• Alex Pipkin, PhD
  • 23/01/2021
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O ALEATÓRIO E AS MENTES


Alex Pipkin, PhD


O economista Armen Alchian foi certeiro quando afirmou que o êxito ou o fracasso de um determinado projeto não dependem necessariamente de uma grande habilidade ou incompetência, e sim de “circunstâncias fortuitas”. Os processos aleatórios são onipresentes em todas as esferas da nossa existência.
Analisando os acontecimentos da minha vida, sem dúvida, eu consigo identificar alguns eventos aleatórios, aparentemente inconsequentes, que me conduziram a grandes mudanças na minha trajetória.
Assim acontece com países, empresas e indivíduos.
Contudo, é bom não dar sorte para o azar. Estudo, preparo, experiências pragmáticas, vontade de fazer acontecer e foco são essenciais.
Mas nesse mundo da disrupção tecnológica, das cadeias globais de valor, da colaboração, da necessidade de complementação de recursos e de capacidades com parceiros estratégicos, e sobretudo, do império das inovações, é fundamental olhar para além do foco, que em algumas situações pode ser estreito.
Tendo sido afirmado que ninguém é uma ilha! Países, empresas e indivíduos dependem de uma rede de conexões com terceiros (vide o tema atual das vacinas!).
Eu diria que a mais grandiosa missão estratégica para as organizações, hoje, é justamente integrar e coordenar as iniciativas estratégicas com todos os membros da cadeia de valor estendida. E neste sentido, há farta literatura suportando que as inovações emergem exatamente dos relacionamentos colaborativos com os parceiros de negócios.
Oportunidades de inovar também podem surgir de encontros aparentemente aleatórios, misturando o foco do negócio a maravilhosa abertura para o desconhecido, projetando e testando novas soluções para os mercados.
Estamos basicamente falando do conceito de serendipidade, ou seja, uma circunstância ou capacidade de descobrir coisas boas por mero acaso, sem previsão.
É muito salutar que empresas eficientes pensem e atuem desta maneira, afinal de contas, são os negócios e as empresas que farão a diferença mais fundamental para a sorte econômica de um determinado lugar.
Entretanto, para que essas oportunidades possam se materializar, é vital ter a mente aberta e receptiva ao “inesperado e diferente”.
E é aqui que eu começo a entristecer e ficar desesperançado com relação aos indivíduos “modernos”.
Nossos homens e mulheres solidificaram as mentes e os corações. Jovens não mais atentam para o fato de que o conhecimento e as experiências deveriam fazê-los refletir sobre suas posições.
Atualmente, todos parecem conhecer “a verdade”, sendo essa diferente dependendo de seus grupos de pertencimento.
O que mais se vê são intolerância e ilusão, que tecnicamente eu chamaria de viés de confirmação. Claro, tenta-se provar que as nossas crenças e ideias - equivocadas e isentas de evidências - é que são as corretas.
Aliás, nada novo. Em 1620, o filósofo Francis Bacon, afirmou que “a compreensão humana, após ter adotado uma opinião, coleciona quaisquer instâncias que a confirmem, e ainda que as instâncias contrárias possam ser muito mais numerosas e influentes, ela não as percebe, ou então as rejeita, de modo que sua opinião permaneça inabalada”.
As mentes se fecharam! Desconsideram-se opiniões alheias, e mais, condenam-se.
Esta é a razão da desesperança, pois se não há troca efetiva de ideias, não existe evolução de ideias e inovações; há apequenamento nas tocas e estagnação.
É o contraditório racional e factível que nos faz evoluir; o experimentar e o refletir sobre visões distintas nos fazem descobrir em quê de fato acreditamos.
A liberdade de expressão está indo para o ralo, especialmente, pela pura rejeição a ideias diferentes daquelas que um indivíduo professa.
Com esta indecente situação, não só se tem mais divisão social, como também se colocam antolhos que impedem aos indivíduos aproveitarem as oportunidades aleatórias que nos permitem inovar, crescer e melhorar nossas condições humanas.