Artigos do Puggina
Percival Puggina
31/08/2025
Percival Puggina
Governos petistas não têm o hábito de levar a sério imposições da razão. Entende-se. Grupos políticos de extrema esquerda são pouco racionais. Embora digam defender a ciência, rejeitam as mais elementares lições da Economia, Antropologia, Sociologia, Política, etc. O critério ideológico é determinante, até mesmo, da escolha do jardineiro e dos ingredientes gastronômicos. Girassóis da Rússia. Camarões de esquerda. Lagostas trotskistas. Pato de Pequim. E, claro, conselheiros chineses.
Por vezes, o que um extremista de esquerda diz corresponde ao que algumas pessoas desejam, mas o que ele faz, nunca encaixa no que disse. Eis a trágica marcha rumo às grandes burradas, como as que nos trouxeram às atuais dificuldades, e provocam a doentia ansiedade de controlar as opiniões e seu trânsito no corpo social.
Depois de 2011, como consequência das sucessivas eleições de petistas para a presidência da República, a esquerda radical nunca teve menos de seis representantes entre os 11 ministros do Supremo. Com a adesão de ministros indicados por outros governos, como Gilmar Mendes (por FHC) e Alexandre de Moraes (por Michel Temer) chega-se à atualidade, quando a minoria conta com apenas dois e eventualmente com três dos 11 votos.
Era inevitável que o STF, pela maioria de seus membros, atravessasse a linha vermelha. O petismo não brinca com ideologia nem com o que possa afetar seu acesso e permanência no poder. Assim, com ares missionários, cobrando silêncio e submissão do rebanho, o STF se tornou uma esponja de prerrogativas, drenando-as do Parlamento, espaço legítimo da representação popular.
O advento das redes sociais pôs fim a um tempo em que essa maioria “era feliz e não sabia”, para dizer como o ministro Luís Roberto Barroso, hoje visivelmente infeliz, desejoso de ir embora. De fato, as redes sociais acabaram com a intermediação da opinião pública pelas grandes emissoras e grandes jornais. Como ela passou a se expressar de modo vigoroso pelas vozes próprias dos cidadãos em proporções que se revelaram decisivas na eleição de 2018, para elas confluiu parte expressiva das verbas publicitárias.
Selou-se assim um compromisso dos “editores da nação” no STF com os editores da velha mídia, repetindo juntos, à moda Goebbels, sem cessar, narrativas à margem dos fatos. Os editores da nação usam e abusam da intimidação proporcionada por mandados de busca e apreensão, celulares escrutinados, bloqueios de contas, supressão de direitos; muita gente pra prender e multa pra aplicar. Os editores da velha mídia agem como trombonistas da banda oficial, controlando música e letra à vontade dos donos. Fora isso, restam as redes sociais, porque tudo mais, no Brasil de hoje, é apenas paisagem. Com a verdade já decidida pelo Estado, quem precisa da opinião pública?
Ao observar pela primeira vez uma decisão ser tomada pelo STF em frontal antagonismo com teor explícito da Constituição, sob silêncio do Congresso e da mídia, redigi este prefácio do futuro em artigo publicado por Zero Hora.
“Foi escancarada a porta para o totalitarismo jurídico. Passou o bezerrinho. Atrás vem a boiada. Doravante, se um projeto de lei não tiver guarida no Congresso, recorra-se ao Supremo. Sempre haverá um princípio constitucional para ser espremido no pau-de-arara das vontades presentes.”
Corria o ano de 2011. Quanto eu quis estar errado!
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
24/08/2025
Percival Puggina
O início dos anos 90, preocupados com a erotização precoce de crianças e adolescentes, levando à gravidez, ao aborto e à prostituição, criamos em Porto Alegre um grupo de leigos para formação da “consciência crítica” das famílias através de palestras nas paróquias da Igreja Católica. Cumprimos essa missão por uns poucos anos. Éramos jovens e a vida nos dispersou para outras paragens e responsabilidades.
Naquela época, a internet sequer operava comercialmente no Brasil. Não havia algo que merecesse o nome de “ambientes digitais”. Não existiam redes sociais. Salvo falha da memória, apenas um membro do grupo, com atuação na área jurídica, tinha computador com impressora. O que mais nos preocupava eram as novelas, os programas de TV e sua influência na erotização precoce.
Por isso, louvei, outro dia, a manifestação do Alexandre do bem, o Garcia, chamando a atenção da audiência do “Oeste Sem Filtro” para o fato de que a tal “adultização” acontece principalmente na programação de emissoras de TV. Ao discorrer sobre o tema, Alexandre Garcia mostrou que o PL contra a adultização chega tarde e esquece o principal.
O foco desse projeto, de tanto interesse do governo, não são crianças e adolescentes. É o controle das redes e a autorização para regulamentar uma “autoridade nacional”, ideia fixa da esquerda que dá as cartas, joga de mão, apita o jogo político, parou o relógio em 8 de janeiro de 2023, e culpa a oposição por todos os erros que comete em cascata.
Se o projeto contra a adultização fosse o que dele é dito, incluiria, obrigatoriamente, a programação das emissoras de TV. Nem uma única vez, porém, o projeto menciona TV, emissora ou televisão, deixando tudo como víamos no início dos anos 90.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
21/08/2025
Percival Puggina
Não é de hoje, nem de ontem. Já transcorreram vários anos durante os quais foi se tornando mais e mais evidente que a maioria do STF deixa de lado as regras do jogo para tomar decisões conforme seu agrado ou em favor de si mesma. Alegando sempre a excepcionalidade do momento, das circunstâncias impostas por inimigos internos ou externos, dos mais elevados princípios e valores, etc., etc., a maioria do Supremo acaba fazendo, sempre, o que melhor lhe convém, como melhor lhe convém. A política entrou por uma porta e a imparcialidade saiu pela outra, aos borbotões, no palavreado dos mandados, entrevistas, palestras e discursos.
A realidade sempre tem um dinamismo próprio, como consequência das forças que nela atuam. Obstar uma delas mediante enquadramentos em inquéritos sem fim neste mundo não impede que subsistam e persistam. Trata-se de algo inevitável, mormente se, sem ouvir o Congresso Nacional e, sem que o tema tenha sido exposto durante a campanha eleitoral (aliás, foi proibido pelo TSE), o governo arrastar o Brasil para um bloco em tudo e por tudo adversário do Ocidente.
É mistificadora a afirmação de que se trata de um bloco autônomo de Estados nacionais, interessado em cuidar de si mesmo para o bem de todos os países-membros. O grupo dos BRICS tem um inimigo comum, explícito, bem conhecido e uma estratégia também comum: destruir o Ocidente (EUA, Reino Unido e União Europeia) por dentro, depreciando os valores de sua cultura e, por fora, debilitando-o economicamente.
Por isso, não se trata de escolher entre Brasil e EUA, mas em escolher entre Brasil + EUA ou Brasil + China.
A Argentina fez a opção correta e deu-se muito bem; o governo brasileiro – o governo, não a nação! – fez o oposto. Só alguém em surto de bulimia ideológica pode querer a segunda opção como futuro para seus filhos e netos, mas é nessa direção que nos empurram sem qualquer autorização. E juram ser “democrático” o inferno onde nos jogaram.
A ânsia por autoproteção e proteção recíproca, nestes exatos dias, está levando o Supremo a impor ao povo o ônus de pagar para que eles, em versão colegiada de Nero, assistam o parquinho pegar fogo do Oiapoque ao Chuí. Sim, se impuserem o que pretendem enquanto escrevo estas linhas, na base do dez por um e um pelos dez, a nação desce os degraus da miséria e o país vai à bancarrota bem além do que Lula já conseguiu. Como Nero responsabilizou os cristãos pelo incêndio, inculparão a direita pela consequência de atos constrangedores que o Ocidente vem presenciando com estupor.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Outros Autores
Reflexões que fiz a partir de conversa que tive com uma estudante de direita, aluna de Humanas em universidade federal.
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Se salvaram, por que não reconheço mais Estado de direito nem democracia no que vejo?
Respeitem a Constituição, que a democracia e a liberdade vêm junto. Basta-me isso e um cafezinho.
Muitos creem que não estarão expostos ao dilúvio a que nos arrastaram. Pensam que haverá lugar privilegiado para eles nas suítes de alguma Arca de Noé. Só que não.
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