• Percival Puggina
  • 09/11/2023
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A traição por um prato de lentilhas

 

Percival Puggina

        No ano que vem, quando você estiver pagando mais impostos e seu dinheiro acabando ainda mais cedo no final do mês, os preços subindo mais rapidamente e o desemprego voltando a crescer, lembre-se destes dias! Lembre-se de que fora alguns privilegiados que terão sido contemplados com as “exceções” e as “isenções” de praxe, o Senado aprovou uma Reforma Tributária que aumenta impostos para engrossar o caldo dos recursos destinados às facilidades e desperdícios do setor público.

Os votos que proporcionaram ao governo este novo saque aos frutos de seu trabalho, ao produto do suor de seu rosto, leitor, foram obtidos mediante pagamento. O preço da infidelidade foi um miserável prato de lentilha. Assim como Jacó comprou de Esaú a primogenitura por um prato de lentilhas, senadores vendem a honraria inerente à representação dos eleitores de seus estados por uma diretoria de empresa estatal, pela presidência de uma sinecura qualquer, pela liberação de emendas pix, por uma conversa ao pé do ouvido.

Saiba, porém, que a lustrosa experiência desses representantes infiéis assegura a eles que na próxima semana poucos ainda lembrarão desta deliberação e, menos ainda, de quem votou como e por quais razões. No próximo pleito, dentro de três anos, as decisões de voto da imensa maioria dos eleitores serão tomadas ao sabor das emoções do momento. Apenas uns poucos chatos, nas redes sociais, com o mau hábito de apontar relações de causa e efeito, estarão lembrando dos dias em que o Senado aprovou a Reforma Tributária para infortúnio de dezenas de milhões e para bem de uns poucos privilegiados.

O Estado brasileiro, mau servidor, jamais corta em si mesmo! Estes 10 meses do governo Lula valem por uma aula dessa matéria. Durante todo esse tempo, em vez de governar, o governo exercitou seu principal talento: buscar novas fontes de custeio, como se houvesse outra que não fosse o bolso dos cidadãos.

Vale a comparação. Enquanto uma empresa, para aumentar seu faturamento e rentabilidade, busca mercados e inova sua linha de produtos, o “mercado” do Estado é o cidadão que trabalha e o ganho que ele obtém com isso. Enquanto a empresa reduz custos, o Estado eleva os seus. Nada simboliza isso tão bem quanto a já longa história das viagens de Lula. Elas me fazem lembrar uma frase que ouvi de alguém após uma reunião de presidentes de vários partidos: “Quanto menos relevante a tribo, mais enfeitado o cacique”.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 


Afonso Pires Faria -   12/11/2023 10:22:55

A quem deveremos odiar mais, os petistas que votaram por convicção ou aos vendidos, por conveniência?

Jorge Luiz Fenerich -   10/11/2023 20:53:08

Eleições neste país serão meras formalidades abstratas pra dar sustento a um desgoverno inútil e perdulário.

DANÚBIO EDON FRANCO -   10/11/2023 16:31:14

Todos sabemos que o sistema tributário brasileiro é extremamente confuso e difícil. Modesta que seja uma empresa, ela não consegue atender suas obrigações fiscais sem assistência de um profissional. A loucura fiscal é tal que não há quem sobreviva sem esse apoio profissional. De longos anos vem esse pleito. Pelo que consta esse projeto de Reforma Tributária em tramitação, já aprovado pelo Senado e agora volta à Câmara dos Deputados, foi enviado ao Congresso Nacional em 2019. Confesso que não li o anteprojeto nem o projeto – quase PEC – em tramitação. Também não entendo muito dessa matéria, mas tenho lido as notícias e comentários a respeito. Não são boas, mesmo a mídia amestrada a tem criticado (de leve, é verdade). Tal como comentas em teu artigo, avultam as aberrantes isenções. Entrementes, apesar de minha ignorância no assunto, um ponto se destaca nessa reforma, que está a indicar sua reprovação (já perdida), ou seja, a centralização da arrecadação e divisão nas mãos do governo federal. Por primeiro, os municípios perdem sua maior fonte de receita, que passa a ser gerida por um conselho ou coisa parecida, que fará a repartição e liberação dos valores em favor daqueles. Veja-se o descalabro; o dinheiro saí do município, vai para o gestor federal e depois retorna. Por segundo, ficam todos os entes federados na mão de um só, como se já não bastasse a centralização atual. Por terceiro, cria-se mais uma despesa, bota despesa nisso, com o tal conselho gestor ou seja lá o que for. Adeus regime federativo! Agora, sim, vamos todos comer na mão do governo federal. Será o bolsa família dos estados e dos municípios. Por fim, tens toda a razão quanto aos vendilhões do templo.

Carlos Roberto Vieira da Silva -   10/11/2023 15:38:14

Faca sem cabo e sem lâmina, né?

JOSE BOAZ -   10/11/2023 15:00:54

Brilhante Puggina! Com poucas palavras disse tudo!

João Menezes -   10/11/2023 14:40:08

Canalhas.

Odilon Rocha -   10/11/2023 13:56:25

Caro Professor Para não ser injusto, porque existem exceções, grande parte da cepa política brasileira é acometida da mesma doença. Essa doença foi muito bem descrita em um livro que estou lendo. Ela diz assim: " É DIFÍCIL FAZER UM HOMEM ENTENDER ALGO QUANDO SEU SALÁRIO EXIGE QUE ELE NÃO ENTENDA".

Rejane Godoy -   10/11/2023 13:50:14

Meus senadores votaram contra. Mas infelizmente os vendidos foram a maioria. Lastimável.

Acioly Mendes Pinheiro -   10/11/2023 11:03:47

Como sempre, perfeito professor.

Seila -   10/11/2023 11:01:13

Maravilhoso artigo

IGNÁCIO JOSÉ DE ARAUJO MAHFUZ -   10/11/2023 11:00:11

Puggina, Caro Mestre Percival. SAÚDE E PAZ! Sabemos, a imensa maioria dos congressistas brasileiros - vou acrescentar, dos políticos/politiqueiros brasileiros - é formada por elementos vis, fisiológicos, mamíferos, ordinários, VENAIS E CORRUPTOS, verdadeiros eunucos morais. Então, Prezado Mestre, esperar o que desses DESPROVIDOS? Só merda, claro. Fraternal abraço, Ignacio Mahfuz

Menelau Santos -   10/11/2023 08:59:15

Ótimo texto, Professor. Fechou com chave de ouro. Dizer o quê? Apenas, que pena! Os mais pobres é que vão sofrer mais. Bolsonaro foi apenas uma brisa de ar fresco no inferno, mas que acabou rápido.