• Cláudio De Cicco
  • 11/02/2009
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ABRINDO MAL UMA NOVA ERA

Tenho lido na imprensa que repercutiu mal no Vaticano a decis?do Presidente norte-americano Barack Obama de rever a pol?ca anti-aborto dos governos anteriores, tirando qualquer impedimento legal para o uso de recursos federais norte-americanos para a promo? do aborto no mundo. ?de conhecimento geral que a elei? de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos da Am?ca foi saudada dentro e fora daquele pa?como o in?o de uma Nova Era de compreens?e paz para o mundo. Confesso ter compartilhado de uma certa emo? por ver um afrodescendente chegar ?uprema magistratura de um pa?conhecido no passado como racista. Tamb?achei simp?co da parte dele convidar para Secret?a de Estado sua contendora Hillary Clinton. Mas no seu discurso de posse ele proclamou: A sociedade muda, os Estados Unidos tem que mudar com ela. S?ora entendi o sentido da frase barackiana: quando a sociedade muda, ?reciso mudar sempre. Ser?E se mudar para pior? Obama representaria a mudan?sem estar preso a nenhum valor, pois um dos seus atos inaugurais de governo foi revogar o impedimento legal para o financiamento de campanhas abortistas fora dos Estados Unidos, o que vinha sendo reiteradamente reafirmado pelos governos republicanos. Ora, ?o m?mo falta de coer?ia fechar Guantanamo, por motivo humanit?os e depois liberar verbas para o financiamento de massacres de inocentes. Afinal, nisto os dois Bush, Ronald Reagan e demais republicanos estavam certos. Muitos dir?que isto j?ra esperado, pois Barack Obama nunca escondeu ser abortista. Mas cabe ent?ponderar se isto foi enfatizado suficientemente por ele em sua h?l campanha, em que os holofotes estavam mais centrados sobre a crise econ?a e sobre a situa? no Iraque. Seria o caso de supor que os eleitores esqueceram esta quest? Ali? o que n?faltou nesta campanha foi emocionalismo, envolvendo o Dream de Martin Luther King, o sorriso aberto de Obama e um apoio total da m?a americana e mundial pr?rack. Por acaso, gravei um dos debates entre John McCain e Obama, em que o simp?co senador por Illinois n?respondia a nenhuma das contundentes perguntas de seu rival. Sa?pela tangente e mudava de assunto. No entanto, no dia seguinte a imprensa inteira noticiava a Vit? de Obama no debate! Foi mais incr?l ainda o que a m?a americana e internacional fez para boicotar a candidata a vice de Mc Cain, Sarah Palin. Num primeiro momento, sua entrada em li?parecia um golpe na campanha at?nt?tranquila de Obama. A escolha da governadora do Alaska, Sarah Palin, para vice de John McCain, com uma revers?das inten?s de voto nas pesquisas, lembrava a for?da opini?p?ca americana, baseada em princ?os morais e religiosos. A candidata era conhecida porque recusou abortar o ?mo dos filhos, mesmo sabendo que nasceria com a s?rome de Down. Mas havia algo “imperdo?l” para certos formadores ou deformadores da opini?p?ca: opunha-se ao aborto em todos os casos; era contra o “casamento” homossexual; era grande defensora de pol?cas pr?m?a; era a favor da abstin?ia sexual antes do matrim?; defendia o ensino do criacionismo nas escolas. Foi logo taxada de fundamentalista. Quer dizer, ficou bastante patente para que lado tendiam as simpatias dos magnatas da m?a. E isto, a meu ver, teve enorme peso nas elei?s que deram a vit? ao abortista Barack Obama. Mas, algum leitor poder?omentar: o senhor est?upondo que o povo norte-americano ?omposto de d?is mentais, incapazes de discernir e que foram conduzidos pela imprensa falada e escrita para uma dire? que eles n?queriam. N??postar demais na ingenuidade dos americanos? Respondo dizendo que, se estou enganado, ent?devo concluir que o povo est?um processo de decad?ia moral, abandonando os princ?os morais que fundaram a na?. E nesse caso, cada povo tem o governo que merece. Mas isso n? d? Obama o direito de supor o mesmo sobre outras na?s em que uma imensa maioria ?ontr?a a qualquer viola? da vida, como ? massacre de crian?, conhecido com o nome de aborto. Isso n?autoriza a querer reviver o antigo imperialismo norte-americano, agora sem a justificativa do combate contra o nazismo e o comunismo, mas para ajudar a matar inocentes. No entanto, Barack Obama invocou a ben? de Deus sobre os Estados Unidos, no seu discurso como candidato vitorioso. Por que ent? logo em seguida, feriu gravemente a vontade divina, patrocinando o aborto? Mau sinal. A menos que retroaja, o novo presidente americano corre o grave risco de passar para a Hist? como o presidente que come? uma “Nova Era” de desgra? para o povo yankee e para o mundo. Deus tal n?permita. * Professor de Teoria Geral do Estado na PUC-SP e livre docente em Filosofia do Direito pela USP. ?autor do livro “Hist? do Pensamento Jur?co”, S?Paulo, Ed. Saraiva, 2009, 4ª Ed.