• Percival Puggina
  • 15/12/2021
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A ESTÉTICA REVOLUCIONÁRIA, OU: POR QUE VIVEMOS PERIGOSAMENTE?

 

Percival Puggina

 

         Parecia impossível, mas nos habituamos a viver perigosamente, contando com a sorte de não estarmos à hora errada, no lugar errado. O mundo do crime prospera como nenhum outro ramo de “negócios”, consolida-se compondo e fortificando estados paralelos, nos toma como presas e tem, da lei, proteção superior à de suas vítimas.

O bandido brasileiro, apoiado por uma retórica de conveniência e pela autoproteção dos corruptos, sabe que opera com baixíssimo risco de ser preso e pagar por sua ação. É uma espécie de “camarada em armas” de certa intelectualidade que anseia por uma revolução. Atua em ramo altamente rentável e de baixíssimo risco. Teme muito mais a duríssima lei que rege o submundo do que a lei que rege a sociedade. Aquela é eficaz; esta, mera hipótese.

Muito nos perguntamos sobre os motivos que levam tantas pessoas esclarecidas a se seduzir pelo pensamento revolucionário, marxista, apoiando ou difundindo ideias que acabarão por sufocar sua própria liberdade. Não sou eu quem o assegura. Esse é o centenário e constante grito da história.

Penso que a vida e a experiência permitem constatar um fator essencial a motivar adesão a caminho tão sinistro. Refiro-me à estética revolucionária, à glamourização da vida criminosa, operada pelos salões de beleza dos meios culturais e educacionais.

Neles, a realidade presente e os fatos passados entram de um jeito e saem de outro, inteiramente modificados. O que é feio por natureza sai formoso pela jeitosa manipulação dos detalhes e ocultações. Desse trabalho, nasce a suposta superioridade moral do pensamento revolucionário.

Eis aí, a meu ver, a principal causa da insegurança em que vivemos. Ela jamais será corrigida e nossa liberdade jamais recuperada, se continuar havendo mercado para a ideia de que o criminoso é vítima da sociedade e do sistema, é alguém de quem não se pode esperar outra conduta que não seja buscar, pela violência e pela organização criminosa, o que de direito lhe pertence.

Esse é um dos conceitos mais hediondos, mais falsos e corrosivos da ordem pública que se pode compartilhar. Retoquem o visual quanto quiserem, isso não mudará os fatos. O criminoso sabe que sua ação está errada, tem consciência moral sobre a natureza do ato que comete, mas planeja sua ação e a pondera numa perspectiva econômica. Coloca na balança o lucro e o risco. E sabe que, no Brasil, como regra geral, salvo azar, “não dá nada”.

Todo criminoso – com arma, caneta ou mandato – pensa exatamente assim.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


José Rui Sandim Benites -   18/12/2021 10:32:15

A última frase do inteligente comentário do professor Puggina, resume tudo. Mas a grande mídia, sabe que o escorpião venenoso, antes da travessia do rio irá prometer tudo. Mas chegando no meio do rio, carregando a grande mídia vai regularizar os veículos de comunicação. Sem dúvida. Porque é da sua natureza. O paz e o amor. É pura dissimulação. Como vejo o Estado comandado pelo escorpião: vai aumentar a carga tributária, vai aumentar a dívida pública, termina o teto de gastos, as paraestatais serão fonte de recursos para o partido (aparelhadas). Os pagadores de tributos serão escravizados. Dinheiro para os políticos (6 bilhões de fundo partidário), está sendo regularizado. A gastança geral. Vai ter contabilidade criativa. E os incautos estarão aplaudindo, o escorpião com grande popularidade. Mas quando a conta vier. E ela irá vir. A culpa será do novo animal inofensivo que irá governar este país, se deixarem. Como sempre fazem, tudo é culpa dos outros. E fim da chamada democracia. Pois não há democracia, sem alternância do poder.

Agostinho -   17/12/2021 07:59:22

Há apesar de tudo factores sistémicos que, se não são causa directa, contribuem porventura decisivamente para a criminalidade e à violência: as crescentes desigualdades sociais.

Celso Ladislau Kassick -   16/12/2021 18:38:55

Tudo tão óbvio, porém ululante, por razões, sabidamente, cafajestes!

CARLOS SOARES -   16/12/2021 17:54:24

Caríssimo Professor, se estiver lendo esta mensagem em 17 de dezembro, desejo ao Sr. UM FELIZ ANIVERSÁRIO! Que Deus lhe conceda uma vida bem longa, para continuar a nos iluminar com suas reflexões maravilhosas. E qual não é minha satisfação em saber que Gustavo Corção, outra grande luz do nosso conservadorismo, também nasceu nessa mesma data. abraço grande!

Menelau Santos -   16/12/2021 17:46:12

Esse negócio de estética, realmente, é uma grande sacada Professor. Na comparação com o "encardido", ele sempre se apresenta maquiado, retocado, como num photoshop maléfico que torna aceitável as coisas ruins. A esquerda é a mesma coisa.

Rogério Amaral Medeiros da Silva -   16/12/2021 17:08:39

Prezado Senhor, lhe acompanho e compartilho suas publicações há muito tempo. Peço perdão pelo desconhecimento prévio e por não conhecer sua obra. Conheço apenas as publicações. Há algum local para apreciar vossos trabalhos nobre e sábio senhor??? Muito obrigado querido amigo. Esteja sempre sob a guarda e proteção de Deus, o senhor e família. Rogério Amaral Medeiros roger.medeiros.adv@gmail.com