• Percival Puggina
  • 23/10/2023
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Cuide-se de quem fala em “luta política”.

 

Percival Puggina

 

         Décadas de vida e centenas de debates políticos me proporcionaram boa experiência em lidar com interlocutores esquerdistas. Ao escrever sobre eles devo dividi-los em dois grupos: o das raras e brilhantes exceções e o dos seguidores da regra geral que consiste em tentar vencer sem ter razão.  Confrontar opiniões com o primeiro grupo era instigante e proveitoso; com os demais, um exercício de comiseração para com a miséria moral alheia, que tem tudo a ver com o que chamam “luta política”. Ela justifica tudo, menos a si mesma porque são termos antagônicos: ou é política ou é luta.

Mesmo assim, procure no Google a expressão “luta política”. Vai encontrar mais de meio milhão de referências em português, um milhão e meio em inglês (political fight) e quase dois milhões em espanhol (lucha política). Achou muito? Dê uma olhada nos textos em que as expressões aparecem e verá que em sua totalidade são de viés esquerdista. A conexão de “política” com “luta” está no DNA da esquerda; as duas palavras são o espermatozoide e o óvulo da revolução.

Conservadores e liberais não usam essa expressão. Ao menos, nunca me deparei com ela sendo utilizada fora da cartilha esquerdista. Sempre a vi como incitação à luta ou como rota de fuga para a desonestidade intelectual justificando meios viciosos com a suposta virtude dos fins.

Perdi a conta das vezes em que ao apontar e advertir o interlocutor por suas contradições, falácias, mistificações, ou agressividade verbal, ouvi como explicação: “É a luta política, Puggina”. Isso é dito como salvo-conduto para impropriedades ou como proveitoso passaporte retórico que credencia o portador a se conduzir como um James Bond, um 007 em relação à verdade ou à reputação alheia, a serviço de sua majestade – a revolução proletária.

Esse aparentemente simples dado da realidade explica muitos dos acontecimentos brasileiros dos últimos anos. Políticos, cidadãos ocupantes de posições de representação e relevo social, titulares de nobres funções de Estado, fizeram coisas que lhes seriam inconcebíveis, contradisseram as próprias palavras ditas e escritas, afrontaram as respectivas biografias, puxaram intocáveis cordéis por exigência da “luta política”. Ou da política transformada em caricatura de si mesma, com danos à democracia, ao estado de direito e à liberdade dos cidadãos.

Enquanto esse modo “vale tudo” de fazer política não for percebido e rejeitado pela sociedade, ou seja, por quem está nas galerias e vota, o palco da disputa pelo poder continuará sendo o preferido das tragédias sociais.  Como afirmei no parágrafo inicial desta crônica, ao falar sobre as “raras e brilhantes exceções”, já conheci gente melhor.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


MARCO ANTONIO GEIB -   24/10/2023 17:29:52

Mestre, quando se atina com os significados das "lutas políticas" é possível ver em seu âmago, porque da ânsia, as raias do desespero, que determinadas figuras do alto Clero Jurídico, do País, insistem em nos tirar o direito a "liberdade de expressão" !!! Entendemos que seja o meio de se discutir com os partícipes das "lutas políticas"... sem irmos as vias de fato !!!

Mauricio -   24/10/2023 09:37:35

A Luta politica e o Politicamente correto são ovos produzidos pela mesma serpente.

JANDIRA LAINI BRANDAO -   24/10/2023 08:28:23

Parabéns Puggina, sempre alerto aos acontecimentos lamentáveis ao nosso tempo. Excelente texto aos dias vividos. Grande abraço

Afonso Pires Faria -   24/10/2023 07:46:23

Difícil, se não impossível, debater com esta gente. Já consegui isso, mas foram pouquíssimas vezes. Usam termos "gatilho", que se o debatedor não for preparado, sucumbe. Eles não tem compromisso com a verdade, o que lhes dá uma grande vantagem em um debate. Parabéns por trazer a baila este tema. Obrigado.

Danubio Edon Franco -   23/10/2023 17:42:16

É velho chavão esquerdista criado por Marx (acho que estou certo). É por aí que se movem suas "ideias", seus "programas", a "solução da pobreza, da desigualdade social", que nunca alcançaram e nunca alcançarão, mas o discurso ainda cola. É bem verdade que por trás desse discurso há uma "elite" que o fomenta e dele tira proveito. E acho que se pode dizer que há uma "elite de segunda classe, que são os propagadores da mensagem, que usufruem das sobras que a primeira lhes permite. A primeira fica nas sombras, financiando a segunda, que se expõe e enchem a boca com a palavra democracia, mas a deles, onde o dissidente não tem palavra nem voz; onde não se respeitam os direitos humanos, nem mesmo o direito de ampla defesa; onde se prende preventivamente pelo crime de dano, mas o traficante pode responder o processo em liberdade; onde a receita federal vasculha as finanças de qualquer um de nós, menos os dos integrantes do STF, por decisão deste. A propósito do direito à liberdade de expressão vale dizer que na "Declaração de Westminster", divulgada por um grupo de intelectuais de vários países a respeito do direito à livre expressão, reunidos em Londres, em junho deste ano, o Brasil figura como um dos violadores: ... "Este complexo muitas vezes opera através de políticas governamentais diretas. Autoridades na (India(1) e na Turquia (2) se apossaram do poder de remover conteúdo político das redes sociais. O legislativo da Alemanha (3) e o Supremo Tribunal Federal do Brasil (4) está criminalizando o discurso político". Nós já sabíamos, agora eles também sabem. É dessa declaração a afirmativa verdadeira de que "A liberdade de expressão é nossa melhor defesa contra a desinformação". Não vamos nos entregar pro homens!