• Percival Puggina
  • 29/04/2024
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Democracia sem valores?

 

Percival Puggina        

         Os recorrentes ataques ao conservadorismo com base na laicidade do Estado guardam relação apenas periférica com temas religiosos. O esquerdismo militante hoje oficial no país entendeu o que as pesquisas de opinião mostram: parcela crescente da sociedade percebeu os descaminhos por onde os “progressistas” a conduzem com muito más consequências. O argumento de que o “Estado é laico” não pega mais. A “progressista” CNBB se encarrega disso. Por fim, os limites entre Igreja e Estado já foram objeto de deliberação: em reta conformidade com a sintética determinação de Jesus, o Estado é laico, sim. A Deus o que é de Deus e a César o que é de César.

O rufo de tambores que ouvimos são os de uma guerra nada santa, a guerra pela completa anulação da influência do Cristianismo na cultura e nos valores morais dos indivíduos na Civilização Ocidental. Quem se dedica ao ateísmo militante, sabe que: 1º) é quase impossível "desconverter" as pessoas de uma fé em Deus para uma fé no Nada Absoluto; 2º) é inaceitável pela sociedade a ideia de um Direito moralmente isento, estéril ou que ignore os princípios e valores compartilhados pelos membros da sociedade.

Diante de tais dificuldades, os militantes do ateísmo cultural propuseram-se a algo muito mais sutil – querem esterilizar a moral nos próprios indivíduos. Como? Convencendo você, leitor, por exemplo, de que os princípios e valores que adota são, na origem, tão religiosos (e por isso mesmo tão pessoais) quanto a própria religião que porventura professe. Integrariam, então, aquele foro íntimo no qual se enquadrariam a religião e suas práticas. Pronto! Segundo o princípio da laicidade do Estado, tais princípios e valores só teriam vigência na sua vida privada.

As investidas contra símbolos religiosos são apenas a ponta do rabo do gato. O felino inteiro é muito mais amplo e pretensioso. Seu intuito é laicizar as opiniões e, principalmente, os critérios de juízo e decisão. Portanto, toda a conversa fiada sobre supostas infrações à devida separação entre o Estado e a Igreja precisa ser entendida como aquilo que de fato é: atitude de quem deseja alijar as opiniões majoritárias porque adotou o Estado, e só o Estado, por fonte de todo bem, baliza perfeita para o certo e o errado e vertente dos valores que devem conduzir a vida social. Convenhamos, é uma tese. Mas – caramba! – qual é, precisamente, a moral do Estado? Na prática, a gente conhece... Na teoria, é a que a sociedade majoritariamente determine, excluída a que moldou a civilização ocidental. Ou seja, aquela que deriva do Cristianismo, proclamada inadmissível perante a laicidade do Estado, blá, blá, blá.

Tal linha de raciocínio não resiste ao menor safanão. Precisa de reforços e apoios propiciados pelo relativismo moral. Cabe a esse filhote da pós-modernidade mostrar que a moral majoritária é apenas uma das tantas que andam por aí através do tempo, do espaço e da miséria humana. Saem às ruas, então, representações desse moderno mundo novo – Parada Gay, Marcha das Vadias, Marcha pela Maconha, ideologia de gênero para crianças.  Escandalosos? Escandalosos perante qual senso moral? O totalitarismo pós muro de Berlim, tipo Foro de São Paulo, precisa do ateísmo cultural e do relativismo para derrogar o cristianismo cultural e o Direito Natural, resíduos empobrecidos do Cristianismo.

Nada contra a liberdade, mas tudo contra o deliberado desvirtuamento moral da sociedade pelos meios institucionais. Destruídos os valores que as fundamentam, a liberdade, a democracia e a própria civilização acabam porque que não se sustentam numa sociedade sem princípios, sem valores e sem vergonha.

*         Artigo publicado em 11 de agosto de 2013, com pequenas atualizações.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 


Celso Corsetti -   02/05/2024 18:10:11

Muito bom Percival. Mas temos que encarar e começar a puxar o barco de conceitos: chega de ir a reboque e somente contestar.Chega de falar em Democracia como conceito .Temos que perguntar : QUE DEMOCRACIA QUEREMOS? NO caso do Brasil ,vamos começar a divulgar aos 4 ventos a resposta a esta pergunta. Com a seguinte resposta: Queremos a Democracia COM CORRUPÇÀO e SEM Liberdade de expressão numero 13...OU...a Democracia SEM CORRUPÇÀO E COM LIBERDADE DE EXPRESSÃO NUMERO 22?NÃO SE PODE FALAR SOMENTE EM DEMOCRACIA. Este conceito é o refúgio-e sempre foi- da esquerda, do socialismo;do comunista, do mentiroso.....Vamos começar a distinguir qual a democracia que queremos. SEMPRE...SEMPRE...SEMPRE quando falarmos, , escrevermos a palavra DEMOCRACIA que seja acompanhado do numero 22..E quando tivermos que contestar alguém, sempre antes perguntarmos: QUAL A DDEMOCRACIA QUE ESTÁS A FALAR?????aa de numero 13 ou 22??????? Entào te lembras Percival: o titulo do teu artigo já deveria ter vindo com este afirmação!!!! Brasil hoje e sempre...Familia acima de tudo...Deus acima de todos...

Ademar Pazzini -   30/04/2024 20:33:37

Um excelente alerta contra o insidioso avanço do progressismo nas entranhas do Estado. Entretanto, acredito que aqui na AL não prosperarão, uma vez que atua nesta região o braço mais atrasado do progressismo global. Como só entregam miséria, corrupção e má gestão, são naturalmente apeados do poder pelo eleitor, mas o estrago sempre é grande.

Dagoberto -   30/04/2024 14:39:19

Atualíssimo!

Mozart Carvalho dos Santos -   30/04/2024 12:00:26

Perfeito, parabéns.

Vitoria Silveira Leonardi -   30/04/2024 11:25:56

Fico pensando, por que o meu pensamento é tão parecido quando leio o que o senhor escreve?

Charalambos Potamianos -   30/04/2024 11:22:39

Uma volta à barbárie é o que os progressistas e modernistas de fato desejam!

FERNANDO A O PRIETO -   30/04/2024 06:20:48

Muito bom, como de costume! Obrigado pela lucidez. É confortador saber que, no tempo de inversão de valores que vivemos, há intelectos fortes lutando contra as perversões tão em moda... Deus o abençoe!