesmo assim, a pobreza persiste. Isso acontece porque o assistencialismo não elimina a miséria; ele apenas a administra, garantindo que a dependência do Estado nunca acabe.

É verdade que o homem tem uma preocupação natural com o próximo, e a caridade e a solidariedade são virtudes nobres. Mas a verdadeira ajuda deve ser voluntária, uma generosidade espontânea, nunca imposta. Quando o Estado força uns a sustentarem outros, ele não está promovendo a bondade, mas sim a coerção.

A verdadeira dignidade não está em receber migalhas governamentais, mas em conquistar a própria vida por meio do trabalho e do mérito.

Necessidades não podem ser usadas como justificativa para forçar os outros a trabalhar por nós. Cada indivíduo deve buscar suprir suas próprias carências por meio do esforço e da autorresponsabilidade.

Então, você quer ser um indivíduo autônomo ou um súdito do Estado, preso à ilusão de segurança? Definitivamente, a liberdade e a prosperidade de uma sociedade dependem do reconhecimento de uma verdade singela: não há justiça na coerção, nem dignidade na dependência.

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 25 Março 2025

 

Gilberto Simões Pires           

 

BESTEIRAS

O vice-presidente Geraldo Alckmin veio à público com o propósito de mostrar que -DIZER GRANDES BESTEIRAS- é uma tarefa que não cabe apenas ao presidente Lula, mas, de forma igualitária aos integrantes da -CHAPA LULA/ALCKMIN-, que mais do que sabido vem -desgovernando- o Brasil desde janeiro de 2022. 

FORTE CONCORRENTE

Ontem, em evento promovido pelo jornal Valor Econômico, na qualidade de presidente em exercício, Alckmin foi simplesmente à loucura quando resolveu defender, com unhas e dentes, que o Banco Central desconsidere a inflação de alimentos e energia ao definir a taxa Selic. Fantástico, não? Creio que tão logo tomou conhecimento da enorme idiotice, Lula deve ter percebido que seu vice-presidente é um forte e destemido concorrente. 

CAUSA INTOCÁVEL

Para deixar muito claro que não tem o menor compromisso em atacar a VERDADEIRA -CAUSA- DA INFLAÇÃO, que consiste em PAQUIDÉRMICOS GASTOS PÚBLICOS -sustentados por UM CRESCENTE E ABISMAL ENDIVIDAMENTO-, Alckmin simplesmente atacou -com todas as pedras- a pobre e velha CONSEQUÊNCIA. Pode?

CRÉDITO CONSIGNADO

Mais: em momento algum, Alckmin criticou a SAFADEZA que embala o PROGRAMA DE CRÉDITO CONSIGNADO, que seu líder está VENDENDO ao pobre povo brasileiro como se o EMPRÉSTIMO fosse DINHEIRO DO CAIXA DO GOVERNO (??), quando, na REAL, é DINHEIRO DO PRÓPRIO POVO, a considerar que a GARANTIA É DADA ATRAVÉS DO FGTS. 

Aliás, vale lembrar que, ontem, a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, achou melhor apagar um vídeo que publicou no sábado, 23, em suas redes sociais, no qual se referia ao crédito consignado como “empréstimo do Lula”....Argh..

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  • Afonso Pires Faria
  • 25 Março 2025

 


Afonso Pires Farias

             “Somente o arrependimento e a contrição podem nos trazer a salvação”, portanto, quando Deus nos apresentar os pecados, devemos sucumbir a eles. Nada mais falso e tergiversante do que isso. Sim. Não devemos pecar imaginando que "somente" o arrependimento vai nos trazer a salvação. Esta é uma forma muito antiga de enganar as pessoas e, infelizmente ainda utilizada com sucesso por gente inescrupulosa.

 A ação para o mal é deletéria sim, mas devemos tirar lições para servir como exemplo das suas consequências, para evitarmos sua repetição. O fato de o autor de uma obra narrar o sucesso de um vilão, não quer dizer que ele está induzindo o cometimento do crime. Está isso sim, demonstrando como ele agiu e como podemos evitar que isso se repita. Sim; está explícito na literatura conforme nos orientou o dramaturgo austríaco Hugo Von Hofmannsthal, que o que lá estava escrito, poderia ocorrer verdadeiramente. E está ocorrendo.

Uma lendária figura, SunTzu em "A arte da Guerra", ensinou um século antes de Cristo, como agir nas batalhas. Maquiavel, adaptou todas as artes da guerra, para atingir ou se manter no poder. Esopo, com suas fábulas amenizou e fantasiou as fórmulas que são usadas para enganar, dissuadir e vencer. Mas somente se dará conta de que está sendo enganado aquele que fizer a correta interpretação dos ensinamentos dos sábios do passado.

É difícil fazer a leitura e ,mais ainda, a correta interpretação do que lá está escrito. Para evitar que estes conhecimentos cheguem a toda a população, os governantes aproveitadores disponibilizam coisas de menor esforço intelectual. Influenciadores como "Nelipe Feto" e outros de menor importância são um exemplo disso. Infelizmente, o povo brasileiro está pecando compulsivamente pensando em adquirir o perdão. Não lograrão êxito. Estão fazendo a leitura errada da mensagem que lhe foi enviada pelos sábios. Estão sendo vítimas do sofisma e da tergiversação dos gananciosos pelo poder.

O povo de tão domesticado que está deixa de acreditar no que está vendo para acompanhar o "líder". Mesmo o líder sendo sabidamente um encantador de jumentos, ele será seguido. Este, já tão certo da imbecilidade dos seus seguidores, se dá ao direito de avisar que vai enganar, antes de agir. Ele anunciou como faria e fez. Ele disse: "primeiro se cria uma narrativa, depois tudo que se falar, mesmo sendo mentira, o povo vai acreditar". Disse que faria e está fazendo.  Pagarão caro por isso. Alguns inocentes perecerão também, infelizmente.

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  • Valdemar Munaro
  • 25 Março 2025



Valdemar Munaro

        Subsidiadas por 'teologias' ascendentes, as Campanhas da Fraternidade promovidas pela CNBB desde 1962, mostram que o rosto pastoral e evangelizador da Igreja no Brasil tem escasso e superficial efeito. Não é preciso uma requintada observação para ver, nesses anos todos, que a fraternidade entre nós não aumentou e o egoísmo não diminuiu. Algum fracasso pastoral ronda os investimentos dessa 'evangelização' e merece honesto exame.

Costumeiramente, as Campanhas não tem energia própria e viajam nos ombros da liturgia quaresmal com objetivos paralelos ao da penitência, contrição e perdão dos pecados com vistas à celebração dos mistérios da paixão, morte e ressurreição de Cristo.

A teologia da libertação é a grande fornecedora dos subsídios teóricos das referidas Campanhas, mas, sendo um espinheiro, é incapaz de produzir uvas e figos (cfr. Mt 7, 16). Os textos que idealizam a árvore da fraternidade estão carunchados de kantismo e hegelianismo. O resultado: catequeses essencialmente moralistas, temperos sociológicos refinados, dicas sobre ecologia e meio ambiente, recomendações econômicas e políticas, juízos comportamentais acerca da convivência humana.

As fraternidades indicadas por Jesus, porém, pedem claramente um tipo de amor raro, impossível à moralidade: "Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam... Se amais os que vos amam, que recompensa mereceis. também os pecadores amam aqueles que os amam" (Lc 6, 27s).

Nenhum ser humano pode viver esse amor se não estiver enxertado na Graça divina, pois Cristo mesmo disse: 'sem mim nada podeis fazer" (Jo 15, 5). A elevação da natureza é pressuposto imprescindível sem o qual, os homens permanecem aprisionados à miséria, à morte, ao egoísmo e à violência.

A catequese kantiana, por sua vez, põe seu bedelho para apertar ainda mais a corda moral que nos aprisiona e sufoca. Os conflitos, as mágoas e os ressentimentos estão nas raízes dos afetos e das relações humanas, coisa que os românticos, contaminados de hegelianismo, não querem ver. Em razão disso, propõe comportamentos que a soberba, a vaidade endêmica e o pecado, torna impraticáveis. Mesmo assim, os 'teólogos' elevam-se do seu lugar e, julgando-se capacitados para julgar vivos e mortos, avaliam os não praticantes da fraternidade. A teologia da libertação fomenta o surgimento de almas justiceiras e ansiosas por 'juízos finais', mas a fraternidade que propõe goela abaixo, vem inspirada pelo tirânico socialismo espiritual que não é de Cristo.

Revolucionários franceses de 1789, russos de 1917, maoistas de 1950, cubanos de 1959, etc... também ostentavam bandeiras de igualdade e fraternidade. Daqueles ideais nada sobrou, exceto amargura, dor, sangue, violência e morte.

Os 'carteiraços' morais astutos e 'mansos' endereçados aos fieis a fim de que pratiquem as ditas fraternidades, é uma canalhice pastoral semelhante àquela dos que enviam soldados desarmados e raquíticos às guerras.
O hegelianismo, pai do marxismo, também meteu-se nesse imbróglio teológico para condimentar fraternidades com ideais surrealistas. Demente, propõe soluções idealistas que a complexidade dramática da convivência humana não suporta.

Enquanto os existencialistas agudizam os dramas humanos históricos e temporais, os idealistas, perigosamente, descem a campo para implementar engenharias sociais. Assim, quando kantianos, idealistas hegelianos e existencialistas, na contramão do Evangelho, subsidiam teologias cristãs, o que ocorre é a metamorfose das exigências de Cristo em ações meramente éticas e cívicas.

Certamente, os ideais de fraternidade cristã, como os descritos nos Atos dos Apóstolos (4, 32-35), sempre foram imperfeitos, anônimos e escassos. Apenas a sabedoria divina os pode julgar e tornar possível. É preciso levar em conta seriamente, pois, que as relações e vivências humanas podem ser belas e verdadeiras, mas também fúteis e banais, hipócritas e farisaicas.
O fingimento e o desamor, a vaidade e a mentira são mais recorrentes e fáceis do que se imagina. "Tra il dire e il fare, c'é in mezzo il mare', diria um proverbio italiano. As aparências, quase sempre, enganam. O que se diz nem sempre é o que se faz e o que se faz nem sempre é o que se diz.

Por estas e outras tantas razões, deduz-se que as carências fraternas não serão jamais preenchidas por meio de catequeses morais, cantigas de roda e técnicas diplomáticas, espirituais e psicológicas como sugerem as Campanhas.

S. Agostinho (430 d. C), entre os grandes da Igreja, resume, magistralmente, o enigma da vida fraterna cristã: "Beatus qui amat te et amicum in te et inimicum proter te" (Feliz quem te ama, o amigo em ti, o inimigo por ti) (Conf. 4, 9). Quer dizer, só o amor capaz de dar a vida ao inimigo produz a autêntica fraternidade. Quem for capaz de amar nessa medida, será um santo ou um idiota: idiota se não souber o que faz e santo se souber que o amor com que ama vem de Deus, pois inimigos não são aqueles que odiamos, mas aqueles que nos odeiam e amá-los, incondicionalmente, é coisa impossível à nossa condição, mas possível a Deus.

O protestante Karl Barth (1886 - 1968), enfeitiçado pelo existencialista S. Kierkegaard (1813 - 1855), ponderou que o bom teólogo deve olhar duas fontes: a Bíblia e o jornal. Não disse, porém, qual deve ser a primeira leitura, já que é impossível ler duas coisas ao mesmo tempo. É a Escritura que ilumina o jornal ou é o jornal que ilumina a Escritura?

No século XIII, S. Tomás de Aquino sabia dessas questões, mas respondeu que o esforço filosófico começa pela admiração e contemplação das criaturas até chegar progressivamente ao conhecimento de Deus. O teólogo, ao invés, tem o privilégio de um caminho inverso, partindo de Deus para chegar às criaturas, pois conhece estas últimas numa luz mais perfeita que a racional. "A essência da criatura\", diz textualmente o doutor angélico, "está para a essência de Deus como o ato imperfeito está para o ato perfeito. Eis por que a essência da criatura não nos conduz de modo suficiente, ao conhecimento da essência divina; o mesmo, porém, não se dá com a investigação em sentido inverso" (S. Theol., I, q. 14, a. 6. ad 2).

Como se conclui, a autêntica teologia cristã sobrevive na e pela verdade revelada. A vantagem cristalina e gratuita do teólogo é maior se comparada à posição do filósofo, porque, antecipadamente, vê o mundo a partir da luz que vem das verdades reveladas. Nestas, compreende luminosa e profundamente o sentido da história, do mundo e do homem. A teologia cristã, enfim, encontra na Revelação seu sentido, sua origem, sua compreensão e sua sobrevivência.

Prescindir de Cristo, portanto, é uma corrupção teológica. Os problemas ecológicos, políticos e econômicos quando essencialmente priorizados sobre os revelados traduzem a pressa do teólogo pelo juízo final. Com efeito, boa parte da produção teológica contemporânea, transportada em carroças kantianas, embrulhos hegelianos e molduras existencialistas, transformaram os Evangelhos em catequeses morais que não suscitam conversão, nem mudança de vida. Não é tarefa do teólogo ser juiz do mundo, nem ser seu ceifador.

Por serem soberbas e ansiosas, essas teologias ascendentes, contaminadas de exigências históricas, apelos transversais e ressentimentos, jogam os fieis sempre mais profundamente no interior da arena política enlameada de conflito e malandragem. Como e quando, infelizes e pobres fieis católicos ou não, poderão vislumbrar alguma saída para o caldeirão infernal de ressentimentos e conflitos em que se encontram, se as tais 'fraternidades' tão esperadas e tão alardeadas, se baseiam essencialmente em apelos morais e mandamentos cívicos?

O imperador romano Constantino (272 - 337 d. C.), bom estrategista, mas teólogo ignorante, fez deslizar o poder político para dentro da ortodoxia cristã e da organização eclesiástica, dando-lhe pompa e visibilidade. Já o reino franco de Carlos Magno (742 - 814 d. C.), agudizou o problema ao permitir que prelados e teólogos interviessem nas reuniões políticas e administrativas e condes, duques e príncipes dessem palpites nos concílios, sínodos e assembleias episcopais. A saúde profética da Igreja se deteriorou com reis metendo-se em assuntos eclesiais, mas piorou com intromissão de bispos e teólogos em poderes políticos.

Constatar, portanto, a religião cristã buscando amparo teológico em filosofias ímpias e inimigas é desolador, mas também o é, ver teologias buscando amparo nos engodos e na podridão dos poderes políticos. O quadro, como se conclui, é triste: teologias mendigando sustento de poderes políticos apodrecidos e corruptos e poderes políticos corruptos e apodrecidos mendigando apoio de teologias.

Tal parece ser o retrato de uma Igreja que mandou às cucuias Jesus Cristo e seu Evangelho. Se racionalistas, aos moldes kantianos e idealistas (hegelianos e marxistas), absolutamente hostis ao Filho de Deus, galgaram um lugar para subsidiar as teologias, é porque estas últimas finalmente degringolaram.

Nas artérias da teologia da libertação, enfim, encontramos resíduos doutrinários já ensinados pelo líbio, Ario (256 - 336 d. C.) e pelo bretão, Pelágio (350 - 243 d. C.). Ambos inteligentes, lábios afiados e de boa retórica, foram teólogos que aceitaram e recolheram de Jesus unicamente seu exemplo moral. O arianismo e o pelagianismo jogaram fora a divindade de Cristo e retiveram apenas sua humanidade. Exatamente como faz o iluminista Immanuel Kant (1724 - 1804), o teólogo Rudolf Bultmann (1884 - 1976) e quase toda Teologia da Libertação.

Ignorar o poder do pecado e da morte, do ressentimento e da mágoa, da preguiça e da indolência, do tédio e do vazio, da incapacidade humana de amar e perdoar, é não saber da visceral necessidade que o pecador tem de Cristo e de sua Graça para ser cristão. Se Jesus não for levado a sério como Filho de Deus, vivo e ressuscitado, deixará de ser a causa e razão de nossos vínculos fraternos e de nossa fé.

Teólogos à espera de uma fraternidade que eles mesmos não conseguem viver, são apenas moralistas e juízes de plantão.
*            O autor, Valdemar Munaro, é professor de Filosofia.
Santa Maria, 24/03/2025.

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