• Percival Puggina
  • 09/06/2023
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Pelotões de fuzilamento e o grande equívoco

 

Percival Puggina

        No último dia 6, a Mesa da Câmara dos Deputados cumpriu o que declarou ser mera formalidade exigida pela Constituição e proclamou a perda de mandato do deputado federal Deltan Dallagnol.

Pelotões de fuzilamento

O sinistro episódio foi um repeteco da decisão, também unânime, em que o colegiado do TSE em sessão de um minuto acolheu a narrativa profética do ministro Benedito Gonçalves e cassou o mandato do deputado ex-procurador da operação Lava Jato.

Lula não medira palavras, buscando nos baixios onde prolifera o calão de seu linguajar, para expressar suas intenções vingativas em relação a Deltan Dallagnol e ao senador Sérgio Moro. Daí, um minuto para o TSE cassar e um minuto para a Câmara declarar a perda de mandato. 

Um minuto é o tempo de atuação para pelotões de fuzilamento. É o tempo para alinhar, preparar, engatilhar as armas, apontar, ser emitida e cumprida a ordem de fazer fogo. A vítima sacoleja e tomba. O pelotão cumpriu seu dever e se retira em silêncio.

O grande equívoco

Há um grande equívoco, conduzindo a conclusões erradas, em crer que estamos vivendo dias nos quais a justiça comanda a política. É a Política que vem orientando atos da Justiça! Ela o faz desde as salas de aula dos cursos de Direito até as indicações presidenciais para os tribunais superiores, passando por toda a grande árvore das carreiras jurídicas. Dói na alma dizer, mas é preciso andar de viseiras para não ver.

E eu sei que meus leitores veem. Só o que acabo de afirmar explica o que está acontecendo no Brasil. Só assim se entendem os acontecimentos da campanha eleitoral, o tratamento dado às petições do candidato governista de 2022, a guerra pelas urnas sem impressora, a cassação do deputado Daniel Silveira, o silêncio imposto à divergência, a censura, etc. Esses eventos atenderam ao que é de Direito? Ao que é de Justiça? Ou a uma determinada Política?

A Mesa da Câmara deveria agir como pelotão de fuzilamento? Só podia cumprir ordens e retirar-se ao alojamento? Em interessante artigo sobre aquele ato, a Dra. Kátia Magalhães escreve, no site do Instituto Liberal:

(...) se todo o conteúdo decisório reservado ao parlamento, em situações como a de Dallagnol, se resumisse à aposição de um “selo de certificação” ao julgamento das togas, que sentido faria a menção ao direito de defesa em trâmite onde sequer houvesse processo? Aliás, se assim fosse, por que o legislador constituinte teria imposto a participação da mesa diretora na declaração de perda do mandato? Apenas para ocupar o tempo dos congressistas e justificar seus elevados rendimentos? Assim como o TSE fabricou hipóteses de inelegibilidade, da mesma forma, a Câmara acabou de criar uma pseudo-impossibilidade de exame do mérito do caso, que jamais lhe foi vedado pela letra fria da Constituição. Aceitou ajoelhar-se diante de magistrados, chegando a anuir a um “fechamento branco” de sua própria instituição, pois convertida em mera linha auxiliar do Judiciário."

Essa coincidência vem acompanhando sucessivas e inéditas decisões. Elas nos arrastam para um pandemônio jurídico que é o efeito do pandemônio institucional gerado pela reação política ao resultado da eleição de 2022.

No fim do mês, o Foro de São Paulo se reúne em Brasília para comemorar suas vitórias.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Tito Livio Bereta -   12/06/2023 08:55:54

Comportamento há muito eivado de "decisões protocolares". Protocolos abrangentes, cujo teor impôs aos mais diversos setores, tanto públicos quanto privados, obrigações desvirtuada, mas que se praticadas, levariam a termo o que se pretendia. O que era oculto, hoje foi arreganhado. Victor Hugo, numa de suas observações sobre o ser humano, escreveu:- "E a desditosa fez-se meretriz". Com todo o respeito às profissionais que foram arrastadas para a "vida", como a pobre Fantine. Algo bem diferente de certos "elementos públicos", cujo início de carreira já os fez vender até a alma.

Manoel Luiz Candemil -   10/06/2023 22:25:23

Uma coisa é os parlamentares utilizarem o Poder Judiciário para julgar uma questão de profunda controvérsia de entendimento no Parlamento. Outra, bem diferente é os parlamentares acatarem decisões judiciais em questões nas quais não há dúvidas de interpretação legal, cujo teor diverge frontalmente das normas criadas no Poder Legislativo!

Carlos Vicente -   10/06/2023 21:49:41

Sigam o dinheiro. Basta isso. Descobrirão muita coisa. Comecem pelos escritórios de advocacia na capital. Ali começa a lavagem.

Ademar Pazzini -   10/06/2023 20:17:17

Carl Jung deixou implícito no seu icônico "Inconsciente Coletivo" de que para mudar um país não basta trocar governantes, é necessário que seu povo mude a forma de ver e de fazer as coisas. Assim sendo, deduzo que aquela gentalha dos três poderes estão lá por uma vocação para otário dos brasileiros em geral. Enquanto o preconizado por Jung não tocar corações e mente dos brasileiros, seremos o eterno país do futebol, samba, bunda, maconha e putaria.

Enézio E. de Almeida Filho -   10/06/2023 20:11:41

O Brasil está sob a ditadura do STF. Deputados federais e senadores são, na sua maioria, corruptos! Daí essa vassalagem servil e capacha à ditadura do Toganistão!

Geraldo -   10/06/2023 18:54:42

Não me causa nenhum estarrecimento mais. Há muito tempo, a Câmara e o Senado estão de joelhos ante o ESSETÊEFE. Há uma pergunta, para a qual ainda não obtive resposta. Para que servem essas duas subservientes?

Afonso Pires Faria -   10/06/2023 15:33:27

Infelizmente, estás coberto de razão professor. Sim, a culpa é do legislativo que se "acadelou" pois muitos deles devem muito aos outros poderes e a justiça.

Ricardo Guimarães Rangel -   10/06/2023 15:25:36

Estamos vivendo os tempos do politburo soviético. A grande e faminta elite política deste país estremeceu diante de um presidente que iniciou uma mudança de paradigmas. Como no livro a revolução dos bichos, os porcos cada vez mais parecidos com os antigos donos. O atual presidente sempre foi vingativo, manipulador e ganancioso, mas agora apresenta características de um sociopata. Estamos acuados com tantos cães de guarda rosnando e mordendo as ovelhas orwelianas. As esperanças são poucas, mas legítimas e cabe nascer nos corações dos indignados, dos éticos e das velhinhas com bíblias nas mãos. Mestre Puggina que sua indignação não esmoreça e que possamos mudar novamente este país.

Diva Castoldi -   10/06/2023 14:59:49

Sempre agradeço por poder ler seus artigos. Embora esteja difícil manter o ânimo p trabalhar nesse país… muita tristeza.

Eustaquio Antunes Ferreira -   10/06/2023 11:23:01

Esqueceu de mencionar a cassação do indulto da graça a Daniel Silveira.... Atropelaram a constituição e o presidente não passou de palhaço....

José Luiz Brogian Rodrigues -   10/06/2023 10:33:44

Triste constatarmos, que a lei está a serviço da tirania dos poderes constituidos, que como bem disse, funcionando como um pelotão de fuzilamento contra os que ousarem denunciar atos dos tiranos.

José Rui Sandim Benites -   10/06/2023 10:24:51

Sim! Correta a visão de como estão ocorrendo os fatos, mestre Puggina. A política anulou os processos do Lula. A política nos tribunais superiores tem viés nitidamente do pensamento de esquerda: Mais Estado para demarcação de povos indígenas, haja vista que as terras demarcadas são da União. E o órgão que controla é do governo a FUNAI; A questão do abordo, pauta da esquerda; O controle das mídias e redes sociais, pauta da esquerda; A descriminar as drogas, pauta da esquerda; A questão de gêneros, pauta da esquerda; Ter um pensamento único, pauta da esquerda; Diminuir a propriedade privada e ficar com a propriedade coletiva sob o comando de elite política do Estado, pauta da esquerda, etc. Estes anos todos comandados pela esquerda foi aparelhando o Estado, notadamente, os órgão superiores. E com uma política desenvolvimentista, financiada pelo Estado. Em que o pensamento é gastar para haver crescimento. Todavia, o Estado endividado com 50% para pagamento de dívidas. E o primeiro ato do governo foi pegar 200 bilhões acima do teto de gasto, ou seja, acima da arrecadação, com a autorização do Congresso Nacional. Então, agora querem através do aumento da carga tributária zerar o déficit fiscal. Que a previsão para este ano é de 136 bilhões. Sem falar nos juros que terão que pagar (no ano de 2022 foi de 780 bilhões). Assim, caminha a humanidade. É do DNA do Lula o litígio, o conflito, sempre busca um bode expiatório, para culpar os outros, pela sua incompetência e pensamento simplório. A única faculdade que cursou foi dos conflitos nos sindicatos. E ataca seus adversários políticos, com o ódio do bem. O que esperavam? O que podemos fazer. A não ser demonstrar o nosso descontentamento, com este desgoverno federal. Infelizmente, não há nos meios de comunicação uma visão mais profunda da realidade econômica, política em que estamos vivendo. Estão falando somente nas consequências, não buscam as causas, que nitidamente é o endividamento do Estado e das famílias. Tudo é superficial. A questão ambiental vem da atividade humana, mais pessoas no planeta Terra, mais poluição. Se não ocorrer a atividade na Amazônia por brasileiros, irá ocorrer por estrangeiros. É básico, como vão viver sem retirar o alimento e os utensílios da Terra? O problema é que se continuar esta política teremos: uma primeira categoria de cidadãos, a elite do Estado, a elite politica e os amigos do rei. E uma segunda de categoria o resto da população que irá trabalhar para pagar a conta ( hoje de quase 5 meses de trabalho). Mas continuamos na luta, nada é para sempre, tudo é finito. Esta é a obra do Criador.

MARCO ANTONIO GEIB -   10/06/2023 09:32:30

Nada mais adianta, nada mais interessa. No desgoverno instaurado no País, toda e qualquer tentativa de se voltar a viver em um Estado Democrático de Direito é barrada, destruida e não prospera, hoje ainda os "pelotões de fuzilamentos" cerceiam a liberdade de opinião e acabam no fundo de uma prisão. Mas logo eles virão para cumprir suas reais funções: matar, tirar a vida de "culpados, pretensos condenados e até de inocentes". Não adianta opiniões de Juristas renomados, não interessa as orientações de Economistas, a verve de Jornalista sérios recebe um "cala-te boca,....nada....nada, só poder e dinheiro. O Brasil e nós brasileiros perdemos a "força dos argumentos...nos restando somente os argumentos da força" !!!

Décio Antônio Damin -   10/06/2023 09:30:04

Parabéns pela lucidez...! Executaram friamente o Procurador da Lava-jato que deveria estar sendo emulado pelo bem que fez ao Brasil e tornou a operação um exemplo para o mundo...! Devemos estar sonhando...num pesadelo que deve acabar...!!

Ricardo Sierban -   10/06/2023 07:54:24

Olá, estamos passando por mais um processo de impulso, e na sequência os liberais conservadores avançarão limpando o que os progressistas (comunistas) deixam pelo caminho. É isso o que eu acredito e tenho fé que aconteça. Parabéns pelos excelentes artigos.

Menelau Santos -   09/06/2023 20:15:29

A comparação do pelotão de fuzilamento é fidedigna e não é mera coincidência como o comunismo trata seus inimigos