• The Tablet, New York
  • 09/08/2014
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O NEW YORK TIMES CRITICA SEU FOTÓGRAFO GANHADOR DO PRÊMIO PULITZER

 

Se alguma vez você se perguntou por quê a cobertura fotográfica do New York Times em Gaza mostrou quase que exclusivamente crianças palestinas mortas e sangrando no hospital de Shifa e muito poucos homens armados do Hamás, ou do lançamento de mísseis contra Israel desde uma escola ou de uma mesquita para ilustrar a narração do que ocorre lá, o referido jornal tem uma resposta surpreendente: Tyler Hicks, o fotógrafo ganhador do prêmio Pulitzer, faz um trabalho medíocre.
Para toda pessoa que sabe algo de foto-reportagem, a resposta do New York Times suscita algumas perguntas muito sérias sobre a saúde mental das pessoas que fazem este periódico, assim como sobre a lealdade desse jornal a respeito de um dos maiores fotógrafos de sua época, que põe sua vida em perigo diariamente pelo New York Times nos pontos quentes do globo e nas zonas de conflito.

Porém, segundo Eileen Murphy, Vice-presidente do Times para as Comunicações Corporativas, os fotógrafos do jornal que trabalham em Gaza, dirigidos por Hicks, são a única razão do desequilíbrio radical que existe na cobertura fotográfica do Times dessa guerra. Pelo menos isso é o que ela disse a Uriel Heilman, de JTA, quando lhe perguntou por quê, das 37 imagens das três últimas apresentações de diapositivos em Gaza, não havia nem uma só de um combatente do Hamás ou do lançamento de mísseis, ou de qualquer outra coisa que pudesse indicar aos eleitores que Israel não decidiu simplesmente, por esporte, mutilar e assassinar as crianças palestinas na faixa de Gaza.

Embora pareça incrível, Murphy, na primeira parte de sua resposta, culpou os fotógrafos de fornecer só um punhado de imagens de baixa qualidade:“Nossa editora de fotos revisou todas as nossas fotos recentes e, entre várias centenas, encontrou duas imagens distantes, de baixa qualidade, que foram sub-tituladas ‘combatentes do Hamás’ por nosso fotógrafo no terreno. É muito difícil identificar as pessoas do Hamás porque não têm uniformes nem insígnias visíveis, nosso fotógrafo nem sequer viu alguém que porte uma arma”.

É assim que funciona realmente um legendário jornalista fotográfico como Tyler Hicks? Duas imagens de baixa qualidade, muito distante, e nem uma foto de uma só pessoa que carregue uma arma em toda Gaza, durante três semanas de um longo conflito no qual mais de 1.500 pessoas morreram? Se a missão de Hicks o leva a outro lugar fora de Gaza, alguém poderia suspeitar que ele não sai do bar do hotel.
O resto da resposta de Murphy oferece só um pouco de luz sobre por quê o rendimento de Hicks foi tão pobre: “Eu acrescentaria que não íamos reter as fotos dos militantes do Hamás. Nos empenhamos em obter fotografias de ambos os lados do conflito, porém estamos limitados pelo acesso que nossos fotógrafos têm”.

A palavra-chave da segunda parte da resposta de Murphy, certamente, é “acesso”. Tyler Hicks desmoronou em seu trabalho: ele está fazendo um trabalho muito duro e perigoso em uma zona de combate, onde os fotógrafos são dificilmente livres para fotografar o que querem. Este é o ponto-chave que Murphy e seus chefes estão decididos a olhar de soslaio.
O que o New York Times e outros meios noticiosos importantes parecem decididos a esconder de seus leitores, é que seus fotógrafos e jornalistas têm dificuldade para ir e vir livremente nessa zona de combate. De fato, trabalham em condições terrivelmente difíceis sob o controle efetivo de uma organização terrorista que – como a guerra mesma mostra – não duvida em mutilar, seqüestrar e matar as pessoas que não lhe agradam.
Como pode um jornalista medir o potencial impacto de sua cobertura se seu acesso depende diariamente do Hamás – sem falar de sua vida? Bem, o fato de que o New York Times tenha só duas distantes, borradas e inutilizadas imagens de Tyler Hicks de homens armados do Hamás diz tudo o que você necessita saber. Não é assim?

Se sua imaginação necessita de mais ajuda, eis aqui o que diz a coluna de Liel Liebovitz: “Só nos últimos dias, ouvimos o relato de Gabriel Barbati, um jornalista italiano que, tão logo saiu de Gaza, escreveu em seu Twitter: ‘Fora de # Gaza longe da represália do # Hamás: um míssil que falhou matou crianças ontem em Shati. Testemunhas: militantes se equilibraram e limparam os escombros’. Também ouvimos de Radjaa Abou Dagga, ex-correspondente do diário francês Liberación, que por tentar exercer o jornalismo honesto foi convocado por matadores do Hamás e acusado de colaborar com Israel. Lhe disseram que parasse seu trabalho como repórter e que saísse de Gaza imediatamente.
Brincar de tímido com os leitores acerca das razões pelas quais a cobertura do New York Times é tão desequilibrada, faz pensar que esse jornal está defendendo o trabalho de seus repórteres e fotógrafos. Na realidade, faz com eles e o jornal apareçam como idiotas, enquanto que atua como o braço de propaganda de uma organização terrorista. Alguém nesse periódico tem que dedicar uma séria atenção ao raciocínio que transformou as condições de trabalho difíceis em Gaza em um fracasso editorial evidente.

*Tradução do inglês para o espanhol: Eduardo Mackenzie
*Tradução para o português: Graça Salgueiro

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