• Percival Puggina
  • 18/11/2021
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TOFFOLI E O SINCERICÍDIO DO STF

 

Percival Puggina

 

         Em 16 de março de 1990, quando a ministra Zélia Cardoso de Mello anunciou à imprensa e a um seleto público as medidas de contenção da inflação do Plano Collor , no fundo do salão, entre xícaras e cafeteiras, um garçom do palácio antecipou-se à plêiade de economistas presentes, exclamou e foi ouvido: “Não vai dar certo!”.  

O mesmo puderam dizer da Constituição de 1988 os mais sábios constitucionalistas do país. Não, o Brasil não precisa que ministros do STF profiram tolices para viver suas crises. Nossas crises estão constitucionalizadas. Basta ler os artigos da CF de 1988 que tratam dos poderes de Estado para saber que as exigências de Sarney, introduzidas sabe-se lá de que jeito pelo Centrão, provocariam as crises institucionais e morais  com que desde então convivemos.

Elas são inevitáveis! Nenhum presidente se elege com maioria parlamentar, mormente numa realidade partidária em que dezenas de partidos cercam todo governo como hienas cercam sua caça. Então, ou se instala a crise moral com permanente compra e recompra da base de apoio, ou se instala a crise institucional e o governante não governa, ou não conclui o mandato. A crise, contudo, é certa.

Durante muitos anos sob essa Constituição, o STF se manteve equidistante dos embates políticos. Afinal, tucanos e petistas, primos-irmãos para quem conhece os avós comuns, têm rusgas, mas se entendem como bem demonstram as cenas de carinho entre FHC e Lula e a recente tentativa de namoro entre o petista e Geraldo Alckmin. No entanto, ao se tornar eminentemente petista, o STF resolveu assumir um protagonismo jamais visto. Tornou-se a principal fonte dos noticiários, o poder político proativo. Emissora de TV que queira ter audiência precisa ligar-se ao canal do Supremo. Bye, bye Congresso! Bolsonaro aninhou-se nas redes sociais. Partidos de esquerda, de diversos portes abandonam o plenário e levam suas pautas direto para quem manda. E os conservadores, vitoriosos na eleição de 2018? Bem, para nós ameaças, dentes à mostra, censura, mordaça, cadeia.

Toffoli, em seu sincericídio lisboeta, explicitou o que tantas vezes escrevi e a maior parte do jornalismo brasileiro ocultava da sociedade: o STF, pela imensa maioria de seus pares, usurpa uma função constitucional inexistente, assumindo-se como pai da pátria, poder moderador da República, palavra final na Política e no Direito.

 Assim como em Cuba tive medo do Estado, hoje tenho medo do STF e desse poder moderador ilegítimo, não coroado nem eleito, a que se refere Toffoli.  Medo de também nos tomarem a esperança. Sinto em muitos a dormência dessa perda e me lembro das palavras lidas por Dante no sinistro portal do Inferno: “Por mim se vai a cidade dolente; por mim se vai a eterna dor; por mim se vai a perdida gente...”. E, ao fim do verso, a sentença terrível que, há sete séculos, ecoa com letras escuras nas horas sombrias: “Lasciate ogni speranza voi ch’entrate” (Deixai toda esperança, vós que entrais).

Todavia, não! Este é o país de Bonifácio, de Pedro II, de Isabel, de Nabuco, de Caxias! Esse STF fala por si e haverá de passar! Os corruptos de ficha lavada não nos convencem nem nos vencem. Trouxeram-nos aos umbrais do Inferno. Exibiram-nos o portal de Dante. Que entrem sozinhos. Perseveraremos.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 


Décio Antônio Damin -   22/11/2021 17:49:06

Parabéns Puggina...! Neste comentário "mataste à pau!" Esses Ministros, da maneira como são indicados, ficam, por assim dizer, devendo favores ao indicador e tal suspeita gera em nós, simples mortais, a desconfiança de que estamos à deriva, ao sabor dos ventos e das ondas! O grande número de partidos impede o Executivo de governar se não se submeter ao que se convencionou chamar de "Centrão". Estamos, por hora, "no mato sem cachorro".

Paulo Antônio Tïetê da Silva -   22/11/2021 17:01:18

So exisem duas maneira de esta situação acabar: 1 - Pela força das armas; o que não acredito que aconteça. 2 - Via Senado Federal; que também não acredito que ocorra, tendo em vista seus componentes. Assisti na TV Jovem Pan, uma entrevista da relatora na CCJ, da PEC de alteração da idade da aposentadoria aos 70 anos, dos membros do Judiciário. Várias vezes ela afirmou que os esquerdistas jogaram-lhe na cara que é um uma PEC casuística. Em nenhum momento da entevista, ela afirmou que é um retorno ao que constava na Constituição de 1988, que foi modificada pela chamada Lei da Bengala. Alteração feita pela esquerda para que os seus nomeados, em todos os níveis do Judiciário, permaneçam em seus cargos, caso a direita ganhe a eleição. Ela não afirmou que casuítica, foi a Lei da Bengala.

BEATRIZR. CHERUBINI ALVES -   22/11/2021 16:18:35

Puggina este texto nos faz pensar ainda mais o quanto somos frágeis perante este STF.Só espero que ossamos nofinal reverter este qudro com a vóz do povo brasileio nas ruas.Obrigada

Jorge Fenerich -   22/11/2021 11:17:53

Não vejo porque ficarmos baixando a cabeça as aberrações jurídicas de um poder que apenas usa suas prerrogativas contra a constituição e contra o povo, já passou a hora de fazermos alguma coisa, se mostram poder, quem os concedeu? O congresso que é refém do STF nada fará então cabe ao povo tomar as providências.

CIRINEU AFONSO DE LUCA -   22/11/2021 09:22:32

Professor, faça uma reflexão sobre os ladrões do PSDB.

José Rui Sandim Benites -   22/11/2021 08:25:20

Bem posto o texto. Sempre lúcido o professor Puggina. O cargo dos ministros superiores são políticos. E no meu ponto de vista, cargo político tem que ter mandato. No caso dos ministros do STF deveria ser de 8 anos, como senadores. Mas, a Constituição de 1988, prolixa, tudo remete para o STF. E o que se vê é crise sobre crise no governo. E mais tudo é indexado com verbas próprias. Que o executivo tem pouco espaço de manobra. Enquanto não houver freio do STF. Vai continuar as crises. Cargo político não pode ser vitalício. E criaram a pec da bengala. Se vão até aos 75 anos. Nada a fazer.

Luciano Cunha -   22/11/2021 08:03:25

Entendo que se o povo não reclama é por que está bom... mas não está ! Os resultados indignos desse STF virão com o tempo e aí começa tudo de novo. É muito mais fácil mudar isso agora !

Vania -   20/11/2021 20:55:10

Sem esquecer que os verdadeiros mandantes são os financistas, a NOM, os globalistas, QUE mandam no STF. Nossos inimigos internos venderam o país para essa gente, não só o Brasil sofre como outras nações tb. Uma ação global conjunta será necessária para que essa gente seja derrubada, e está a caminho. Sozinhos não conseguiremos. As economia do país depende desses financistas que ditam as regras no mundo e conseguem derrubar um país. Mas vamos conseguir.

Giullio Machado -   20/11/2021 11:19:07

Infelizmente o Presidente,acho que no intuito de ser muito correto,errou logo na primeira investida do STF,quando o Alexandre de Moraes não deixou que ele indicasse o diretor geral da polícia federal.Em seguida a câmara dos deputados se acovardou deixando que o Alexandre de Moraes mandasse prender o Deputado Daniel Silveira.Todos os dois atos foram inconstitucionais.Daí pra frente foi fácil para o STF se achar acima de todos. “Onde passa um boi ,passa a boiada”. O resultado é que diariamente um ou outro ministro do STF ,está sempre dando suas liminares ,quando levam para o pleno ,eles se juntam contra o que for que os conservadores estiverem pleiteando. Os partidos de esquerda minúsculos sempre têem seus pleitos acatados pelo STF,contra a vontade da maioria do congresso. Parece que :”não há luz no fim deste túnel “.

Luiz R. Vilela -   20/11/2021 08:44:16

Artigo 5 paragrafo 2 da constituição federal, diz que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da lei. Onde não existe a lei, pode "entendimento" do STF, valer como tal? Se o tal "entendimento" do STF, pode valer como lei, então deve-se dispensar o congresso nacional, por ser caríssimo e inoperante. O judiciário ao usurpar funções do executivo e legislativo, torna-se poder arbitrário, ficando muito distante dos ideais democráticos. Diariamente se tem noticias de ministros que monocraticamente desautorizam todo o legislativo, com liminares concedidas a partidos minoritários, que perdem no voto, mas tem seus pleitos atendidos, muitas vezes por apenas um ministro do supremo. Dai a pergunta, que raios de democracia é essa que a maioria tem que conviver com situações onde quase seiscentos parlamentares eleitos por voto do eleitor, tem que se curvar a vontade de onze ministros nomeados por governantes que não mais governam, mas são influentes por ações dos seus nomeados? Já tivemos por cá, a tal "democracia relativa", agora parece que temos a "democracia restritiva", onde os "democráticos", só podem fazer ou deixar de fazer, conforme as vontades dos excelsos do pretório. Vamos ainda nos intoxicar, com essa democracia tóxica.

Atanasio Geraldo Amorim -   20/11/2021 08:34:15

Brasília se tornou uma repúblico de privilégios que não tem limites nós o povo convivemos com esta ciranda de servir os inúmeros vermes e sugadores o povo tem toda a força para eliminar tudo isso apenas de uma de uma só vez ,mas não ,prefere ficar assistindo a história que não se acaba .

CARLOS SOARES -   19/11/2021 21:18:05

Professor Puggina, o Sr. faz parte dessa esperança.

Maurício -   19/11/2021 20:32:02

A situação atual tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro. Se tivesse no início batido de frente o problema não teria sido rolado pra de baixo do tapete e a fratura seria exposta, com ela a solução e o real poder moderador teria resolvido a parada. Ficar bradando, vociferando e nada de efetivo acontece é bravata. Qdo o cão ameaça atacar não corra. Ele ele saberá q estás com medo e aí vc será mordido. Acho q fui claro... Desculpe contrariar a opinião da maioria.

carlos edison domingues -   19/11/2021 17:41:07

PUGGINA. Hoje, 19 de novembro, ergamos juntos a Bandeira que entusiasma 57 milhões de cidadãos e cidadãs. O "poder moderador" que se aquece no colo de onze ministros do Supremo serve, apenas para anular sentenças proferidas em duas e três Instâncias do Judiciário. É um desrespeito flagrante a juízes e desembargadores, corroendo a credibilidade da Justiça. Carlos Edison Domingues

RUBI GERMANO RODRIGUES -   19/11/2021 17:28:13

Que na hora do sonho, o anjo lhes recorde que se colhe o que se planta e que depois não adianta pedir perdão,

Armando Andrade -   19/11/2021 11:07:19

O artigo vai de encontro ao pensamento do povo consentâneo com o respeito à liberdade e respeito. Desde o Império, as Capitanias se transformaram em refúgios e foram em "metamorfose" ao ponto do que aí está. Na verdade, o povo brasileiro mesmo, está sem rumo!

Celso cunha -   19/11/2021 08:40:56

Tudo isso é realmente inspirador, que toca nossos corações. Mais a verdade é que o tempo está passando e com a chegada do fim ee ano, Carnaval etc...estando tudo liberado, teremos no ano das eleições severas consequências nas urnas por este ato de irresponsabilidade, sem falar das fraudes que serão inevitáveis. Ou se toma uma medida drástica ou rumaremos na corrente do foro de São Paulo, da Urssal e daí por diante. O tempo urge o futuro das famílias do Brasil é agora.nao pode uma nação ficar recente dd tão poucos. Que Deus salve a nossa pátria e os homens de bem também.

suely Ribeiro -   18/11/2021 23:45:12

Muito triste,se nos roubam a esperança e a crença na justiça. Hoje a figura de um ministro me enoja.

Jair Rocha -   18/11/2021 23:24:36

Sou de 1949 e, desde os anos 70, abandonei a ideia de "esperança" no futuro. Sou convicto de que quem espera, apenas apanha as sobras. Somos um povo que prefere ser tutelado a buscar suas soluções; um povo que tem mais orgulho pela bandeira do seu clube, do que do estandarte verde e amarelo; um povo submisso e egoista. Penso que estamos colhendo hoje o que foi plantado nas universidades, desde os anos 50, ou seja: uma social democracia. Não criamos nada e delegamos ao Estado o provimento das nossas demandas. É triste. Muito triste.

Solange athayde -   18/11/2021 19:01:29

Texto primoroso, como tudo que escreve. Tenho admiração e respeito por sua coragem!

Nara Rosangela Rodrigues -   18/11/2021 18:49:44

Maravilhoso texto! Esclarece o dilema porque passamos mas não nos rouba a esperança.

Cleir Edson Pereira de Deus -   18/11/2021 17:15:33

Caro e extraordinário, Puggina, você sempre nos dando alento no meio desse vendaval chamado supremo tribunal federal - com letras minúsculas de fato, considerando sua pequenez perante uma Constituição ainda que falha - mas Constituição. Dar os parabéns pelo seu texto é redundância. Mas insisto nisso porque merecedor você é. Gratidão por nos encher de esperanças...

Antonio Silveira. -   18/11/2021 16:22:56

Esta na hora do verdadeiro poder moderador, assumir o seu papel, pegar um cabo e um soldado e resolver esta usurpação de poderes, rápido e rasteiro, porque quem planta, tem que colher somente o que plantou.

Any Santos -   18/11/2021 16:20:50

Sou da Amazônia, da cidade se Belém do Pará..Leio seus artigos todos os dias e compartilho com meus amigos. Parabéns por sua sabedoria e por sua bravura.

Myrian Elizabeth Dauer -   18/11/2021 15:04:52

Brilhante como sempre, mestre!

Márcio Reis Gouvea -   18/11/2021 14:44:07

Muito obrigado por nos brindar com esse artigo ....perfeito!!!!

Helena margarido -   18/11/2021 12:59:06

Só uma revolução neste país com meninos que já estão na terra preparados para mudar está nação , isso tudo passará mesmo que chegue com revolução dos bravos e destemidos na ordem e na lei divina com respeito à todos os cidadãos de bem deste amado Brasil. Isso irá acontecer , eu creio e os maus passaram e a luz vencerá as trevas.

Maria do Carmo Landell de Moura Porto -   18/11/2021 12:50:25

Ignorantes elegem ignorantes e com a ajuda de uma urna venal está feita a porcaria e o resultado que deixamos de eleger um grande deputado ,profundo conhecedor do mecanismo de funcionamento do jogo político aliado ao domínio cultural político e principalmente íntegro Percival Pugina ….o Rio Grande do Sul perdeu e nós todos também.O resultado trágico ,proliferaram Marias do Rosário Pains,Pimentas,Fontanas etc etc etc

Rogério Serafin -   18/11/2021 12:23:35

Bom dia! Excelente relato, também tenho medo deste STF. Onde iremos chegar?

CARLOS NASCIMENTO -   18/11/2021 12:04:50

Memorável os sues textos, mas, considero que as palavras por mais representativas da realidade não se materializam em atitudes de fato, então, enquanto conservadores apenas verbalizam, os inimigos da pátria agem de fato embasados na nossa inércia e omissão do nosso congresso, fica a pergunta: quando o povo vai agir diretamente em defesa de seus direitos ao invés de eternamente esperar um salvador da pátria?

Adelmo -   18/11/2021 11:53:46

Muito bom texto Realmente.esperamos uma resposte por parte do congresso!! Sempre omisso na maioria dos desparates do STF

Takao Chimbo -   18/11/2021 11:37:38

Resistiremos com Fé em Deus!!!

Lígia Drumond -   18/11/2021 11:32:25

Perfeita análise do meu queridíssimo Percival Puggina. Como o Brasil precisa de homens com o seu caráter e inteligência rara!

Luiz Pompeu Castello Costa -   18/11/2021 11:29:19

Fantástico

Edson Sá -   18/11/2021 11:23:01

Ignorantes elegem políticos ignorantes,,,,e os mesmos elegem de uma certa forma os magistrados das supremas cortes,,,,,,,então,,,,,,,,,vira aquela bola de neve

JorgeHeleno -   18/11/2021 11:20:21

Excelente o texto. Eles passarão.