• Percival Puggina
  • 06/07/2025
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Quando os cotovelos falam

 

Percival Puggina

             Quando os cotovelos falam, acabam fazendo inacreditáveis revelações. Estamos vivendo um surto desses, produzido por quem é pago pelo povo para ter muito juízo e discernimento.

Não estou me referindo a Lula quando afirma ter aprendido de sua mãe que não se deve gastar mais do que se tem..., mas abre rombo sobre rombo no orçamento público perante a nação que se debilita econômica, cultural, moral, espiritual e fisicamente. De seus sermões peripatéticos, sentindo-se como Aristóteles de Garanhuns, não se espera discernimento nem juízo. O grego caminhava e falava buscando a verdade; o pernambucano vai de um lado para outro nos palcos encomendados buscando as melhores mistificações. Tampouco me refiro a qualquer dos que, como ele, no espaço público, sobrevivem da miséria humana que cultivam.

Nos postos eletivos, soberana é a vontade do eleitor que escolhe dentro de uma escala, debilitada como a nação, que vai do bandido ao virtuoso, do negocista ao estadista. Então, tampouco destes falo. Forçado pelo momento histórico, ocupo-me dos que para compor a trinca dos poderes de Estado, por exigência constitucional, devem ter reputação ilibada e notável saber jurídico. Condições bem diferentes dos pré-requisitos postos, por exemplo, a quem pretende a presidência da República ou uma cadeira no Congresso Nacional.

Ocupo-me, pois, dos doutos e ilibados que, rompendo toda tradição, montam estratégias, desenham cenários, atraem holofotes, protagonizam o jogo político, criam narrativas, antecipam decisões, formulam ameaças, são o absoluto de tudo que relativizam aos demais e... falam pelos cotovelos.

Como seria de esperar, fazem afirmações terríveis, chocantes, a quem tem juízo e discernimento. Elas refletem o efeito devastador da ideologia em torno da qual se congregam, caracterizada pelo uso abusivo do poder e pela necessidade imediata de silenciar a divergência. Tudo parece ter iniciado com ideias faceiras de fazer do Supremo o “poder moderador da República” ou visto como “editor de um país inteiro, de uma nação inteira, de um povo inteiro”.

Num dia triste, o cidadão que pergunta atenciosamente sobre assunto de relevante interesse público tem como resposta o infame “Perdeu Mané. Não amola!”. Noutro, um auditório lotado ouve a proclamação: “Nós derrotamos o Bolsonarismo”. Antes disso, antes mesmo do 8 de janeiro, escuta-se o exultante anúncio de que “há muita gente para prender e multa para aplicar”. Sem se saber como enquadrar a revelação no espírito da Carta de 1988, somos informados de que, em termos de controle das redes sociais, todos os membros da Corte são “admiradores do regime chinês” (!) e, na voz de outro ministro, ouvimos que existem três regimes (na verdade, sistemas de governo):  presidencialismo, semi-presidencialismo e o brasileiro).

Como resenha de todos os enganos e da recusa ao que a Constituição consagra em modo pétreo, alguém proclama a necessidade de “impedir que 213 milhões de pequenos tiranos soberanos dominem os espaços digitais do Brasil”. A frase só não pode ser caracterizada como uma aberração porque não está isolada nem contrasta com o que muitas outras evidências revelam.

Por omissão de seu controlador – o Senado da República – a maioria do STF tem meios para fazer o que bem entende.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

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