• Fernanda Barth
  • 13/03/2016
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A TEMPESTADE PERFEITA

(Publicado originalmente em fernandabarth.com.br)

Uma “tempestade perfeita” é uma situação na qual um evento, em geral não favorável, é drasticamente agravado pela ocorrência de uma rara combinação de circunstâncias, ampliando seus efeitos e transformando-se em um desastre de proporções magníficas. O Brasil está vivendo uma tempestade perfeita, tanto no aspecto econômico quanto no político, e no centro desta tempestade, quase sendo levado por um tornado de 300 km por hora, está o governo do PT, Dilma e Lula.

A sucessão de acontecimentos vividos nas últimas semanas, com a delação premiada de Delcídio, o aprofundamento das investigações sobre o triplex e o sítio de Atibaia, os containers com os tesouros do Palácio do Planalto descobertos em depósito pago pela OAS, o pedido de prisão preventiva feito pelo MP de São Paulo, a manifestação do dia 13 de março, parecem encaminhar para um desfecho próximo, onde parte do esquema descoberto pela da Lava Jato é desvendado. Eu digo parte porque estou convencida de que muito ainda está por vir.

Os indícios são fortes de que o crime mais grave cometido até agora tenha sido o de tráfico de influência, com evasão de divisas e lavagem de dinheiro, envolvendo o BNDES, as empreiteiras, as palestras do ex-presidente, os países do Foro de São Paulo e João Santana. Quando penso na triangulação que parece ter sido feita com o dinheiro dos Fundos de Pensão, do Fundo de Garantia por Tempo de Trabalho (FGTAS) e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que alimentam o BNDES, para pagar obras bilionárias em países como a República Dominicana, Cuba, Angola, Gana, Botswana, Uruguai, Venezuela, Nicarágua, Argentina – apenas parte dos 3 mil empréstimos estrangeiros, ainda mantidos em segredo, sem nenhuma transparência (veja lista parcial abaixo) – fico revoltada e entristecida.

Estas obras de infraestrutura que não temos em nosso País, que fazem tanta falta, que fariam o Brasil dar um salto em desenvolvimento sustentável, como saneamento básico, moradias populares, portos, aeroportos, usinas, metrôs, hidrovias, estradas, ferrovias, foram dadas de bandeja, com taxas subsidiadas por nós, para outros países, a maioria componentes do Foro de São Paulo, para irrigar de recursos o projeto de poder socialista, continental, que a esquerda brasileira liderada pelo PT construiu.

Coincidentemente, João Santana foi o marqueteiro escolhido para fazer campanha na maioria destes países. Quando foi chamado pela Polícia Federal para voltar ao Brasil à convite da Lava Jato, estava fazendo a campanha de reeleição do presidente da República Dominicana, onde o BNDES colocou R$ 6,2 BILHÕES de reais em obras. Ora, olhando o tamanho da RD no mapa, ali do ladinho de Cuba, cabe pensar que nós devemos ter pago uma reconstrução completa da infraestrutura daquele país. Estou louca para ver fotos de tudo isto!

Depois disto ou paralelamente a isto a Lava Jato deve dar prosseguimento as denuncias que sejam consideradas consistentes feitas contra os líderes de outros partidos, inclusive da oposição. O que veremos é uma operação que mudará a cara de nosso país, fazendo um verdadeiro efeito dominó, um trabalho de assepsia necessário para o corpo doente da nossa democracia. Com isto a democracia se fortalecerá e os eleitores-cidadãos, tomados por uma maior consciência da importância de seu ativismo político para além do voto, passem a ser protagonistas e fiscais dos novos governos e seus representantes. Nosso trabalho está apenas começando. Eu estou feliz em estar viva neste momento histórico e poder presenciar isto. Que venha a tempestade, precisamos dela.

Investimentos brasileiros no Exterior via BNDES:
No governo Lula –Dilma, tivemos forte remessa de recursos para investimentos nos países integrantes do Foro de São Paulo, países de regimes ditadores ou de governos de esquerda populista. Vendo a lista podemos perceber que também ouve um forte investimento nos países da América Central e da África
Segundo dados divulgados, só a Odebrecht totalizou 70% do crédito total do banco em contratos com o BNDES para operações no exterior entre 2007 e 2015. Foram US$ 8,4 bilhões – cerca de R$ 28,3 bilhões na cotação atual – em financiamentos só para a empreiteira de Marcelo Odebrecht. Os empréstimos foram feitos com taxas, em média, muito abaixo do mercado, cerca de 5%. Em alguns casos, os valores são inferiores até à meta de inflação e possuem prazos para pagamento que se estendem, literalmente, por décadas. As operações também estão sendo investigadas pois em vários casos os países contemplados não ofereciam as garantias que o BNDES costuma exigir para liberar recursos.

Obras da Odebrecht
Venezuela (ditadura) – U$ 747 milhões para Construção da Linha II do Metrô de Los Teques: US$ 527 milhões e a construção da Linha V do Metrô de Caracas: US$ 219 milhões. US$ 201 milhões foram antecipados pelo banco na obra em Los Teques, sem justificativa.
Cuba (ditadura) – U$ 832 milhões para serem pagos em até 25 anos com taxas de 4,44% ao ano para a construção do Porto de Muriel.
Angola (ditadura) – U$ 2,6 Bilhões em 42 obras. Entre as principais: Construção de uma hidrelétrica em Cambambe: US$ 464 milhões (em 3 linhas de crédito diferentes); Construção de 3 mil unidades habitacionais: US$ 281 milhões; Construção de usina hidrelétrica em Laúca: US$ 146 milhões; 6ª fase do programa de Saneamento Básico de Luanda: US$ 145 milhões.
República Dominicana – U$ 1,8 Bilhão. Entre as principais: Construção de uma central termelétrica a carvão: US$ 656 milhões; Corredor Ecológico de Pontezuela: US$ 200 milhões; Reconstrução da Estrada Cibao Sur: US$ 200 milhões; Obras de melhoria da Rodovia Bavaro-Uvero: US$ 185 milhões.
Argentina – U$ 1,6 Bilhão em 348 linhas de crédito abertas com taxas de 4,98% ao ano. Entre as principais: Expansão de gasodutos da distribuidora Cammesa: US$ 636,8 milhões; Ampliação dos gasodutos da TGS e TGN: US$ 436,4 milhões; Sistema de tratamento e distribuição de água do Rio Paraná de Las Palmas: US$ 293,8 milhões; Gasoduto de San Martin: US$ 226 milhões.
Equador – U$ 227 milhões com taxas de juros de 3,27% ao ano. Obras: Construção de hidrelétrica em Manduriacu: US$ 90,2 milhões; Projeto de Irrigação Transvale Daule-Vinces: US$ 136 milhões.
Guatemala (governo de esquerda) – U$ 280 milhões com 4,94% de juros ao ano para a ampliação da rodovia Centro Americana na Guatemala.
Moçambique (ditadura disfarçada de democracia) – U$ 125 milhões Construção do Aeroporto Internacional de Nacala: US$ 80 milhões; Obras Complementares do Aeroporto Internacional de Nacala: US$ 45 milhões.
Obras da Queiroz Galvão
Nicarágua – U$ 1,1 bilhão para a construção da Hidrelétrica de Tumarin.
Bolívia – U$ 199 milhões para o Projeto Hacia el Norte – Rurrenabaque-El-Chorro.
Angola – Valor não informado – para a construção da Via Expressa Luanda/Kifangondo.
Obras da Andrade Gutierrez
Moçambique – US$ 350 milhões para a construção da Barragem de Moamba Major
Peru – valor não informado – Abastecimento de água da capital peruana – Projeto Bayovar.
Obras da OAS
Argentina – US$ 180 milhões para a construção do Aqueduto de Chaco.
Uruguai – Valor não informado – Renovação da rede de gasodutos em Montevidéu.