• Percival Puggina
  • 07/12/2008
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SOLIDARIEDADE E EGO?MOS

No velho Grupo Escolar Professor Ch?z, de Santana do Livramento, escrever as primeiras palavras num caderno novo era um dos eventos marcantes do meu ano escolar. As letras n?eram escritas, mas desenhadas, e ao menor deslize era convocada a borracha para cuidadosos reparos na necess?a perfei? daquelas folhas. Tal zelo n?ia muito longe, seja porque o verso da primeira p?na j??era assim t?atrativo, seja porque a rotina ia trocando a borracha por rasuras e o tempo produzindo “orelhas” que acabavam deixando todos os cadernos com o mesmo aspecto negligenciado. Lembrei-me disso ao refletir sobre as trag?as de Santa Catarina. ?verdade que nossa gera? n?pegou o planeta como um caderno novo. Suas p?nas j?oram escritas e reescritas, mas n?precis?mos ser t?negligentes assim! E em muitos casos imp?e retomar a borracha e corrigir tudo. Por inusitado que possa parecer, trata-se de um dever de solidariedade (express?social do amor ao pr?o). ?curiosa nossa rela? com essa virtude. A solidariedade se expressa aos solavancos, espasmodicamente, em rasgos de emo?. No entanto, deveria ser vivida como a excel?ia das virtudes sociais. No caso catarinense, o pa?inteiro, ante as imagens e os rostos da destrui?, se mobilizou para socorro ?v?mas do flagelo. A solidariedade emergiu como subproduto da como?. ?bom n?perder de vista, contudo, que a falta dessa mesma virtude esteve entre as origens, se n?do flagelo em si, ao menos de sua incontrol?l gravidade. De fato, preservar a flora (e a fauna), impedir a execu? de obras sem o conhecimento de seu impacto ambiental, n?autorizar ocupa? humana em altitudes inferiores ?das cheias m?mas e n?permitir a destrui? da cobertura vegetal das encostas ?xig?ia da mesma solidariedade que nos faz enviar garrafas de ?a e pacotes de feij?para Blumenau. Tanto a responsabilidade da autoridade p?ca quanto a responsabilidade social das organiza?s s?decorr?ias da solidariedade porque expressam zelo pelo bem do pr?o. Nas incisivas agress?ao meio ambiente, a toler?ia est?o avesso da solidariedade. Solid?o ser?izer n?em vez de dizer sim. Solid?o ser?emover os ocupantes de ?as de risco em vez de deix?os sujeitos aos infort?s da pr?a ignor?ia. Por outro lado, a sala de aula dos fatos nos proporciona ocasi?para mostrar o quanto a solidariedade n??como pensam alguns, um desvio da espont?a conduta ego?a, que seria a ?a conforme ?atureza humana, inclinada ao exclusivo bem pr?o. Houve quem escrevesse e houve quem louvasse um livrinho intitulado “A virtude do ego?o”. Ao contr?o do que ali se afirma, o ego?o, como crit?o para a intera? entre os seres humanos, ?m desvio moral. A solidariedade, por sua vez, ?irtude decorrente da natureza individual e social da pessoa humana, indispens?l ao funcionamento harm?o de todas as organiza?s da sociedade, desde a fam?a at? conjunto dos usufrutu?os do planeta. O mesmo ego?o que est?isperso no individualismo encontra-se organizado nos coletivismos, como bem se evidenciou na hist? t?logo estes ?mos beberam na fonte do poder. Disperso ou organizado, ele responde moralmente por muitos dos males com os quais convive a humanidade. Enquanto n?acordarmos para isso, andaremos buscando explica?s ideol?as para o que ?na verdade, um problema de ordem moral. Com implica?s como a que estamos presenciando no estado vizinho. Especial para ZERO HORA