Artigos do Puggina
Percival Puggina
07/09/2024
Percival Puggina
Você lembra que nós, brasileiros, não tínhamos o hábito de expor apreço à bandeira? Pois é. Havia, inclusive, um grupo político que sapateava sobre ela, tirava fotos em que o verde e o amarelo apareciam ardendo em chamas. Lembra em que ocasião renasceu seu valor simbólico? Foi no longínquo e esquecido ano de 2013, quando foi empregada para, literalmente, separar o joio do trigo. Sua simples presença nas manifestações apartava os arruaceiros que protestavam contra os vinte centavos a mais nas passagens de ônibus urbano e se infiltravam no movimento com a habitual truculência... As bandeiras do Brasil produziram efeito análogo ao de mostrar crucifixo para vampiro.
Hoje é sábado, 7 de setembro, feriado nacional e Dia da Pátria. Nestes tempos em que nos movemos ao ritmo dos trambolhões, brasileiros nascidos e criados no chão em que pisamos, têm da “Pátria” uma ideia mal formada. Maus políticos e maus educadores fizeram desse conceito a chave do cofre dos sentimentos políticos. Para esses, o 22 de abril de 1500 foi a data de uma catástrofe histórica, o dia em que o colonialismo “comeu a maçã” e o paraíso se perdeu. Foi aí que começou o fogo no mato. Foi isso que trouxe para cá São José de Anchieta, aquele predador cultural...
Os jovens alienados e digitalizados devem pensar na Pátria como um lugar no Google Earth, um espaço grandão no entorno da cidade onde vivem. Os mal humorados a percebem como madrasta, uma terceira pessoa do singular, animada por más intenções. Os pessimistas a têm como endereço de sua desesperança, uma dívida eterna, uma encrenca em que foram metidos pelo destino. Os otimistas falam de um encontro com o futuro logo ali adiante, mais ou menos como quem tropeça em uma dádiva caída do céu.
Ao reverso destes e de tantos outros cujos sentimentos se poderiam acrescentar, eu sempre a vi suficientemente minúscula para ser um lugar no coração. Não tenho dúvida alguma: ela entra ali quando aprendemos ser ela a guardiã de nosso passado, no aconchego de ancestrais e tradições, de cultura e de fé. Porque lhe reservei esse lugar em mim mesmo, ela se apresenta como meu berço e meu túmulo.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
06/09/2024
Percival Puggina
Tá lá o corpo estendido no chão.
Em vez de rosto, uma foto de um gol.
Em vez de reza, uma praga de alguém.
E um silêncio servindo de amém.
(João Bosco)
Os versos de João Bosco cruzam minha mente com frequência nestes últimos anos. Leio a manchete do dia e a canção me ressoa, triste. Há algo morrendo em nosso país, não é pouca coisa e não, não vou falar dos cada vez mais improváveis e difíceis gols de um futebol que perde qualidade. Afinal, a qualidade, como tudo mais, está indo embora assim que pode.
Outro dia, escrevi sobre a necessária aprovação da anistia para os presos e condenados pelos atos do dia 8 de janeiro de 2023. Houve dois tipos de objeção: uns consideraram a anistia injusta porque deixaria impunes demasias e injustiças praticadas contra os réus; outros consideraram inconveniente a impunidade dos crimes de grave lesão ao patrimônio público que todos presenciamos. São confusões que se explicam com a autópsia destes exóticos tempos políticos. A democracia exige o olhar zeloso do cidadão sobre as ações do Estado. Se essa atitude ainda exibisse sinais vitais, todos perceberiam que anistia é um instrumento da Política e não da Justiça. Se ficarmos discutindo Justiça com os justiceiros de qualquer banda, jamais haveria anistia e as crises se perpetuariam. Já contamos dezenas delas em nossa litigiosa vida republicana!
“Pode a Justiça atender à conveniência política e abrir mão de sua obrigação de punir?”. Se essa pergunta está sendo formulada pelo leitor eu sugiro que saia das narrativas e leia os fatos dos últimos anos. Por outro lado, o bem comum, o bem de todos – a que se acrescem os bens naturais, materiais, culturais, institucionais e civilizacionais de uma nação – cria a proximidade e o necessário diálogo entre o Direito e a Política.
O histórico do recente caso das determinações e sanções por descumprimento impostos à plataforma X, proibindo-a no país, faz pensar. É no exercício desse direito que pondero notável desproporção entre o fato gerador da sanção (o descumprimento de uma ordem judicial) e a consequência que deixou mais de 20 milhões de cidadãos, empresas e serviços públicos sem acesso aos serviços prestados, também, pela Starlink.
Que digam os juristas: não há limite no plano das consequências? Afinal, a plataforma é fonte de serviços e fonte primária mundial de notícias, onde os fatos chegam pela palavra de seus agentes – chefes de Estado, o Papa, governantes, pessoas de ciência e saber, comunicadores e, até mesmo, ministros do STF. E se fosse abastecimento de água ou energia, ou bens essenciais ao consumo? Qual a essencialidade do direito à informação?
Não terá chegado a hora de olhar para quanto já tombou e está lá, estendido no chão, como parte do conjunto de bens que já tivemos e estamos perdendo sem entender bem por quê?
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
31/08/2024
Percival Puggina
O Foro de São Paulo nasceu como “coletivo” de políticos e organizações partidárias de extrema esquerda cujo objetivo era a conquista do poder ou a manutenção, em caráter permanente, do poder conquistado. Alguns já haviam conseguido esse objetivo de modo pleno, como ocorreu em Cuba, com a revolução sandinista da Nicarágua e viria a ocorrer na Venezuela. Outros foram transitórios, como nos casos da Bolívia, Peru, Honduras, El Salvador, etc.
Essa corrente política nunca faz autocrítica (suas críticas são sempre dirigidas ao adversário). A regra é clara: governo companheiro não critica governo companheiro. É bom lembrar que Lula, seu governo e sua base parlamentar se alinham com qualquer corrente política adversária do Ocidente, vale dizer, dos Estados Unidos, da União Europeia e de Israel. Ao mesmo tempo, Irã, China, Rússia e movimentos terroristas islâmicos têm tratamento privilegiado. Quando não há mais explicações possíveis, atribuem caráter canônico ao “respeito à autonomia dos povos”, quaisquer que sejam os males produzidos por seus líderes aos respectivos povos...
Lembro que em 2010, mais precisamente no dia 24 de fevereiro daquele ano, Lula desembarcou em Cuba para uma visita oficial aos irmãos Castro. Para azar dos azares, na véspera, ao cabo de uma greve de fome que se prolongara por inacreditáveis 85 dias, falecera o preso político Orlando Zapata Tamayo. A greve pela libertação dos presos políticos do regime tivera grande repercussão na imprensa das nações livres e democráticas. Ouvido sobre o episódio, Lula disse: “Temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano de deter as pessoas em função da legislação de Cuba” [1].
No país que ele visitava, Fidel Castro, autonomamente, chegara ao absurdo de criar as UMAPs (Unidades Militares de Apoio à Produção), que eram, na verdade, campos de concentração para submissão dos jovens rebeldes às práticas comunistas. Nem por isso, líderes brasileiros de esquerda deixavam de exaltar as maravilhas do regime ali instalado. Agora, meio século depois, Maduro prende 120 menores de idade venezuelanos inconformados com a fraude eleitoral e os encaminha a um campo desse tipo, sob rigorosa disciplina militar.
Lula se meteu numa encrenca incomum quando, pessoal e publicamente, aqui no Brasil, aconselhou Maduro a “construir sua própria narrativa”. Pois bem, foi o que o venezuelano fez: perdeu a eleição, comemorou a vitória, disse que os inconformados serão presos e quer prender o candidato que o derrotou.
Enrolado na camisa de força de suas bravatas, promessas e más parcerias, Lula não assinou a nota da OEA pedindo auditoria internacional das atas eleitorais. Agora, vem a público dizer que era amigo de Chávez, não de Maduro, e que não reconhece a vitória deste nem a da oposição. Em junho, o Papa pediu a Lula que interviesse junto a Ortega para a libertação dos bispos católicos, mas o ditador nicaraguense sequer o atendeu. Lula lidera o que e a quem, exatamente?
[1] https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1003201001.htm
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Outros Autores
Rubem Sabino Machado
06/09/2024
Se o povo não se importar, os donos do poder sentem-se liberados para fazer o que bem entenderem.
Fizeram uma constituição tão minuciosa que nada acontece no país sem as famosas Propostas de Emenda à Constituição (PECs).
Um debate no parlamento francês sobre o cartaz dos Jogos Olímpicos proporciona notável lição sobre história, a nação e seus símbolos.
Os inimigos das escolas cívico-militares sabem que as comunidades as desejam e comemoram. Então, atacam por dentro do "sistema" , discretamente.
A culpa dos omissos que se julgam tão bons que só votam em alguém tão perfeito quanto eles.
O culto ao Estado, típico do esquerdismo, é a causa do empobrecimento da população. A nona economia do mundo convive com o 76º PIB per capita.