Artigos do Puggina
Percival Puggina
15/02/2025
Percival Puggina
Nem as opiniões mais pessimistas poderiam conceber, na tarde do dia 8 de janeiro de 2023, a narrativa do golpe de Estado e da abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Se alguém disser que anteviu isso, está influenciado pelo que passou a ser papagaiado pela mídia trans, aquela que se sente confiável, mas virou militante da catástrofe nacional. Para a opinião pública imune ao Consórcio Goebbels, não havia e continua não havendo, pelo direito brasileiro, forma de enquadrar como golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito aquilo que assistíamos pela TV.
Poderia alguém imaginar, presenciando os fatos, até onde iria a capacidade de conceber, criar e pôr a funcionar, nos mínimos detalhes, o campo de concentração judicial, com KZ-Kommandant e tudo, privativo inferno na terra que seria proporcionado àquele grupo de manifestantes? “Deixai toda esperança, oh vós que entrais!”, lê Dante no frontispício do inferno...
Durmamos bem com isso ou não, escandalizados ou não, o fato é que uma revolução está em curso no Brasil. Ela tem uma longa e ininterrupta história pelo lado esquerdo do arco ideológico. A silenciosa revolução seguia seu curso de modo exitoso pelo domínio dos meios culturais, quando – máxima infâmia! – o ceguinho da direita achou um vintém e venceu a eleição de 2018. A expressão “o ceguinho achou um vintém” era usada frequentemente por um saudoso amigo para designar aquelas ocasiões em que a livre ação humana proporciona o inesperado, trazendo ao palco o “Imprevisível da Silva”. No caso, ele desmontou as certezas marxistas sobre o que faz andar a história.
Entraram em cena, então, os atores das instalações palacianas do STF. Estavam ali, nomeados por FHC, por Lula, Dilma e Temer. Não eram “editores da nação”, nem “poder moderador”, nem “os únicos supremos”, nem lhes cabia “empurrar a história”. Não eram “analistas de cenários”, nem tinham “protagonismo político”, nem estava entre suas atribuições a tarefa de “derrotar” algo ou alguém. Ajustaram, porém, que deviam “salvar a democracia”, como proclamam todas as revoluções. Quando arregaçaram as mangas, deixaram de lado suas teses acadêmicas. Afinal, não é com elas, mas com a política, que se empurra a história, certo? Toda revolução precisa de um AI-5 que mande o resto às favas. E foi assim que o manejo da política, em ascensão vertiginosa, passou para o comando do Supremo.
O problema da extrema esquerda brasileira, hoje, é a overdose. Com overdose, nenhuma receita funciona e essa fase da revolução parece estertorar porque não se salva o Estado de Direito com menos Direito, nem a Liberdade com menos Liberdade. Não foi por falta de alertas.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
11/02/2025
Percival Puggina
Na vinda ao Brasil, os representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos trocaram os pés pelas mãos quando iniciaram suas atividades pelo gabinete do presidente do STF.
Terão ido verificar se estão bem protegidos os direitos humanos dos senhores ministros? Se seus poderes, prerrogativas e mordomias são restringidos ou usurpados por algum outro poder de Estado? Quais queixas de trazer lágrimas aos olhos terão eles ouvido de seus visitados em meio aos estofados e tapetes da suntuosa sala de reunião?
Vi, também, que foram ter audiência com a ministra de Direitos Humanos de um governo e de um grupo político que desde 2003, antes de se disseminarem as redes sociais, já se empenhava em restringir a liberdade de imprensa. Nessa visita, ouviram relato do Grupo de Trabalho que definiu a pauta das ações do ministério. Como de hábito, sempre que a esquerda trata desses assuntos, o viés é ideológico: a função da pasta é enfrentar “o discurso de ódio e extremismo no Brasil”. Esses dois inimigos se identificam como “atos antidemocráticos, racismo, xenofobia, homofobia, misoginia e intolerância religiosa”. Tudo, claro, para “proteger as crianças”.
Até parece que sempre se preocuparam com as criancinhas diante do que acontece nas salas de aula ou frente ao que, há décadas, é transmitido pelos canais de TV. Até parece que não lhes diz respeito o que vem acontecendo com a liberdade de expressão política, que não mais é respeitada sequer nas tribunas do Congresso Nacional. Até parece que todo esse empenho restritivo não se volta contra a direita e, em especial, contra suas principais lideranças e comunicadores. Por isso mesmo, o humor político, como se sabe, foi parar no submundo.
Depois de visitar o inerte Congresso Nacional, onde as presidências e as maiorias só se motivam por temerosa autoproteção e por cobiçadas emendas parlamentares, imagino que irão até as vítimas: aos que sofrem os bloqueios de redes e contas bancárias, as interdições, as restrições, a supressão de direitos processuais, as pesadas penas de prisão por um golpe que não houve nem teria como haver, as famílias dos que se viram forçados a abandonar o país.
É o que suponho, assim como suponho que, depois disso, informados pelas vítimas do arbítrio, retornarão às autoridades da República, aos donos do Brasil, para entrevistas menos protocolares e realmente esclarecedoras.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
09/02/2025
Percival Puggina
Leio que alguns estados da federação, começando por Santa Catarina, estão debatendo leis para impedir que professores utilizem músicas ou vídeo clips que façam apologia ao crime, ao uso de drogas ou que contenham conteúdo sexual e erótico nas escolas públicas e privadas do estado. No caso catarinense, a lei já está em vigor e incide sobre educandários públicos e privados, com tratamentos diferentes. Na rede pública, envolve processo administrativo; na rede privada, advertência e multa. Só o ensino superior fica fora das referidas restrições.
Ou uma patologia afetou a pedagogia ou pedagogos enfermos buscaram as salas de aula para exercer militância. Não há outro motivo para que providências legislativas com esse teor se façam necessárias e para que pais interessados na educação dos filhos sejam vistos como intrusos no reino onde o toco de giz é cetro e a palavra do professor é lei. Há uma enfermidade muito perversa fazendo vítimas entre pessoas que abusam da nobre missão de ensinar nossos pequenos.
Quem quer controlar a sociedade e empurrar a história tem que controlar a Educação. Nos primeiros anos deste século, em todo o país, leis estaduais e municipais buscaram impedir a introdução nas escolas da tão pretensiosa quanto anticientífica ideologia de gênero. Acompanhei a votação aqui em Porto Alegre e vi o modo frenético como numeroso grupo de professores e professoras se empenhou em impedir a deliberação. Havia entre eles uma necessidade premente de conversar sobre sexualidade e sobre “gênero” com as crianças. Arre! Não admitiam a vedação que acabou caindo pelas mãos do STF, que se creditou com mais essa importante contribuição à educação nacional...
Enquanto muitas portas ainda estavam fechadas ao tema, ele entrou pela janela das salinhas de aula, de mãos dadas com esse estrupício pretensioso chamado linguagem de gênero neutro. Quem não vê artimanhas totalitárias nisso tudo? Por que agem sempre assim, ignorando as próprias trapalhadas na vida das sociedades? Engels explica: “Como Darwin descobriu as leis da evolução da natureza, Marx descobriu as leis de evolução da sociedade”.
Bingo! Estabelecido o dogma, as mentes marxistas se reconhecem titulares da profecia. Elas sabem onde tudo vai chegar e se desinteressam por qualquer roteiro de viagem que não empurre a história para o futuro idealizado. O sumário de todas as revoluções comunistas formais ou informais – como a que está em curso em nosso país – é o relato da certeza sobre um futuro que precisa das cartilhas e das salas de aula para ganhar continuidade e justificação. Abolir com a família tradicional, “burguesa” (adjetivo empregado por Marx), é parte nuclear da estratégia.
Pronto! A confusão, a insegurança e o sofrimento instalados em mentes de crianças e adolescentes só não são percebidos por quem não quer ver.
A intensa dedicação a esse desserviço levou muitas escolas confessionais, disfarçadas com nomes que são objeto de devoção religiosa, a lançar suas redes sobre as salas de aula. Como não se pode servir a dois senhores, o cristianismo deixa, ali, de ser religião para que o marxismo infunda fé em seus devotos. Esquecem as duríssimas palavras de Jesus dirigidas a quem “escandalizar um desses meus pequeninos...”.
A liberdade de expressão e de cátedra não se confunde com autorização para catequese política, ideológica ou moral. Se o uso do poder para assédio sexual é crime, não tem menor gravidade o seu emprego para assédio mental dos alunos.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Outros Autores
Luiz Guedes, adv.
15/02/2025
Stephen Kanitz, em Blog do Kanitz
13/02/2025
Nada há de positivo como resultado da pedagogia militante em sala de aula.
Perto do que aconteceu no país com o estado de direito, a liberdade e a democracia, o 8 de janeiro é um episódio menor.
É preciso ter estratégia de comunicação social para romper a coligação de três poderes e restaurar, em 2026, a democracia, as liberdades e a boa justiça.
Com a redução do peso político de seus dois integrantes, o "Teatro das tesouras" encerrou suas atividades.
A censura é consequência de um Estado que quer impor suas opiniões à sociedade.
E preciso entender isso para trazer à luz o que está em curso no Brasil.