Alex Pipkin, PhD
Cheguei em casa entre o rescaldo dos passes da Copa Mundial de Clubes e os dilemas cotidianos dos meus clientes de consultoria empresarial. Gente que acorda cedo, paga impostos e tenta sobreviver ao Brasil real — onde lucro não é pecado e empregar alguém é um ato de coragem. Liguei a TV. Canal 12. A tela piscou. E apareceu o PSOL.
Sim, ele ainda existe. Partido Socialismo e Liberdade. Liberdade, talvez, de ignorar a realidade. Era uma inserção política, mas poderia ser um recorte de arquivo soviético.
Figurino revolucionário de brechó, roteiro com cheiro de mimeógrafo e uma trilha sonora imaginária feita de tambores e indignação embalada a slogans. Lá estavam eles: jovens e nem tão jovens, todos com o semblante grave de quem crê estar refundando o mundo em trinta segundos. Um rapaz de cabelo comprido, do estereótipo psolista, encarava a câmera como quem prestes a redigir um novo manifesto.
Punho cerrado — ainda que apenas na minha cabeça. Porque, no fundo, a diferença entre a teoria socialista e a prática é essa: na teoria, sempre dá certo.
Pedro Ruas entra em cena com o mesmo fervor antigo. "Nosso foco é a taxação das grandes fortunas", declara — como se tivesse acabado de descobrir a fonte da desigualdade mundial no extrato bancário de algum investidor.
E eu, do outro lado da tela, só pude pensar: qual fortuna?
A do sujeito que inventou o iPhone? A de quem criou a máquina de lavar e secar que me devolve horas por semana? O capital que vira solução, conforto, produtividade? Para o PSOL, toda fortuna é suspeita. Todo lucro, imoral. Toda inovação, um problema não regulado.
Eles enxergam riqueza como um artefato guardado num cofre, pronto para ser redistribuído por decreto. Esquecem que capital é como álcool: evapora se mal investido. Some quando punido. E, quando hostilizado, simplesmente... muda de país.
A seguir, a segunda bandeira da noite: "trabalho digno". Um bordão de camiseta universitária, defendido por quem nunca abriu uma empresa, jamais enfrentou um fluxo de caixa ou teve de escolher entre pagar o INSS ou o fornecedor. Falam com doçura normativa sobre salário mínimo, como se fosse antídoto para a desigualdade. Ignoram que ele expulsa jovens do mercado e preserva empregos apenas na aparência — um Jurassic Park trabalhista, onde recriam artificialmente o que a realidade já extinguiu. Mas ainda havia mais.
Roberto Robaina aparece para nos brindar com a palavra da moda: "negacionismo climático". A lógica é sempre a mesma: qualquer crítica ao Estado vira negacionismo. Ontem era o da ciência, hoje é o do clima, amanhã será o da fila de banco. E ainda que haja um fundo de verdade — sim, o Estado fez pouco nas enchentes —, a solução proposta é a mesma de sempre: mais Estado. A máquina falha, e o remédio, claro, é óleo na engrenagem.
Foi aí que senti um torpor. Não de sono, mas de saturação. Desligar tudo e sonhar passou a soar como autopreservação. Sonhar com uma praia afrodisíaca, um vinho tinto encorpado e um mundo onde o PSOL compreendesse o que são incentivos, produtividade, risco — e como tudo isso move a roda do progresso.
Porque, no fundo, eles ainda pensam como uma economia de subsistência. A utopia deles é uma fogueira em torno da qual meia dúzia partilha mandioca e certezas. Serve para um clã. Nunca para um país. Muito menos para o mundo.
A pluralidade é essencial. Mas se empobrece quando um dos lados insiste em repetir, com fervor cego, ideias tão gastas quanto os carimbos de um sindicato dos anos 80.
A TV seguia ligada. A inserção passou. O jogo era passado. O controle remoto, imóvel.
Mas a sensação era de que, ao ligar a televisão, eu não havia apenas voltado no tempo.
Tinha feito escala direta no outro lado da razão.