• João Luiz Mauad
  • 15/12/2008
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A HORA ?DE PRUD?CIA E PARCIM?IA

“O que ?rudente na conduta de qualquer fam?a particular dificilmente constituiria insensatez na conduta de um grande reino”. Adam Smith Keynes est?ovamente na moda. Por toda parte, h?essoas defendendo enfaticamente que os governos gastem fortunas, ainda que a maioria dos governos mundo afora n?disponha dessas fortunas. Do leigo ao Bispo, do pe?ao empres?o, do gari ?ocialite, do Bush ao Lula, quase n?h?uem duvide de que esta ? f?la da felicidade. A palavra de ordem ?gastar”, ainda que muitas vezes ela venha maquiada pelo eufemismo “dar liquidez”. A quimera do momento ?vitar a recess? custe o que custar. Empresas grandes est?proibidas de ir ?al?ia, desemprego ?ma heresia e o governo deve fazer de tudo para evitar que isso aconte? N?ocorre ?pessoas que essa id? n?faz qualquer sentido, a n?ser para consolidar o extraordin?o poder que os governos j?mealharam ao redor do mundo. N?lhes ocorre, tampouco, que n??egamos onde estamos justamente porque o poder estava superconcentrado, tanto em rela? ?informa?s dispon?is, quanto ao conhecimento necess?o para bem exerc?o. Isso ?itroglicerina pura e far?s coisas ficarem ainda piores no futuro. Est?trocando a dor de uma recess?agora pelo pesadelo de algo muito pior um pouco mais adiante. Escrevi alhures, certa vez, que “a aplica? de ‘anest?cos’ reduz as chances de que o mercado produza seus pr?os anticorpos e, a partir deles, estabele?a dolorosa, por?necess?a, depura?, eliminando definitivamente os focos de infec?. Em resumo, no af?e tentar corrigir as chamadas falhas do mercado, a interfer?ia do governo impede que este mesmo mercado promova a cura mais eficaz e duradoura, embora isso possa exigir alguma dose de sacrif?o a curto prazo”. Conv?lembrar aos adeptos da “Igreja do Santo Leviat?e Todas as Horas” coisas b?cas como, por exemplo: tudo que os governos gastam ?btido atrav?de impostos, empr?imos ou simplesmente emiss?de moeda sem lastro. Se eles fabricam papel pintado, haver?nexoravelmente aumentos de pre? no futuro, o que representa um roubo institucionalizado contra toda a popula?, que perde poder de compra. Se, por outro lado, os governos cobram impostos ou tomam emprestado dos cidad? e empresas, claramente n?haver?nje? de liquidez na economia, uma vez que o dinheiro j?stava circulando no mercado. Na verdade, esta pol?ca de “estimular a atividade econ?a”, n?passa de um tiro no pr?o p?Gastos p?cos s?rvem para distorcer o rateio ?o entre poupan? investimento e consumo, j?ue aumentam este ?mo e desencorajam os dois primeiros. De acordo com a teoria keynesiana, as recess?s?resultado da retra? “exagerada” do consumo. Portanto, se a sociedade est?oupando mais do que seria desej?l – do ponto de vista das mentes iluminadas, evidentemente –, o consumo e as vendas caem, os lucros minguam e produzem desemprego. Aos poucos, isto se transformar?um c?ulo vicioso que s?governo poder?omper. A base da teoria, portanto, ?ue os indiv?os, ao poupar seus recursos “em excesso”, contribuem para prejudicar os n?is de renda agregada da economia. Chamam a isso de “Paradoxo da Parcim?”. Segundo essa estranha l?a, algo que ?en?co para os indiv?os, as fam?as e as empresas de modo geral, ou seja, a parcim? e a prud?ia nos gastos e, conseq?emente, o aumento dos n?is de poupan? ?uim para a sociedade como um todo. Ainda de acordo com esse pensamento, o governo, atrav?de seus agentes iluminados, ?uem sabe qual ? n?l ?o de demanda agregada para que a economia se mantenha sadia. Em resumo, e utilizando as palavras de Mr. Paul Krugman, um dos maiores defensores dessa estrovenga, “a virtude individual pode ser um v?o p?co … tentativas de consumidores de fazer a coisa certa, atrav?do aumento da poupan? pode deixar todos em pior situa?”. Chega a ser engra?o assistir ?mesmas cabe? coroadas que outrora n?cansavam de desancar o excesso de consumo – o famigerado consumismo – dos americanos como insustent?l e perigoso para a economia, fazendo agora o discurso keynesiano e propondo que o governo incentive o consumo daquele mesmo povo como a ?a forma de conter a recess? Como sempre, por tr?de uma teoria macroecon?a, h?ma f?la exata, no caso resumida pela seguinte identidade cont?l: Y = C + I + G + (X-M) Assim, o sofisma do senhor Krugman ganha contornos cient?cos: Se os gastos com consumo (C) se contraem, trazendo com eles os investimentos (I), ent?o PIB (Y) for?amente sofrer?ma redu?, a menos, ?laro, que se aumentem os gastos do governo (G) ou as exporta?s l?idas (X-M). Como o aumento da balan?de com?io num per?o de recess?mundial n?parece tarefa f?l, a ?a alternativa vi?l seria mesmo o aumento dos gastos do governo. Simples, n? A falha dessa “teoria” est?o fato de que a identidade cont?l nada mais ?o que… uma identidade cont?l. No caso, trata-se da f?la utilizada para o c?ulo do PIB. Ela esconde, por exemplo, que quaisquer aumentos em G decorrem necessariamente de redu?s equivalentes nas demais vari?is, principalmente C e I – de onde prov?inevitavelmente os recursos dos impostos e dos empr?imos – a menos, ?laro, que os novos gastos sejam derivados de emiss?de moeda. Como se v?os macroeconomistas de forma geral, especialmente os keynesianos, acham que seus modelos matem?cos e gr?cos possuem vida pr?a, independente das a?s e vicissitudes dos agentes econ?os (seres humanos), os quais, no fim das contas, s?a for?motriz que d?ire? e intensidade ?vari?is econ?as. O racioc?o acima coloca em posi?s antag?as a poupan?e o consumo. ?certo que se algu?resolve poupar cem reais, est?utomaticamente abrindo m?de utilizar o dinheiro para consumo imediato. Ocorre que s?zemos tal op? visando ao consumo futuro. Ningu?poupa por sadismo. Da?orque quem poupa espera ser remunerado pelo sacrif?o, o que ?eito atrav?da cobran?de juros (ningu?mais guarda dinheiro embaixo do colch?. Em outras palavras, o poupador est?azendo um investimento. Na verdade, a poupan?n??utra coisa sen?uma forma diferente de gastar os recursos, no sentido de que n?ser? seu dono quem os gastar?iretamente, mas uma outra pessoa (chamada de tomador), que provavelmente utilizar? dinheiro em bens de consumo ou de produ?. Como nos lembra Sheldon Richman, a poupan?pode ser induzida tamb?por for?de incertezas quanto ao futuro, caso em que os indiv?os reduzem seus gastos em bens de consumo sup?luos – produtos cuja demanda ?ais el?ica – no presente, com medo de que os recursos possam faltar-lhes at?esmo para o consumo do essencial no futuro. Isto geralmente ocorre em ?cas de crise recessiva, quando os n?is de desemprego crescem e, junto com eles, o temor quase generalizado de que o nosso emprego possa ser o pr?o. ?nesta ?ma hip?e que os keynesianos advogam a interven? do governo. S? um probleminha com esse racioc?o. As pessoas passaram a consumir menos, pois havia uma recess?instalada – logo, n?foi a volta da poupan?a causa da recess? Pelo contr?o, aquela ?rovavelmente conseq?ia desta. De acordo com a Lei de Say, a produ? gera o consumo, n?o inverso. Logo, o aumento ou redu? da demanda agregada s?efeitos do crescimento ou da retra? da economia, n?a sua causa. (Infelizmente, esta verdade t?cristalina para qualquer Robinson Cruso?erdido numa ilha deserta continua ainda sujeita a in?os sofismas macroecon?os). Isso muda completamente o enfoque da quest? Nas palavras de Sheldon Richman, “as recess?existem para corrigir a imperfeita aloca? de recursos pelo mercado, normalmente induzidas por pol?cas de governo insustent?is”. A liquida? de maus investimentos, neg?s equivocados e ineficientes geralmente cria desemprego e outras priva?s tempor?as, at?ue a estrutura de produ? volte a estar em linha com as reais prefer?ias dos consumidores. Nesse ?erim, os gastos do governo e suas tentativas de fomentar o consumo de forma artificial s??postergar o realinhamento entre a demanda real e os investimentos (para os quais a poupan??ndispens?l), j?ue esses gastos n?s?guiados pelos sinais do mercado e pela busca de empreendimentos lucrativos. Pelo contr?o, normalmente s?ditados por considera?s pol?cas e por grupos de interesses bem articulados (rent-seeking). Numa economia de mercado, os pre? ditam a produ? e o consumo ao longo do tempo. Os consumidores sinalizam a intensidade de suas prefer?ias presentes e futuras atrav?do incremento ou redu? de suas poupan?, com isso elevando ou reduzindo as taxas de juros. Se o consumidor se retrai e poupa mais no presente, est?inalizando que provavelmente ir?onsumir mais no futuro. O sistema ir?uncionar razoavelmente, a menos que o governo intervenha, deturpando os sinais do mercado, iludindo produtores e distorcendo a aloca? intertemporal dos recursos. Se os governos realmente quiserem fazer alguma coisa para ajudar o processo de recupera? econ?a, que cortem os pr?os gastos e, principalmente, os impostos, deixando de distorcer os sinais de pre? do mercado e encorajando os indiv?os a decidir por si mesmos onde e como aplicar os pr?os recursos, seja poupando, consumindo ou investindo diretamente.