• Percival Puggina
  • 31/01/2022
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O SENADO E AS FICHAS SOBRE A MESA

 

Percival Puggina

 

         O presidente cumpriu o que dissera: não atende mais determinações do ministro Alexandre de Moraes. Ao considerar extemporâneo o pedido da AGU para que o presidente, em vez de comparecer à delegacia como estabelecera o ministro, se manifestasse por escrito, Alexandre dobrou a aposta. Bolsonaro, por sua vez, dobrou também, silenciando.

Que outras fichas tem o ministro para pôr sobre a mesa? Os colegas do Pleno. Irão cobrir a aposta dele e ordenar o comparecimento do presidente a uma delegacia?

Há alguns meses, isso não surpreenderia. Hoje, não sei não. Esse é um jogo que roda sob os olhos da sociedade e esta já percebeu o empenho com que o ministro e a maior parte de seus colegas dão curso à tarefa de destruir a harmonia entre os poderes e desestabilizar o governo.

“Tanto vai o cântaro à fonte que um dia lá se quebra”, diz um bem aplicável provérbio. A fúria persecutória contra o presidente da República e seus apoiadores se tornou tão evidente que ele, tudo indica, resolveu dar um basta. De fato, quando se pensa em todas as violações do sistema acusatório que vigem em inquéritos abertos dentro do STF e se percebe o quanto esses inquéritos são pernetas, puxando sempre para o mesmo lado, não há como a sociedade não se escandalizar.  

Enquanto os dias passam, olho para o Senado e percebo que o Senado não olha para mim. Nem para você, leitor. O Senado olha para os senadores e estes só atentam para si mesmos. Com a mais generosa boa vontade, as exceções a esse quadro egocêntrico não chegam a vinte.

Eis uma das grandes missões da ação política em favor do Brasil ao longo deste ano eleitoral. Vinte e sete senadores serão escolhidos pelos eleitores no primeiro domingo de outubro. Cada estado deve passar um pente fino na atuação dos que se apresentarem buscando renovar os mandatos. É preciso conhecer e tornar conhecidas, entre outras, as respectivas posições em relação à CPI da Lava Toga, à CPI da Covid, à prisão após condenação em segunda instância, à governabilidade do país, ao pacote anticrime.

A rigor, toda a insegurança jurídica causada por excessos monocráticos e colegiados do STF, apontados por Marco Aurélio Mello quando ministro, podem ser atribuídos ao desequilíbrio causado pelas décadas em que coube à esquerda política (mais precisamente a José Dirceu) apontar ao Senado os ocupantes dessas cadeiras. Agora, é o que temos, um poder de estado fazendo política sem voto.

Deveria ser tarefa de gincana encontrar um esquerdista, investido de autoridade, que se mantenha dentro de seu quadrado.

Para o Senado, diferentemente do Supremo, a vida segue outro curso. Nossa Câmara Alta é um poder cujos membros se submetem à manifestação periódica de seus eleitores. Então, em outubro, sela-se o destino de 27 senadores. Salvem-se os raros bons e renovação já! Os restantes 54 entram na contagem regressiva para 2026. Também a estes deve ir o recado dos cidadãos de seus Estados. É a hora da cobrança, da revisão de vida, do respeito ao eleitor, da transparência das condutas. Hora de compreender que dirigir é servir.     

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Selma Rocha -   02/02/2022 11:10:37

O inquérito em questão não era sigiloso, só ganhou o selo de sigilo total e absoluto após o presidente divulgá-lo, aliás, a quem interessa esse sigilo? Todos os cidadãos merece saber a quantas anda as investigações, como podemos confiar no sistema atual, se os que deveriam dar transparência quer jogar tudo embaixo do tapete?

MARCO ANTONIO LONGO -   01/02/2022 18:39:42

Alguém reza pelo Brasil?

Antonio Fernando Bassotelli -   01/02/2022 18:04:08

Bolsonaro pode às vezes parecer grotesco, mas definitivamente não é "burro". O sigilo desse inquérito fake foi determinado sigiloso após a sua divulgação pelo Presidente, conforme declaração do antigo Delegado que foi estranhamente substituído.

Sandra Mari Cordova D Agostini -   01/02/2022 17:54:19

Caro Paulo Helmich. Interessante seu comentário. Mas se noutra perspectiva, o inquérito é ilegal no nascedouro?

Paulo Helmich -   01/02/2022 14:43:22

Bom, se for comprovado de que não havia sigilo algum sobre o Inquérito do Hacker do TSE, e que este foi determinado somente APÓS a Live presidencial, obviamente o Moraes terá que desistir de tentar humilhar Bolsonaro! Mas se, ao contrário, de fato havia ordem judicial de sigilo do inquérito já ANTES da tal Live, Bolsonaro estará em maus lençóis!!

Edie -   01/02/2022 12:59:28

Infelizmente, com todo o aparato de inteligência que o ajuda, o Bolsonaro continua sendo ingênuo, basta um segundo e ele morre ou cai, então de que adianta manter essa estrutura corrupta de pé esperando tirar peça por peça se a probabilidade é ele cair ou ser assassinado antes de conseguir desaparelhar esse monstruoso STF.

Antonio Ferraz -   01/02/2022 12:27:35

"Enquanto os dias passam, olho para o Senado e percebo que o Senado não olha para mim". Perfeito!

Isolda Torma Cestari -   01/02/2022 09:50:32

Sua inteligência e sabedoria são maravilhosas! Que Deus o proteja sempre!

Cristina Hilgert -   01/02/2022 08:01:04

Lula e José Dirceu têm feito uma peregrinação em busca de "aliados". Nem quero imaginar o que tem sido negociado. Não são tantos os ministérios, para acomodar tantos corruptos.

José Paulo Moletta -   01/02/2022 01:01:49

O Senador, duble de Jornalista que concorre a reeleição.em quem, infelismente votei, não terá meu voto.

María do Carmo Cargnelutti Petry -   31/01/2022 18:45:05

Que Deus ilumine o povo brasileiro e que este dê seu voto com consciência para que não perca esta grande oportunidade de renovação na política do nosso Brasil. É a hora de enterrar definitivamente a esquerda e seus adeptos!

Marcos Antonio Scheffer -   31/01/2022 15:59:20

Espero que cada cidadão saiba votar. Não penso ser possível reeleger político sem voz, que não representa o cidadão de seu estado. Cansamos de visualizar a falta de reação, quando muito, apenas uma conversa mole, cheia de desculpas.

Neife Elias Mathias Filho -   31/01/2022 11:28:07

Texto primoroso! Para um bom entendedor a atitude do Presidente Bolsonaro em não atender ordem inconstitucional e absurda de um advogado de toga, vilipendiador e estuprador da CF, as cartas estão na mesa!

Pedro Ferreira de Brito -   31/01/2022 10:49:46

OREMOS , PARA QUE OS ELEITORES SEJAM GUIADOS PELA JUSTICA DIVINA E SAIBAM ESCOLHER.

Walter Gonçalves Santos -   31/01/2022 10:47:59

Parabéns. Os seus comentários sempre corretos e incisivos (sem ofender), refletem o pensamento de quase todos nós que amamos essa abençoada pátria. Muito obrigado.