• Percival Puggina
  • 19/06/2023
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O futuro dos humoristas brasileiros

 

Percival Puggina

         O bom humor e o riso fazem bem à saúde. Com mau humor, mais remédios serão necessários para curar moléstias que se desenvolvem entre cenhos franzidos e maus sentimentos. No Brasil dessa nova ordem política, humoristas e bem humorados andam sobre o fio de uma navalha, cuidando da sola do tênis e olhando para os lados. Sua atividade é de elevado risco e pode acabar na supressão dos meios de vida e/ou na perda da liberdade.

Chama a atenção, neste período da nossa história em que há sisudo represamento do humor, saber que se pode fazer piada, chacota e vilipêndio sobre o efetivamente sagrado, mas pode dar problema fazer piada sobre figuras que se têm como sagradas no protagonismo dos poderes de Estado. Aliás, não só se têm como sagradas, mas agem como se elas, seus ditames e objetos de culto fossem merecedores de devoção. Observar isso é recreativo para quem tenha preservado o senso de medida e de justo valor. Como podem as pessoas usar tais lentes para contemplar a si mesmas? Mormente quando põem em relevo a própria miséria ou quando a miséria do ditame transparece sob a luz dos fatos?

Lula, como se sabe, disputou a eleição presidencial em condição análoga a de um efeito holográfico, um corpo de luz não identificável com a pessoa real que usava o mesmo nome e apelido. Era um Lula autorizado a competir sem que seu passado, seus amigos e seus governos pudessem ser mencionados se não fosse para elogiar.

A Revista Oeste, por exemplo, foi censurada ao mostrar a relação do candidato com ditadores de esquerda, entre eles, Daniel Ortega. Embora a história dessa relação bem conhecida viesse de longa data, o parceiro nicaraguense, cujo governo é denunciado por torturas, violência contra opositores, fechamento de Igrejas e perseguição de religiosos, reconhecido como ditador pela OEA, não pode ser referido na disputa presidencial brasileira. E esse caso é apenas um dos tantos em que a verdade teve que ir para o porão numa hora em que deveria ser apregoada dos telhados.

Em março, o próprio embaixador da Nicarágua na OEA se encarregou de denunciar a ditadura em seu país, durante reunião do Conselho da instituição em Washington! “Tenho que falar, ainda que tenha medo, e ainda que meu futuro e o da minha família sejam incertos”, disse, acrescentando que seu país tem 177 presos políticos e mais de 350 mortos desde 2018.

Agora, sob comando do Lula real, o Brasil escreve à OEA solicitando que sejam suprimidas do documento preliminar da próxima reunião as críticas à ditadura de Ortega por violação dos direitos humanos dos dissidentes. Como se sabe, para a esquerda, direitos humanos são atributos dos esquerdistas. A representação do Brasil petista pede que em vez de “a volta à democracia” seja solicitado “fortalecimento da democracia”.

O que mais precisa acontecer para que entendamos ser esse um sintoma de nosso próprio problema? Que é por estarem essas ideias no poder que ficou assim o que chamávamos liberdade, democracia e estado de direito?

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


CAD -   21/06/2023 13:30:42

Sempre Brilhante e Preciso. Parabéns.

André Carvalho -   21/06/2023 13:01:28

Quero quer que "senhos" é com "c", e não "s", sr. Puggina.

Manoel Luiz Candemil -   21/06/2023 12:00:10

Apenas humoristas e bem humorados andam sob o fio da navalha? E jornalistas e blogueiros como estão nesse contexto?

jose carlos Antunes -   21/06/2023 09:43:03

Parabéns e bom saber que ainda quem bem escreve para nos livrarmos do mau

Menelau Santos -   20/06/2023 16:56:59

Poxa Gerson...muito boa essa!

Menelau Santos -   20/06/2023 16:32:15

Quando li o texto do Professor, que os humoristas andam olhando para o lado. me ocorreu o seguinte. Pelo menos antigamente, era comum as roupas dos mais velhos serem usadas pelos mais novos. Pensei nisso porque, se pegarmos as músicas que foram compostas para criticar a ditadura militar brasileira, elas serviriam perfeitamente para criticar nossa situação atual. "Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão", "só encontro gente amarga mergulhada no passado, procurando repartir seu mundo errado", "Olá, como vai? Eu vou indo e você, tudo bem? Tudo bem eu vou indo correndo Pegar meu lugar no futuro, e você?", "vai meu irmão, pega essa avião, você tem razão, de fugir assim desse frio mas beija, o meu Rio de Janeiro, antes que um aventureiro lance mão", "é proibido proibir", "tudo certo como dois e dois são cinco", e por ai vai...

Walter Luís Lot Pontes -   20/06/2023 14:42:38

Não bastasse a péssima "safra de hum0ri5t4s" - aliás, d3 suje171nh05 que se 4ch4m ser dos melhores "naipes jerrylewisianos" e que, na tr1ste re4lidade, apenas sabem deb0char de v4lores e de crenças 4lhe105, 4g0r4 nossas instituiç0es - que outrora t1nh4m e d3f3nd14m estes ref3renc141s, trabalham apenas e tão som3nte por 53u5 1nt3r355e5 c0rpor4tivos e/ou psss0AIs de 53u5 membr05. 3 53 v0cê c0ns3gu1u 73r 15t0 é p0rqu3 54b3 qu3 n0554 11b3rd4d3 3574 p0r 1 f10...

ALICE ALVES -   20/06/2023 10:06:49

Cada dia mais eles tentam nos enfiar na cabeça, que estão certos...Mas podem fazer tudo...nós sabemos a verdade e passaremos para nossa descendência.

Geraldo Barros -   20/06/2023 08:22:42

Liberdade tornou-se algo totalmente proibido no País dos PTralhas. Se você faz parte do sistema, pode falar o que lhe der na cachola.

GERSON CARVALHO NOVAES -   20/06/2023 08:02:09

O PADRE E O PAPAGAIO DELATOR (especial para cristãos) Havia um padre, sua igreja e seu amado papagaio. O padre era bastante conservador e essa era a sua mensagem aos fiéis. Futebol, por exemplo, dizia a todos ser uma coisa do demônio. Entretanto, a verdade era que ele adorava futebol. Não perdia um só jogo de seu time que ouvia em seu radinho, em seu cantinho. Um dia, cheio de amor em seu coração, levou o papagaio para a missa. E foi falando sobre as andanças de Jesus aos cheios de fé: e Jesus passou por Belém... e Jesus passou por Nazaré... e Jesus passou por Cafarnaum... e Jesus passou por Jericó... e Jesus passou por Cesareia... e Jesus passou por Betânia... e Jesus passou por Jerusalém... De repente, o papagaio, que até aquele momento estava quieto, gritou: PQP! Ninguém segura esse cara!...