• Percival Puggina
  • 24/09/2022
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O curioso mundo de palavras onde o marxismo vive.

Percival Puggina

         Telefonou-me antiga secretária. Contou-me que, aposentada, voltou aos bancos escolares e cursa os últimos meses da titulação acadêmica que escolheu. “Marxismo de tudo que é jeito, em doses maciças, Puggina!”, exclamou-se ela. No início, contestava os professores, mas, lá pelas tantas, cansada dos repetitivos confrontos, impôs silêncio a si mesma para não se prejudicar. Contou que nos primeiros meses, sempre que apontava os sucessivos fracassos das experiências comunistas, os professores tiravam da manga o velho clichê: “Interpretaram Marx muito mal”.

Quem ainda não ouviu isso em aula ou roda de amigos? Pois é. Marx é o indivíduo mais mal interpretado da história humana. Só a militância de esquerda, titular do quadro negro, proprietária do toco de giz, exercendo de modo monopolista o direito de atribuir nota a seus alunos é capaz de interpretá-lo corretamente. E assim, dentro da sala de aula, no estranho mundo de palavras onde a esquerda habita, as 42 experiências políticas do comunismo, seus 100 milhões de mortos (aos quais se acrescenta agora o genocídio venezuelano) viram problema de interpretação. Basta ler Marx adequadamente para o comunismo se tornar um sucesso... também no mundo das palavras, claro.

Embalados por professores aos quais foi dado o privilégio de interpretar Marx perfeitamente, políticos de esquerda, mundo afora, desenvolveram, como afirmou alguém, extraordinária capacidade de dizer e propor coisas terríveis de modo absolutamente cativante. Espalham ódio, acabam com as liberdades públicas, produzem fome e violência, mas o fazem sorrindo, em nome da fartura, da igualdade, da solidariedade e dos mais elevados valores que se possa conceber. E que se danem os fatos mesmo quando a realidade se mostra desengonçada do discurso.

É o caso da Venezuela e do entusiasmado apoio da esquerda brasileira aos ditadores Hugo Chávez e Nicolás Maduro, e à autodenominada revolução bolivariana, já com a população em fase de perda doentia de peso, a caminho de seu holodomor. É o caso de Cuba, onde pedidos de liberdade são dissolvidos a porrete e cadeia. É o caso da Nicarágua, onde padres são presos e onde Ortega, em seu quarto mandato consecutivo diz que é ele quem manda.

No mundo utópico das palavras geradas na mente esquerdista, contudo, todos terão um futuro promissor assim que Marx for bem interpretado por seus ditadores. Não apenas lastime pelos cidadãos que sofrem nesses países. Lembre-se do que acontece em nossas salas de aula. Elas não podem ser a antessala da tragédia da utopia.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Luciano Pereira da Silva -   28/09/2022 07:20:26

Professor Puggina, é com muita satisfação que deixo meu comentário, assisto as informações e notícias do dia a dia, e temo que daqui um pouquinho, não teremos mais pessoas como o Sr. Puggina, para nos trazer informações e conhecimento de fato como são na realidade. Peço à Deus , que ele te dê muitos e muitos anos de vida, para continuar nessa luta, a de refutar as falácias que corrompem e que protegem os corruptos, tentando inocentar, os criminosos e usurpadores de nossa liberdade! Um grande abraço Professor Puggina.

Osvaldo -   27/09/2022 20:46:05

O socialismo/comunismo dá certo apenas e tão somente na teoria. Basta ler "A revolução doa bichos"

MARIA INÊS DE SOUZA MEDEIROS -   26/09/2022 23:12:53

A internet com seus bravos patriotas conservadores, cujo excelente exemplo és tu, Puggina, estão oportunizando uma reflexão entre os jovens e muitos adultos desavisados. A ameaça é a esquerda, c/ a pretensão de censurar a mídia.

José Rui Sandim Benites -   26/09/2022 19:47:56

Obrigado Mestre Puggina por mais um texto verdadeiro. O que me leva aquela dita popular: "Pai trabalhador e rico pelo seu trabalho, filho comunistas ou socialista e neto pobre."

Valter D Sasso -   26/09/2022 11:32:16

Quem lê e entende Marx não o segue nem a força, agora os que lêem e não entende esses são os esquerdopatas de plantão corroendo a sociedade e dilapidando o estado.

Claudio A. Sachet -   26/09/2022 10:49:17

Espetacular...

Hermeto Silva -   26/09/2022 09:54:34

Infelizmente esse quadro parece imutável. Os meios acadêmicos estão blindados e não permitem que se mexa em sua estrutura de poder. Temos como símbolo disso uma estátua de Mujica no pátio de uma das UNIPAMPAS, salvo engano, a de Bagé. Simplesmente resolveram homenagear um comunista r assim fizeram. Estão, como diria Lula, "como pinto no lixo".

José Vicente Lessa -   26/09/2022 09:31:50

Não pode haver contradição no mundo dos fatos, no plano da realidade. Podem existir paradoxos, mas não contradições. Socialismo democrático é uma contradição em termos. Podemos idealmente pensar num cocô com aroma de jasmim, sândalo ou lavanda. Mas nunca encontraremos um tal objeto no mundo real. O mesmo se dá com “socialismo democrático”.

Ricardo -   26/09/2022 08:03:33

Olá Puggina, em primeiro lugar obrigado por este e outros artigos de qualidade que o senhor escreve. Assisti recentemente o trabalho da Brasil Paralelo, pátria Educadora, e gerou-me um misto de tristeza e preocupação, afinal sou pai de uma menina de 18 anos. A diferença é que procuro cuidar para que a percepção do mundo que ela têm seja de acordo com princípios conservadores, e acredito estar tendo sucesso. Se cada pai desse aos filhos a oportunidade de conhecer algo além do que a TV aberta (fechada também) proporciona estaríamos dando a oportunidade do conhecimento pleno, ou seja, conheceriam o que as escolas e seus dinossauros acadêmicos proporcionam, bem como também teriam a oportunidade de conhecer o outro lado. Nunca vi um conservador tornar-se comuista, já o contrário acontece diariamente, graças a Deus ! Obrigado pelo conteúdo.