• Percival Puggina
  • 10/12/2023
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Os três terremotos

 

Percival Puggina

         Em palestra ao Ministério Público Federal, no dia 7 deste mês de dezembro, abordando o combate à corrupção com ênfase às ações preventivas, em certo momento, o ministro Alexandre de Moraes disse o seguinte (transcrição palavra por palavra do vídeo original que pode ser assistido aqui):

“[A corrupção] é uma chaga que corrói a democracia, como nós vimos nestes últimos tempos com um abalo sísmico no mundo político, que teve suas consequências - é importante dizer isso porque esse vácuo deixado teve a consequência do retorno de uma extrema direita com ódio no Brasil e quem enxerga essa sequência está falhando; talvez realmente não houvesse o que fazer – não é? – depois que se descobriu a corrupção, mas sim antes, preventivamente. Então nós temos que aprender com nossos erros institucionais e nos perguntar por que chegamos a esse ponto. Por que chegamos a um ponto em que a corrupção perdeu a vergonha na cara naquele momento do mundo político e o combate – todos os sistemas preventivos falharam – o combate à corrupção acabou criando um vácuo muito grande e esse vácuo gerou uma situação de uma polarização, ódio e o surgimento não só no Brasil, mas no Brasil principalmente, de uma extrema direita com sangue nos olhos e antidemocrática também.”

Confesso que não entendi. Deve ser Dilmês gramatical.  É fato, porém, que a corrupção foi um “abalo sísmico”; aliás, foi o primeiro de três terremotos, como veremos a seguir.

Cada um com seus fantasmas; mas as instituições de Estado não devem, elas mesmas, combatê-los ao arbitrar uma campanha eleitoral.  Instituições como o TSE não existem para si mesmas, nem para os amores ou rancores político-ideológico de seus membros. Elas existem para a sociedade que periodicamente se manifesta nas urnas. A democracia, por sua vez, não convive com censura. Ela precisa de campanhas eleitorais em que sejam livremente abordados os problemas do país. Excessos de controle que inibam o debate, apaguem o passado, proíbam temas e condenem a natural polarização inerente a uma campanha entre dois candidatos servem ao oposto da democracia.

Sem essa liberdade, a corrupção que tanto preocupa dezenas de milhões de brasileiros, entre os quais o próprio ministro, não pode ser exposta com o vigor necessário ao longo do ano de 2022. Sucessivas pás de cal jogadas pelo STF sepultaram a Lava Jato e ressuscitaram corruptos confessos e já condenados. Eis aí o segundo grande terremoto destes anos de severas frustrações cívicas.

Pouco antes de assumir a presidência do STF, o ministro Luís Roberto Barroso foi entrevistado nos EUA pelo professor Mangabeira Unger. Em certo momento, falaram sobre ativismo judicial. Barroso fez o habitual relato do que considera notáveis realizações progressistas do STF. O professor, que foi ministro de Lula e tem conhecidas posições esquerdistas, concordou com esse entendimento, mas acrescentou haver, também, um ativismo nocivo. E apontou, como exemplo, o conjunto das ações com efeito político-eleitoral do STF/TSE nos anos recentes (entrevista aqui).

Qualquer cidadão que soube “juntar os pontinhos”, como naqueles exercícios infantis de antigamente, pôde visualizar o desenho dessa estratégia sendo construída dentro dos tribunais superiores, bem como sua finalidade. Era o terceiro terremoto consecutivo em nossa história recente. Foi ele que misturou as palavras no confuso discurso do ministro Alexandre de Moraes transcrito acima e foi ele que deu origem ao constrangido sorriso do ministro Barroso ao contestar a contundente observação do professor Mangabeira Unger.

Concluindo. No nosso modelo institucional, apesar de todo meu desgosto com a maioria da nossa representação parlamentar, tarefas que possam ser definidas como “correções de rumo” e dar “empurrões na história” cabem legitimamente a quem tenha voto, ou seja, ao Congresso Nacional. O oposto é “abalo sísmico”.

(1)        Fala do ministro Alexandre de Moraes ao MPF em 7 de dezembro: https://www.cartacapital.com.br/politica/vacuo-no-combate-a-corrupcao-levou-extrema-direita-ao-poder-diz-moraes/.

(2)        Entrevista do ministro Luís Roberto Barroso ao prof. Mangabeira Unger: https://youtu.be/ZMWRUS_kccM

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


Danubio Edon Franco -   11/12/2023 20:25:20

Tens toda a razão. O que está ocorrendo nos Poderes Executivo e Judiciário não é surpresa, eles estão acolherados desde a "descondenação" de Lula, com a finalidade de colocá-lo na eleição presidencial de 2022; o resto nós já sabemos. Não podemos esquecer o famoso Manifesto pela Democracia, que revelou algumas almas do "Sistema". Nossa salvação ou nossa última esperança reside no Congresso Nacional, único Poder capaz, dentro da legalidade, de por fim aos abusos e arbitrariedades dos acolherados. Já foi dito nesse espaço que um dos acolherados - STF -, mandou um recado para o outro, lembrando-o de que ali está por um favor seu. Vamos ver o que acontecerá com a indicação do comunista Flávio Dino para o STF. Apenas para lembrar, a indicação de Flávio Dino e do Procurador da República para a chefia da PGR teve a intervenção do STF, nas pessoas dos Ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, segundo notícias da imprensa, como essenciais para manutenção da "harmonia" entre os poderes. Em outras palavras, vamos colocar na PGR alguém que coma na nossa mão, pois o indicado já foi companheiro de Gilmar no antigo escritório ou coisa parecida, segundo noticiado pela imprensa. Se assim for, o aparelhamento estará completo. Vamos torcer para que o Congresso Nacional faça sua parte.

josé leopoldo -   11/12/2023 19:25:50

Alexandre de Moraes foi dormir depois da feijoada. Deu pesadelo. Não há corrupção no Brasil, ninguém está preso. Favor apontar um. Viajou na maionese. O STF em peso afastou as provas da corrupção, livrou a cara dos meninos que hoje estão soltos. Só falta devolver o dinheiro para eles. Aí o serviço estará completo. Triste Brasil!!!

marisa van de putte -   11/12/2023 16:24:03

Alexandre de Moraes" caindo de quatro sairia pastando." Essa verdade ninguem pode negar, mesmo aqueles que o aplaudem. Esses o fazem por odio aos consevadores. O sistema politico vigente e para ingles ver. O Brasil perdeu a chance unica de reparar a cultura brasileira do"vale tudo," Infelizmente o futuro do pais e sombrio.

Afonso Pires Faria -   11/12/2023 13:13:31

Eu coro de vergonha cada vez que um ministro das nossa suprema corte, abre a boca para se manifestar. Qualquer rábula desmente as suas falácias.

Leonco de Carvalho Bones -   11/12/2023 12:19:47

O único Brasileiro que expele ódio pelos poros e tem sangue nos olhos e antidemocrático ditador é o xandão do PCC.

Decio Antonio Damin -   11/12/2023 11:40:44

O que a Lava Jato revelou, as confissões, a devolução do produto da corrupção, a posterior anulação dos julgamentos, a prescrição dos processos... nos apresentam o nosso próprio retrato social...! Independente de posicionamento de A ou B só existem , para mim, duas correntes que se contrapõem: "nós" e "ELES"...!

JANDIRA LAINI BRANDAO -   11/12/2023 10:14:09

Excelente postagem! Esclarecedora, para um povo analfabeto politicamente. Parabéns Puggina

Gerson Carvalho Novaes -   11/12/2023 08:56:26

Sugiro a instituição da ‘MEDALHA ÓLEO DE PEROBA’ para cidadãos cabeças de pudim adolescentes comprometidos com a promoção da justiça, a educação e o patriotismo… caradepaumente, do avesso…

José Alberto -   11/12/2023 08:42:07

O STF e o TSE assumiram uma posição clara contra o liberalismo, a livre expressão e manifestações que repudiam atos arbitrários. Esse medíocre Alexandre de Moraes é a essência da ignorancia jurídica. Quanto é um terror. A democracia deve se fortalecer através da representação parlamentar. Não suportamos mais esses arroubos anti-democraticos.

Menelau Santos -   11/12/2023 01:09:54

Eu tinha um chefe que dizia que era preferível ficar calado e parecer um burro, do que abrir a boca e todo mundo ter certeza. Esses ministros deviam seguir essa receita.