• Rodrigo Constantino
  • 14/04/2015
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EDUCADORES MILITANTES

(Publicado originalmente em O Globo)

Os ‘coxinhas’ acham que o professor deve apenas transmitir conhecimento objetivo, ensinar a pensar por conta própria, instruir seus alunos. Nós discordamos.

Presido uma ONG chamada Professores Unidos na Militância (PUM), que defende o direito de os educadores doutrinarem seus alunos com a ideologia marxista. Nosso guru é, naturalmente, Paulo Freire, o “patrono” da educação brasileira (não por acaso tão bem avaliada em todos os rankings internacionais). Sua “Pedagogia do Oprimido” é nossa Bíblia, e não há nada mais opressor do que o ensino burguês.

Os “coxinhas” acham que o professor deve apenas transmitir conhecimento objetivo, ensinar a pensar por conta própria, instruir seus alunos. Nós discordamos. Trata-se de uma estratégia dominadora da elite burguesa. Para nós, o professor é muito mais; ele é um educador, um agente de transformação social, alguém que ajudará a combater a alienação capitalista e instaurar finalmente o paraíso socialista por aqui.

A PUM aplaude, portanto, todo aquele professor que, em vez de ensinar a fazer conta ou a ler e escrever corretamente, convida os heróis do MST para palestras em sala de aula. É fundamental incutir na cabeça dos jovens que esses revolucionários lutam por “justiça social”, e são acusados de invasores de propriedade por aqueles ricos que rejeitam o conceito de igualdade.

Enquanto cada brasileiro não tiver a mesma renda independentemente do mérito (conceito burguês), a PUM estará lá, enaltecendo a luta de gente como Stédile, cujo exército foi convocado pelo ex-presidente Lula para defender a Petrobras, alvo da ganância dos capitalistas que a querem privatizada. O petróleo é nosso, e serve para financiar a revolução. Os “coxinhas” chamam isso de corrupção, mas é pura intriga.

Nossa meta é conquistar mentes e corações, como o novo ministro da Educação tão bem colocou. Estamos no nobre papel de trazer a juventude para o socialismo, custe o que custar. Não aceitaremos jamais a opressão das elites. Por isso ficamos, como ficava Freire, ao lado de figuras como Che Guevara, Mao e Fidel Castro. Eram homens que viveram em prol da igualdade, e trouxeram apenas paz e justiça ao mundo.

Outro dia, uma de nossas professoras trocou suas aulas por monólogos do MST, e um aluno reagiu, enviando uma carta para um blogueiro da “Veja”, aquela revista golpista. Não deixamos barato: fizemos um abaixo-assinado contra esta inaceitável agressão. Sim, agressão: quando alguém aponta nossa doutrinação, fazemo-nos de vítima, pois somos sempre oprimidos. Funciona.

Quando nos acusam de doutrinação, respondemos que tudo é doutrinação, inclusive ensinar matemática: isso já não é um claro instrumento de dominação capitalista e burguesa? Há também aqueles que querem ensinar a todos a mesma língua, outro evidente indício de doutrinação e preconceito linguístico. Cada um fala como quiser, e a linguagem das ruas é tão válida quanto a erudita. Nós pega o peixe!

É verdade que algum neoliberal poderá alegar que, se isso é assim, então tanto faz ter uma professora com mestrado ou uma zeladora analfabeta dando aulas de português. O argumento é bom, mas temos uma boa resposta: para “ensinar” a língua de qualquer jeito não é preciso mestrado, mas para doutrinar com base em Gramsci, sim! E esse é nosso real objetivo.

Outra coisa que gostamos muito de fazer, além da vitimização, é apelar à autoridade curricular. Quem esses críticos pensam que são? O “argumento” mais relevante é o currículo Lattes. Sua extensão é prova de sabedoria e de razão. Não importa se o mestrado foi conquistado com uma tese sobre o funk. Vale a quantidade de títulos concedidos por nossos pares, quase todos membros da PUM. Está tudo dominado!

Uma terceira via de defesa contra as acusações é usar a liberdade de cátedra como blindagem. Somos a favor da pluralidade de ideias, assim como os liberais. A diferença é que só lembramos desse princípio quando é para defender nossa doutrinação. Pluralidade, para nós, significa sempre empurrar goela abaixo dos alunos a visão de mundo marxista, e impedir o contraditório.

Se os alunos tiverem acesso a todas as vertentes do pensamento ideológico, sabemos que rejeitariam o socialismo em sua maioria, o que não podemos tolerar. Somos tolerantes só com os nossos, e intolerantes com os demais. Nossos fins utópicos justificam quaisquer meios. Aprendemos com Lenin e tantos outros. Devemos martelar incessantemente os dogmas vermelhos, até que os alunos saiam das escolas e universidades repetindo como papagaios nosso mantra. Isso sim é educar!

E a quem discorda podemos dizer somente uma coisa: que sejam bem-vindos ao nosso paraíso tolerante, como os “gulags” soviéticos ou o paredão cubano. Perdeu, playboy!

* Economista e presidente do Instituto Liberal