• Percival Puggina
  • 24/03/2022
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A derrota de Dallagnol e o triunfo do aspirador de fatos

Percival Puggina

 

         Graças à investigação que Deltan Dallagnol comandou, sabemos muito sobre Lula. Antes, o ex-presidente já era conhecido como uma pessoa que eu, você e a maioria dos brasileiros não convidaríamos para conhecer nossa família. Depois do trabalho de sua equipe, ficou comprovado que o ex-presidente comandou uma quadrilha desmontada nas muitas fases e faces do escândalo conhecido como petrolão (que se estendeu por onde quer que os recursos federais andassem em volumes atraentes). É uma convicção que vem de fatos conhecidos e não significa concordância com as posições políticas do ex-procurador. 

Hoje, no novo Brasil que nasceu nas entranhas do STF, tudo foi para o já volumoso saco do aspirador de fatos.

Diante disso, para aqueles que inventam memórias para acomodar os acontecimentos à própria consciência (ou vice versa), vale lembrar: o petrolão foi aquela operação de rapinagem que aconteceu na Petrobras, em reprodução turbinada do mensalão.

Contudo, informa a mais recente narrativa, o petrolão, não existiu. Ladrões engravatados e suarentos confessaram crimes que não cometeram, devolveram dinheiro que não haviam roubado e foram condenados em duas ou mais instâncias judiciais por atos que não praticaram.

Como as pombas de Raimundo Correa, neste melancólico entardecer brasileiro, com alvarás judiciais presos ao bico, “serenos, rufando as asas, sacudindo as penas”, voltam todos à cena política, “em bando ou em revoada”... Valha-nos Deus!

Lembrei-me das pombas e daquilo que mais fazem nos pombais diante da notícia de que a 4ª turma do STJ condenou o ex-procurador Deltan Dallagnol a indenizar o beato Luiz Inácio no valor de R$ 75 mil por apresentá-lo como coordenador da organização criminosa que operou o petrolão.

Se não estou desinformado, procuradores investigam e, quando coletam provas suficientes para formular denúncia ao magistrado, informam o crime e seu autor. Salvo desejo do autor privado, toda ação penal pública é, como o nome parece sugerir, pública.

Portanto, a menos que tudo tenha sido muito mal relatado pela imprensa militante, a condenação do promotor encontra explicação no pacote de sucessivas decisões que descondenaram Lula. A indenização a que Dallagnol está obrigado a pagar é mais uma de tantas decisões judiciais que dão sentido a esta conhecida frase de um discurso proferido por Rui Barbosa no Senado, 107 anos atrás:

De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

*      Atualizado em 24/03/2022, às 12h40min.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Ana MARIA ZENONI -   29/03/2022 07:36:21

Indignação, vergonha e a sensação terrivel de que contra a força nao ha resistencia. Ao odioso stf, só me resta desejar a justica divina.

Cristina Damaris -   29/03/2022 03:02:02

Parabéns pelo texto, ilustre jornalista. É como se soltassem o Al Capone e prendessem o Eliot Ness.

Jose Ricardo -   28/03/2022 14:18:13

Independente se as ações do Dallagnol foram espetaculosas e houve condutas temerárias como mostraram a vaza jato, só com apoio da população é que poderosos empresários e políticos graúdos foram parar na cadeia e devolveram uma parte do dinheiro roubado. Sem esse apoio popular, a Lava Jato teria morrido no nascedouro. A revanche era óbvia e ela veio como podemos ver através dos amigos supremos, nomeados pelos criminosos. Muito simples o recado dado pela cúpula do Judiciário aos procuradores: não investiguem e mesmo que tenham provas robustas, não denunciem e nem coloquem poderosos empresários e políticos corruptos na cadeia, porque se fizerem vocês vão se dar mal como Dallagnol.

Mariza Salatino Mello -   28/03/2022 12:27:42

Gostei!!!!! Tudo o que eu penso, inclusive a citação de Rui Barbosa, que meu pai discursava em meus ouvidos de criança. Obrigada pela recordação. Agora está muito pior do que na época de meu pai. Pode ser que há 70 anos não se tinha tanto conhecimento desses fatos do Poder , como hoje. Em suma o Pais melhorou?

marco antonio longo -   25/03/2022 16:00:58

A juíza Gabriela Hardt também foi considerada suspeita?

marco antonio longo -   25/03/2022 15:50:10

O juiz de primeira instância foi considerado suspeito e como tendo agido com parcialidade. Assim, esse juiz cometeu crime? Deveria ser processado?

Luiz Eduardo Paes Leme -   25/03/2022 11:03:41

Parabéns pela aula, brilhantemente complementada pelo comentarista José Rui.

Eleuterio barreira -   24/03/2022 17:21:57

Maravilha de comentário.

José Rui Sandim Benites -   24/03/2022 14:49:00

Sempre atual a citação de Rui Barbosa. Mas vamos refletir nos fatos. O ex-presidente que governou o país por 8 anos. E foi condenado por três instâncias do Judiciário. E que foi absolvido por uma defesa processual. E não no mérito. E para o leigo entender. Até a segunda instância se verifica, como ocorreram os fatos para dar uma condenação. O que se chama de mérito. As terceira e quarta instâncias são os tribunais superiores que verificam se ocorreu o devido processo legal. Os fatos no caso do ex-presidente eles ocorrem pelas provas produzidas na primeira e segunda instâncias. O que a maioria dos Excelentíssimos Ministros do STF disseram: Que o juiz de primeira instância nao teria competencia e suspeito para o julgamento do ex-presidente. Isto é uma defesa chamada processual. Os fatos que o condenaram não é competência de tribunais Superiores. Apenas para exemplificar. Algums Excelentíssimos Ministros que foram indicados pelo réu ao STF, pelo que se sabe, nenhum se deu por suspeito. E neste diapasão, os mocinhos viraram bandidos e bandido virou mocinho. Como diz o ditado popular. A política é como nuvens. As vezes estão de uma forma. E mais adiante estão de outra forma. Mas a forma que estão agora, mais tarde vai virar tempestade. E quem sofre com tudo isto é o povo trabalhador e honesto que paga os tributos para sustentar um Estado, com o suor de seu trabalho. E agora verifica que a corrupção compensa. Ou estou errado?

Nelcinda Ramos de CAmpos -   24/03/2022 12:47:30

A sua citação do Rui BArbosa ,se encaixa perfeitamente no que está acontecendo no Brasil.Um dias desse conversando com um médico que estudou muito sobre os efeitos das vacinas para o virus da pandemia e recebe diariamente pacientes com problemas decorrente da vacina se nega a dar atestado para paciente com doenças incompatíveis com as vacinas mesmo possuindo exames comprobatórios,porém se nega atestar que a pessoa não pode usar a vacina por receio de uma possível cobrança das estâncias superiores.E daí como fica???

Olavo Arsênio Fank -   24/03/2022 12:03:34

Parabéns.