Percival Puggina
Fascista, nazista, racista, xenofóbico, homofóbico, misógino, genocida, lavajatista, gado, bolsominion, terraplanista, golpista, terrorista, populista, extremista. Só que não.
Os vocábulos acima são algumas etiquetas, gastas por repetição, que me vieram de memória. É provável que um passeio pela Internet encontre mais algumas evidências (melhor seria dizer sintomas) do mal que afeta a esquerda brasileira. Como alguém mentalmente sadio pode dizer tudo isso de uma só mesma pessoa ou grupo de pessoas e se considerar convencido e convincente no uso que faz desse besteirol?
Embora a maioria dessas palavras, gramaticalmente, sejam substantivos, no dicionário esquerdista funcionam como adjetivos “desqualificativos”, depreciativos, aplicáveis a toda divergência. Esse não é, porém, seu único objetivo. No pequeno mundo intelectual em que veem sendo gastas, etiquetas cumprem outra função: operam como conceitos. Sim, poupam toda a exaustiva elaboração intelectual que seria necessária para definir aquilo de que se fala. Quem profere o xingatório se convence de manter com a sabedoria uma intimidade conjugal e se motiva para ir em busca do único objetivo permanente da esquerda brasileira: gerar animosidade e desentendimento. Por isso, não tendo o que dizer sobre o próprio governo, têm, como assunto único, o governo anterior.
Está longe de ser um privilégio esse caminho estreito e rápido da mente à motivação. Na vida social, mentes de trânsito rápido são perigosas, como perigosos eram, em sua habilidade, os pistoleiros do faroeste norte-americano. Gatilhos mentais céleres como os que acionam o percurso referido acima, são sintomas de pelo menos dois graves problemas. O primeiro é observável naqueles que o jornalista Augusto Nunes costuma designar como “bestas quadradas”. Sua ignorância é o expoente que potencializa sua ação.
O segundo, bem mais complicado, se caracteriza pelo complexo de superioridade e narcisismo. Na política, diferentes graus de psicopatia são identificados pelo desejo de encurralar a humanidade num cercado mental, campo de concentração sob rigoroso controle onde tudo será conforme quer o portador da enfermidade. “Isso é distópico!”, exclamará o leitor atento. Ora se é! É totalmente distópico, mas é a corrente verborrágica dominante nos níveis mais altos do poder político brasileiro.
É incrível a quebradeira de ovos que essas pessoas promovem para fazer sua hipótese de omelete em proporções nacionais.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.