• Marco Antonio Villa
  • 16/02/2009
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FALCIAS SOBRE A LUTA ARMADA NA DITADURA - Folha

Militantes de grupos de luta armada criaram um discurso eficaz. Quem questiona vira adepto da ditadura. Assim, evitam o debate. A LUTA armada, de tempos em tempos, reaparece no notici?o. Nos ?mos anos, foi se consolidando uma vers?da hist? de que os guerrilheiros combateram a ditadura em defesa da liberdade. Os militares teriam voltado para os quart? gra? ?suas her?s a?s. Em um pa?sem mem?, ?uito f?l reescrever a hist?. ?urgente enfrentarmos essa fal?a. A luta armada n?passou de a?s isoladas de assaltos a bancos, seq?ros, ataques a instala?s militares e s?poio popular? Nenhum. O regime militar acabou por outras raz? Argumentam que n?havia outro meio de resistir ?itadura, a n?ser pela for? Mais um grave equ?co: muitos dos grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados logo depois, quando ainda havia espa?democr?co (basta ver a ampla atividade cultural de 1964-1968). Ou seja, a op? pela luta armada, o desprezo pela luta pol?ca e pela participa? no sistema pol?co e a simpatia pelo foquismo guevarista antecedem o AI-5 (dezembro de 1968), quando, de fato, houve o fechamento do regime. O terrorismo desses pequenos grupos deu muni? (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado e acabou usado pela extrema-direita como pretexto para justificar o injustific?l: a barb?e repressiva. Todos os grupos de luta armada defendiam a ditadura do proletariado. As eventuais men?s ?emocracia estavam ligadas ?ase burguesa da revolu?. Uma esp?e de caminho penoso, uma concess?moment?a rumo ?itadura de partido ?o. Conceder-lhes o estatuto hist?o de principais respons?is pela derrocada do regime militar ?m absurdo. A luta pela democracia foi travada nos bairros pelos movimentos populares, na defesa da anistia, no movimento estudantil e nos sindicatos. Teve na Igreja Cat?a um importante aliado, assim como entre os intelectuais, que protestaram contra a censura. E o MDB, nada fez? E seus militantes e parlamentares que foram perseguidos? E os cassados? Quem contribuiu mais para a restaura? da democracia: o articulador de um ato terrorista ou o deputado federal emedebista Lis?as Maciel, defensor dos direitos humanos, que acabou sendo cassado pelo regime militar em 1976? A a? do MDB, especialmente dos parlamentares da ala aut?ica, precisa ser relembrada. N?foi nada f?l ser oposi? nas elei?s na d?da de 1970. Os militantes dos grupos de luta armada constru?m um discurso eficaz. Quem questiona ?achado de adepto da ditadura. Assim, ficam protegidos de qualquer cr?ca e evitam o que tanto temem: o debate, a diverg?ia, a pluralidade, enfim, a democracia. Mais: transformam a discuss?pol?ca em quest?pessoal, como se a discord?ia fosse uma esp?e de desconsidera? dos sofrimentos da pris? N?h?ela? entre uma coisa e outra: criticar a luta armada n?legitima o terrorismo de Estado. Precisamos romper o c?ulo de ferro constru?, ainda em 1964, pelos inimigos da democracia, tanto ?squerda como ?ireita. N?podemos ser ref?, historicamente falando, daqueles que transformaram o advers?o, em inimigo; o espa?da pol?ca, em espa?de guerra. Um bom caminho para o pa?seria a abertura dos arquivos do regime militar. Dessa forma, tanto a a? contr?a ao regime como a dos defensores da ordem poderiam ser estudadas, debatidas e analisadas. Parece, por? que o governo n?quer. Optou por uma esp?e de cala-boca financeiro. Rent?l, ?erdade. Injusto, tamb??erdade. Tanto pelo pagamento de indeniza?s milion?as a privilegiados como pelo abandono de centenas de perseguidos que at?oje n?receberam nenhuma compensa?. ?fundamental n?s?ver as indeniza?s j?provadas como estabelecer crit?os rigorosos para os pr?os processos. Enfim, precisamos romper os tabus constru?s nas ?mas quatro d?das: criticar a luta armada n??poiar a tortura, assim como atacar a selvagem repress?do regime militar n??efender o terrorismo. O pagamento das indeniza?s n?pode servir como cortina de fuma?para encobrir a hist? do Brasil. Por que o governo teme a abertura dos arquivos? Abrir os arquivos n?significa revanchismo ou coisa que o valha. O desinteresse do governo pelo tema ??grande que nem sequer sabe onde est?os arquivos das For? Armadas e dos ?os civis de repress? Mant?os fechados s?menta os boatos e as vers?fantasiosas. * Professor de hist? do Departamento de Ci?ias Sociais da Universidade Federal de S?Carlos (UFSCar) e autor, entre outros livros, de Jango, um perfil.