• Editorial do Estadão
  • 03/02/2009
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O F?UM DE BEL?

Realizado durante a semana passada na cidade de Bel? com um total de 5.808 entidades e organiza?s n?governamentais (ONGs) inscritas, das quais 4.193 de pa?s da Am?ca Latina, o F? Social Mundial come? com passeatas, dan? ind?nas e cantorias folcl?as, para del?o dos cinegrafistas europeus, e terminou, como os encontros anteriores, com o lan?ento de v?as declara?s, manifestos e cartas de princ?os politicamente corretos, cuja ret?a retumbante n?esconde a inconsist?ia que impede conclus?definidoras dos objetivos novomundistas. Tudo o que foi dito, cantado, encenado e escrito na capital paraense ? repeti? da mesma ladainha anticapitalista e antiliberal j?ntoada em 2001, quando o encontro, concebido por ativistas de uma esquerda cada vez mais festiva para servir de contraponto ao F? Econ?o Mundial, de Davos, foi realizado pela primeira vez, na cidade de Porto Alegre, com os participantes brandindo o slogan um outro mundo ?oss?l. Entidades ind?nas, por exemplo, reafirmaram que os ?ios n?devem ser tratados como folclore da humanidade. ONGs representantes de camponeses reivindicaram a democratiza? do uso de recursos naturais e criticaram as mineradoras, as hidrel?icas e os megaprojetos de produ? de etanol e ?ool hidrocarburante. Sindicatos elogiaram a heroica revolu? cubana. O Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Via Campesina mais uma vez denunciaram a propriedade privada e o agrobusiness e prometeram resistir ?tentativas de criminaliza? das lutas populares. E os professores universit?os, intelectuais e artistas presentes defenderam iniciativas de comunica? transformadoras como alternativa para o que chamaram de terrorismo midi?co. Na realidade, o F? Social Mundial, que n?foi realizado no ano passado por absoluta falta de recursos e acabou sendo promovido este ano somente gra? ao polpudo apoio financeiro do governo brasileiro, n?passa de uma esp?e de supermercado ideol?o. Como as entidades inscritas insistem em se apresentar como representantes de minorias, os interesses que defendem s?muito espec?cos e as reivindica?s que apresentam s?setoriais, o que torna dif?l, sen?imposs?l, a formula? de propostas concretas e minimamente exequ?is para os problemas sociais e econ?os do mundo contempor?o. O F? terminou, mais uma vez, sem a vota? de resolu?s oficiais. Ao tentar justificar esse fato, um dos organizadores do encontro, C?ido Grzybowski, alegou que os participantes decidiram n?repetir a velha pol?ca de definir o que deve ser a prioridade para outros. Mais realista, outro organizador do evento, o soci?o Emir Sader, n?escondeu seu desencantamento. H?m certo sentimento de frustra? em rela? ao que o F? poderia dizer ao mundo (mas n?disse), mas parece que est?irando em falso. Onde est?as massas nas ruas mobilizadas pelas ONGs? , perguntou. Como nos encontros anteriores, o denominador comum dos diversos manifestos, documentos, declara?s e cartas de princ?os divulgados no final do F? foi o nost?ico e surrado repert? de clich?politicamente corretos e de jarg?anti-imperialistas dos anos 50 e 60 do s?lo passado. A crise econ?a, por exemplo, foi apresentada como atestado do fracasso da globaliza? neoliberal. Institui?s financeiras e bolsas de valores foram tratadas como mecanismos espoliadores do sistema capitalista. E organismos multilaterais foram acusados de serem respons?is pelo d?to dos pa?s pobres. Al?da incapacidade de votar resolu?s finais, o que demonstra que os participantes t?dificuldade para definir um outro mundo poss?l, o F? Social Mundial apresentou outra contradi?. Embora os organizadores tenham afirmado que esse tipo de encontro deve ficar distante de governos, o evento de Bel?contou com a presen?de cinco presidentes. Todos eles fizeram discursos t?previs?is quanto inconsequentes e quatro chegaram a participar de um constrangedor karaok?entoando um hino em homenagem a Che Guevara. Se isso significa que para eles o novo mundo poss?l ? que o Che ajudou a criar em Cuba, ?elhor continuar tentando consertar o velho.