• Percival Puggina
  • 01/03/2009
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OS ARREPENDIDOS

Existem fatos que, de modo impiedoso, nocauteiam suas vers? O leitor certamente lembra dos dois boxeadores cubanos que desertaram durante o Pan e acabaram deportados. A respeito deles, o que mais se ouviu na vers?oficial foi que “estavam arrependidos” e “pedindo para voltar”. Talvez nada retrate melhor essa lorota do que o texto de conhecido jornalista econ?o, intitulado “O caso dos pugilistas cubanos” (procure por tal t?lo na internet e divirta-se). Nessa p?la do servilismo digital afirma-se que eles haviam sido “enganados por um empres?o europeu, passaram alguns dias em uma boa farra, enquanto aguardavam para fugir para a Europa (...) at?ue se deram conta de que os empres?os eram malandros”. Em vista disso, esclarece o companheiro jornalista, ambos se “apresentaram numa delegacia” – ao que junta um competent?imo “se n?me engano” – “pedindo para voltar para Cuba”. N? ele n?se engana. A servi?da causa, como muitos outros, ele quis nos enganar a todos. Mas o dif?l, mesmo, ?ludir os fatos. Meses depois, Erislandy Lara se arrependeu do arrependimento e escapou de Cuba para o M?co, contratado pelo mesmo empres?o que tramara a fuga no Brasil. Livre e solto, como conv?aos seres humanos, informou que o colega Rigondeaux, parceiro na empreitada daqui, permanecia em Havana, vivendo de biscates, proibido de lutar. Ali? sobre isso nunca houve d?a porque, t?logo os teve de volta, Fidel declarou ao Granma que atleta que abandona delega? ?omo “soldado desertor”. E l?icou Rigondeaux, talentoso bicampe?ol?ico e mundial, passando necessidades para sobreviver, curtindo remorso. At?ue, agora, agorinha mesmo, na ?ma segunda-feira, arrependeu-se do arrependimento e evadiu-se para Miami, onde permanece, livre e solto como at?s pombas conv? Exatamente como estava quando seu sonho foi truncado pela interven? das nossas autoridades. Deus, como os fatos s?reacion?os! A fuga do segundo boxeador joga na lona, com olho roxo, a vers?brasileira. Por que n?tiveram para com os rapazes uma fra? do respeito que devotam para com seus algozes em Cuba? Foi o afeto e a rever?ia que nossos governantes dedicam a Fidel que geraram a constrangedora seq?ia de erros. O maior de todos, sem d?a, foi o total isolamento dos atletas enquanto estiveram sob seu zelo e vigil?ia. Gra? a isso, por v?os meses, s?vemos vers?e quase nenhum fato. Mas n?foi preciso contar at?ez. Teimosos, os eventos se ergueram como se n?soubessem com quem estavam lutando. E aprontaram esse tipo de constrangimento. A prop?o, conv?esclarecer: ?em prov?l, mesmo, que os cubanos, quando presos no Brasil, conscientes de que voltariam para a ilha-pres?o, se tenham declarado “arrependidos”. Esse arrependimento, formal, faz parte da liturgia comunista desde os tempos de Stalin. ?algo que n?se passa no plano da consci?ia, mas um pouco mais abaixo, ali onde o medo se manifesta. A primeira exig?ia que incide sobre quem cai em desgra??sse “arrependimento”. Depois sobrev? impiedosas, as puni?s. Stalin esperava o arrependimento p?co, cobrava a dela? de todos os dissidentes falsos ou reais, aguardava o pedido de compaix?e s?t?mandava matar. Coisa de alguns milh? apenas. O m?co cubano Oscar Elias Biscet, por outro lado, resolveu lutar com os fatos. Come? a fazer discursos contra o aborto, no hospital onde trabalhava, e agora cumpre pena de 25 anos de pris? Mas para o humanista e solid?o governo brasileiro, claro, isso n?quer dizer coisa alguma. Imprest?l, mesmo, ? justi?italiana. Especial para ZERO HORA, 01/03/2009