• Percival Puggina
  • 15/06/2021
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O GRANDE INQUISIDOR DO SENADO

Percival Puggina

 

Costumo falar com meus botões. Eles estão sempre disponíveis e são muito bons ouvintes. Sobretudo os de quatro furos. Os de dois furos são mais desatentos e só resolvem dar sinais de sua existência quando estão pendurados por um fio. Pois bem, enquanto assistia alguns minutos da CPI da Hidroxicloroquina, cochichei aos meus botões: “Esse Senado não tem mais jeito. A maioria assumiu sua degradação moral”.

Todos os 80 membros da Casa conhecem a biografia de Renan Calheiros. Ele foi o escândalo nacional de 2007 a partir de uma denúncia da revista Veja, em maio daquele ano. Tivera uma filha com a jornalista Mônica Veloso e uma empreiteira pagava a ela vultosa pensão mensal. A partir daí, iniciou-se o que ficou conhecido como Renangate. Durante meses, sucederam-se apurações e investigações envolvendo os negócios do então presidente do Senado Federal. As denúncias incluíam o uso de "laranjas" para dissimular a compra de veículos de comunicação em Alagoas, a venda fictícia de 1,7 mil cabeças de gado para empresas frias, com notas fiscais mais frias ainda. Toda a boiada de Renan foi vendida num período em que Alagoas estava com as fronteiras fechadas para o transporte de gado em virtude de um surto de aftosa. E por aí foi o desastre moral de Renan. De maio a setembro de 2007, ele foi o assunto preferido das manchetes. A 12 de setembro, em sessão secreta, o Senado votou proposta para decretar a perda de seu mandato. Todos os senadores compareceram à sessão. O alagoano safou-se por uma diferença de seis votos.

O mais interessante vem agora. À medida que avançavam as investigações da imprensa e se desnudavam as artimanhas usadas para justificar o injustificável, aumentou a pressão da opinião pública. Quanto mais Renan explicava, mais se enrolava. Sua permanência no comando da mesa dos trabalhos constrangia e afrontava o decoro de todos os membros do poder. Senadores pediam a palavra para dizer que se sentiam constrangidos com a presença dele na direção dos trabalhos. Por fim, ele se licenciou da presidência por 45 dias e, logo após, renunciou ao posto, mantendo o mandato.

Quem poderia imaginar, naquela época, Renan Calheiros reeleito senador em 2010, presidindo novamente o Senado entre 2013 e 2017 (já sem constrangimento de quem quer que fosse), tornando-se, dois anos mais tarde, o grande inquisidor de uma CPI e mandando abrir as contas daqueles cujo depoimento o desagrada.

A ousadia da máfia que ainda maneja cordéis da República não encontra limites. Não se trata, aqui, de saber se, quando, nem como, as muitas denúncias e inquéritos que envolvem a figura do senador (o Estadão jura que são apenas nove...) acabaram num arquivo morto ou dormem em gavetas da confraria ativa no STF. Trata-se de entender que só pode haver um motivo para essa absolvição pelo silêncio conivente e pelo manto protetor do tempo: seu comprometimento com um projeto de poder que insiste em retomar sua tenebrosa tarefa.

Essa CPI é muito mais reveladora sobre o próprio Senado do que sobre aquilo a que se propôs.

 

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Luiz R. Vilela -   17/06/2021 09:06:30

Sacra congregação do santo ofício ou simplesmente a inquisição, foi um movimento criado dentro do catolicismo, na idade média, para acabar e punir as heresias. Haveria alguma semelhança com a atual CPI da Hidroxicloroquina? Aparentemente não, porém ambas teriam por motivo, a crença e a descrença. A inquisição religiosa, teria por finalidade impor a fé religiosa entre os indivíduos, punindo os descrente. Já a CPI, tem por finalidade, impor aos simpáticos ao tratamento com a hidroxicloroquina,, a sua total ineficiência, isto porque a prática saiu da imaginação do presidente da república, e tudo o que é da lavra ou simpatia de Jair Bolsonaro, é prejudicial ou pecaminoso, segundo o pensamento de todos os descontentes com o resultado da última eleição. Renan Calheiros, incorpora com maestria a figura de Tomas de Torquemada, o principal inquisidor da inquisição religiosa. Porém se Torquemada, tivesse uma "folha corrida" ou "capivara", como costuma-se chamar os antecedentes criminais, como o relator da CPI, teria sido o primeiro a enfrentar a fogueira, haja visto que pessoas que tem graves acusações contra si, não podem, nem legalmente, muito menos moralmente, acusar alguém, é verdadeiramente o rabo abanando o cachorro, coisas de um pais onde a legalidade e a moralidade, são tão dispensáveis, quanto um pedaço de papel higiênico usado. Triste pais, onde estas coisas acontecem e ficam na impunidade, e cada vez as os costumes se deterioram.

Amaro Mateus Filho AMARO -   16/06/2021 15:10:45

Realmente o Senado federal a Câmara dos Deputados juntamente com o famigerado STF: A que prestam ?

cezar duarte -   16/06/2021 12:54:56

Cavaleiro Percival, parabéns por sua lucidez, suas colunas são um farol em meio a este mar de informações tendenciosas. Quanto às revelações desta CPI é bem verdade, não trouxe nada relevante senão a conduta destes nobres "representantes", restando a nós perguntar o que fazem aí estes sacripantas, a que interesses servem, a quem representam, quem os elegem? Não podemos esquecer que a ordem de abrir esta CPI veio do Supremo, avalista da montagem deste picadeiro onde estes seres abomináveis, cem vezes processados, se exibem. Grosseiros, petulantes, autoritários, desrespeitosos com aqueles que não respondem as perguntas da maneira como já estão assentadas em seus relatórios pré-escritos, se exibem como realmente são: oportunistas e desonestos, como a extrema-imprensa que lhes dá cobertura. Afinal, ficamos sabendo de que é capaz boa parte do Senado Federal. Do nível dos seus membros e dos seus reais interesses. E da desilusão dos brasileiros em saber que as mudanças estão cada vez mais distantes.

RONALDO LUIZ TENÓRIO DE OLIVEIRA -   16/06/2021 10:59:10

Vergonha por ser alagoano, vergonha pelos eleitores de Alagoas terem elegido esse crápula e vergonha de um Senado corrompido ou mesmo capacho de um ladrão, corrupto e medíocre Senador da República. Puggina você, como sempre, demonstrou a sua competência e habilidade em demonstrar para o publico o que está ocorrendo nas teias da Republica. Sou seu fã de carteirinha e sempre replico as suas postagens. Um grande abraço Ronaldo Tenório

Rogério luciano Neves -   15/06/2021 18:27:49

PREZADO SR. PERCIVAL ADMIRO MUITO, QUERIA ENTENDER COMO ESTA CPI ESTÁ SE MANTENDO COM TODOS ESTES ABSURDOS.....E ATÉ QUANDO VAI DURAR ???