• Percival Puggina
  • 16/11/2021
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A TIRANIA NO ESPELHO

 

Percival Puggina

 

         Para preservá-lo, não vou declinar o nome inteiro de Alexandre, um conhecido que mora no interiorzão do Brasil, mas a cadeira em que ele senta tem o poder de lhe aquecer o sangue, impulsionando tendências que afetam o exercício de seu poder. Por constatar isso, na expectativa de que as observações a seguir possam ser úteis também a outros, escrevo este artigo propondo a Alexandre que se coloque diante do espelho.

Sei que ele leu Edmund Burke e deve ter aprendido que quanto maior o poder, mais perigoso se torna o abuso. Com efeito, sistemas políticos podem vicejar afrontando limites, mas são finitos como todos os males. Aliás, é assim, também, que se afirmam as facções criminosas, como o PCC. Seus lideres conhecem o poder da intimidação, da imediata ação repressiva, da desproporção entre o revide e a agressão, da punição sem julgamento. Funciona, mas está errado. E passa.

Por exemplo: neste momento em que escrevo, o Partido Comunista de Cuba (casualmente outro PCC) está fazendo uso da polícia, do seu poderoso Minint e de suas fascistas “brigadas de resposta rápida” para sitiar as moradias das lideranças “de las protestas por libertad” convocadas para este 15 de novembro. Juntos, baixam o porrete e prendem cidadãos que, quando se atrevem, não conseguem circular nas ruas bloqueadas.

O que as lideranças dos PCCs da vida não sabem é que, como disse alguém, as tiranias fomentam a estupidez e são transitórias como a glória do mundo. Não sem razão esta transitoriedade, durante séculos, foi lembrada nas coroações papais. A glória passa! E porque passa, todo detentor de poder precisa olhar-se no espelho, ouvir mais do que falar, julgar a si mesmo mais do que aos outros, derrotar seus fantasmas interiores antes de materializá-los nos indivíduos sob sua autoridade.

Sei o quanto Alexandre preza a democracia. A cadeira em que senta e lhe concede autoridade não pode proteger a democracia combatendo a liberdade porque, como nos lembrou James Madison, uma se nutre da outra. O motivo é óbvio: não há democracia na servidão. Não se defende a democracia mediante constrangimentos e restringindo liberdades fundamentais.

Tenho falado com muitas pessoas sobre as quais Alexandre exerce seu poder e sinto que elas o veem como um tirano. Penso que há aí um ponto para reflexão, presente a constatação de Platão há 23 séculos: “Muitos odeiam a tirania, apenas para que possam estabelecer a sua”. Diversos males têm solução diante de um espelho.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

           


Décio Antônio Damin -   22/11/2021 15:23:45

A liberdade de expressão não é ilimitada...e todos devem responder pelos seus atos...! O foro privilegiado não deve ser escudo para qualquer barbaridade, mas a ser julgado um desvio, um crime ou uma contravenção qualquer, as penas, se atribuídas, devem ser proporcionais e compatíveis com a fato delituoso...Acho como tu que está havendo um exagero da autoridade.

Nixon Carvalho -   19/11/2021 23:06:55

Excelente texto para reflexão. Espero que não cheguem ao cúmulo de nos proibirem de pensar e existir.

Omar Sales -   18/11/2021 23:44:31

Que primor esse texto! Tanto a forma quanto o conteúdo, impecáveis. Siga no bom combate, caro Puggina e que Deus nos permita viver dias melhores dentro em breve!

Beatriz Regina Cherubini Alves -   18/11/2021 08:54:19

Sempre muito boa suas observações seus artigos.

JOSE C ALVARES -   17/11/2021 22:53:27

São tantas as arbitrariedades explícitas adotadas pelos Ministros do STF, sem que lhes sejam cobradas as responsabilidades, que eles se sentem cada vez mais "autorizados" a cometê-las. Eles devem imaginar que as forças que os impelem, as retaguardas que os acoitam e a paciência dos que, direta ou indiretamente, são por eles atingidos, são infinitas. Esquecem que quando um desses três pilares -- qualquer um deles -- perder seu efeito, a tendência é que os outros dois rapidamente se desfaçam. E será nesse momento que a pilha de crimes cometidos desabará com força sobre eles.

Milton Nonato de Oliveira Filho -   17/11/2021 22:39:23

Simplesmente brilhante.

Myrian Duarte -   17/11/2021 20:02:16

Que texto espetacular! Mais um, aliás. Será qye serei bloqueada novamente?

PERCIVAL PUGGINA -   17/11/2021 18:43:54

Senhor César Fonseca, sugiro-lhe alguns exercícios de leitura mais simples, para começar. Aqui ninguém falou em fuzil, em maçonaria ou em Mourão.

César Fonseca -   17/11/2021 16:18:51

O poder político é sustentado pelo fuzil? O fuzil é controlado pela Maçonaria de Mourão?

Luiz R. Vilela -   17/11/2021 11:12:52

A coisa é surreal. Para um dos cargos mais importantes da república, nada se exige. O sujeito apenas precisa da indicação do presidente da república e deu. A tal "sabatina" feita pela CCJ, é apenas uma formalidade, pois a maioria dos senadores, não tem conhecimento jurídico para avaliar o sabatinado, então fica apenas naquela farsa dos políticos em "jogar confete" na cabeça do futuro poderoso, que depois vai julgar os que o aprovaram para a função. Como sabem que o indicado será aprovado, ninguém quer ficar "de mal" com o dito cujo. Conduta ilibada? Notório saber jurídico? São requisitos apenas formais, que verdadeiramente, não são levados em conta. Ai então vem a dúvida, será que um político corrupto, quando deve nomear alguém que um dia poderá julga-lo, fará olhando para todas as virtudes que a lei exige do candidato? Pelo que a realidade tem mostrado, parece que não. Já é passada a hora de ser revisto todos estes critérios de nomeações, porque o que se esta vendo neste Brasil atual, a coisa já enveredou por caminhos diversos, que não são os que levam a democracia.

Menelau Santos -   17/11/2021 09:11:55

Bravo Professor! É o nosso Alexandre, o Grande!, na nossa versão tupiniquim, como diria o saudoso Joelmir Beting.

FERNANDO A O PRIETO -   17/11/2021 05:29:57

Alentador poder ler, em nossos tempos de nanismo intelectual disfarçado de ciência, algo tão bom! Quanto ao Alexandre e outros assemelhados, também acabarão! "SIC TRANSIT GLORIA MUNDI" !

Ângela Mello -   16/11/2021 18:10:23

Excelente, como sempre!