• Percival Puggina
  • 21/08/2023
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Disparidade de armas!

 

Percival Puggina

         Quando postulam em juízo contra a desigualdade de condições a que consideram expostos seus clientes, os advogados usam a expressão “disparidade de armas”. Usarei então esse bordão para apontar o que vejo acontecer no Brasil com a liberdade de expressão no exclusivo e patrulhado território da opinião política.

O problema já começa por aí. Você pode opinar livremente sobre economia, psicologia, filosofia, temperatura dos mares, arquitetura esquimó, inteligência artificial ou boçal, mas se for falar sobre política nacional, quanto mais seus pés forem mantidos firmes no chão dos fatos, maior será o zelo de sua mente em relação ao que vai dizer. Na minha opinião, isso é muito ruim para a democracia.

O leitor deve lembrar que durante a campanha eleitoral, a censura funcionou a pleno. Verdadeira multidão de influenciadores digitais foi penalizada. Empresas de comunicação digital, não alinhadas com as ideias da esquerda, foram submetidas a várias formas de censura (inclusive prévia), ameaças, multas, desmonetizações e cancelamento de seus espaços, sob a alegação de estarem influenciando de modo indevido a opinião pública em detrimento de um dos candidatos.

Por quê? Porque há na lei eleitoral um impedimento ao custeio de campanhas por empresas privadas. Então, produções que gerassem benefícios de opinião a um candidato (sempre o mesmo) eram equiparadas a um aporte financeiro. As empresas que não quisessem um governo de esquerda, então, que não tratassem mais de política, enquanto as demais seguiram com sua campanha.

Desde o período eleitoral de 2018 e nos anos subsequentes, as mais poderosas empresas de comunicação do país agiram em aberta campanha contra um dos lados que se antagonizaram politicamente. Eu nunca vira algo tão intenso e escancarado. Foi assim durante a totalidade do mandato de Bolsonaro e assim seguiu durante a inteira campanha eleitoral. A memória nacional não registra, durante quatro anos, qualquer fiapo de matéria produzida pelo grupo conhecido como o “Consórcio” que contivesse meio adjetivo favorável ao então presidente da República. Nem se fale em “paridade de armas”.

A patrulha era realmente zarolha. As lunetas dos snipers da censura patrulhavam o espaço digital em busca de palavras porque estavam ali seus alvos: as malditas redes sociais que haviam levado Bolsonaro ao poder.

Sempre deixei claro que considerava isso muito ruim para a democracia, porque ela não prescinde da liberdade de opinião.

Houve quem, ingenuamente, imaginasse que findo o pleito, consolidada a situação conforme desejada pelos donos do poder, a liberdade de expressão poderia retornar à normalidade própria das democracias. No entanto, para isso, seria imprescindível haver uma democracia.

As duas melhores provas de que ela morreu à míngua são:

1ª - as propostas já formalizadas para acabar com o que ainda resta de relevância nas redes sociais, únicos veículos utilizáveis pelos eleitores oposicionistas;

2ª – o fato de que agora, em tempo comum, os líderes da oposição, que falam por 59 milhões de eleitores, são ignorados pela velha imprensa  e só são entrevistados pelos mesmos canais que foram politicamente silenciados durante o processo eleitoral.

De modo bem visível por quem tem olhos de ver, a liberdade e a democracia se aviltam com a disparidade de armas e aos golpes dos que se proclamam seus defensores.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


Adalgisa C.Polari -   22/08/2023 18:30:52

Se depois de quatro anos de desmandos de todos os (podres) poderes, alguém ainda esperava que houvesse liberdade de expressão, essas pessoas devem ser muito ingênuas.

Tonho do Paiaiá -   22/08/2023 13:28:42

Mestre Puggina, Com efeito, a "paridade de armas" passou a ser a "unicidade de armas" quando se quer anular o outro lado, sem que lhe seja dado o direito de sequer pensar, por vezes. Um exemplo claro e risível: a construção acusativa para banir do meio político-mandatário o Procurador Dallagnol. Acusaram-no de pensar que algum dia, por isso ou por aquilo, ele seria levado a responder um processo e este - ainda que fosse no século XXII(22 mesmo) - e, por conta disso, lho tornasse inapto a concorrer cargos eletivo. Pensar. Ó pensar, triste pensar! Eis o maior explosivo capaz de exterminar gerações 😪 É como está sendo visto e tratado, hoje em dia, nesse nosso Brasil que, um dia, hão de nos devolver🇧🇷🇧🇷🇧🇷

marisa van de putte -   22/08/2023 13:24:40

Dentre os comentarios le-se " E incrivel a quantidade de pessoas presas, caladas ou cereadas,e tudo isso, feito por praticamente uma so pessoa." Quando Cristo foi crucificado todos cristaos culparam Judas. Ha onze ministros no Supremo Tribunal Federal, e eles se calam perante o que esta ocorrendo. "Quem cala consente."

MARILENE COSTA BRANDALISE -   22/08/2023 12:51:39

Perfeito, professor.

Arlete Viana Moreira -   22/08/2023 10:54:09

Tentei compartilhar no face e colocaram uma verificação.

Gerson Carvalho Novaes -   22/08/2023 10:51:08

Sou Oficial da Reserva do Exército e Diplomado pela Escola Superior de Guerra. Dida-se de passagem: Magnífica Instituição é o Exército Brasileiro! É inútil jogar a culpa dessa confusão pútrida no povo brasileiro. O único fator que me deixa verdadeiramente ansioso e curioso é o tempo: quando, pergunto, será instaurado o nosso ‘Tribunal de Nuremberg’…

Menelau Santos -   22/08/2023 09:01:45

Professor, muito oportuno seu texto. De fato, esses dias eu estava comentando com um um amigo meu sobre como, em dois ou tres anos, nossa liberdade foi pro brejo. É incrivel a quantidade de pessoas presas, caladas ou cerceadas, e tudo isso, feito por praticamente um só pessoa.

Mauricio -   22/08/2023 08:34:57

Prezado Professor, Deve-se analisar a situação como um todo, como chegamos até aqui? As pessoas precisam saber das causas e não apenas dos seus efeitos, essa aberrante disparidade de armas é um dos reflexos de uma agenda que reúne os donos do poder no mundo, ancorados pela ONU, que querem impor uma nova ordem, não adianta apenas ficar lamentando da falta de liberdade de expressão, quando a verdadeira intenção é atingir algo ainda maior que é o fim do livre arbítrio.

Danubio Edon Frando -   21/08/2023 22:41:55

A partir da diplomação de Bolsonaro o "Sistema" passou a atuar para recuperar o que havia perdido - o controle do país. Foram surpreendidos pelas redes sociais, que agora precisam calar, além das poucas redes de comunicação que seguiam o mesmo diapasão. Hoje, qualquer manifestação que não afine com o que pensam é um ato contra a democracia deles (a mesma da China, da Coréia do Norte, da Nicarágua, de Cuba). Pode-se falar o que quiser desde que não contrarie suas ideias. Toda e qualquer restrição que impõem ao cidadão é em nome da democracia, onde o cidadão tem que rezar pela cartilha do governo ou do partido. E tudo que contrarie sua cartilha é um ato contra a democracia, que para eles é um conceito vazio (um tipo penal em branco), preenchido ao sabor de seus interesses. É difícil - quase impossível - fugir ou escapar dessa teia, pois vá lá saber o que são atos antidemocráticos. Pelo menos já se sabe. Segundo o senhor Alexandre de Moraes, colocar em dúvida a Justiça Eleitoral é colocar em dúvida a democracia! Pois é, um sistema eleitoral que não é possível auditar não pode ser questionado porque o "rei" assim quer.