• Sílvio Munhoz
  • 09/06/2023
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Censura cartesiana

Sílvio Munhoz     

          Na defesa da PL das Fake News (2630), tentando apresentar uma justificativa para sua aprovação, a personagem do dia, durante uma palestra, mandou ver uma pérola de frase: “Você pensa que pensa? Pensa mal. Quem pensa por você é a rede social. Quem vota por você é a rede social”.

Lembram da máxima de Renè Descartes, considerado por muitos o pai da filosofia moderna: “Ego cogito ergo sum (Penso, logo existo)”. A lição da personagem,  portanto, retira-lhe desse plano, quem pensa por você são as redes sociais, logo você não existe é um mero imitador. Claro, a frasista, como grande cartesiana, que pensa muito, além é claro de iluminada, pretende pensar no seu lugar e dizer o que você pode ou não assistir ou ouvir para definir quem você vai imitar e, ao fim e ao cabo, em quem vai votar.

Seguindo a lição de Descartes, vamos pensar, melhor ainda, vamos duvidar... a personagem sempre foi a defensora intransigente de censura? Não. Para verificar o fato, basta recordar quando utilizou conhecido ditado popular para atacar a censura e defender a liberdade de expressão: “o cala a boca já morreu”...

Mais adiante, embora defendendo que não se pode admitir a volta da censura no Brasil por qualquer argumento, MAS, como era um caso excepcional, aceitava só até o término do 2º turno das eleições. Só que como diz outro dito popular: “porteira que passa um boi, passa uma boiada”. O pleito já encerrou há tempos e a censura continua e cada vez pior.

Talvez, tentando justificar sua incongruência, tempos depois largou outro primor de frase: “a liberdade não é um direito é uma emoção”. Realmente estou errado, sempre imaginei que a Declaração dos Direitos do Homem contemplava as liberdade e, igualmente, que a Constituição Federal, ao estabelecer em cláusula pétrea (os preceitos que só nova constituinte pode mudar) os direitos e garantias fundamentais, consagrara as liberdades (dentre elas a de expressão) como direito do cidadão, errado, são só emoções!.. Devo estar passando tempo demais nas redes sociais.

A espantosa transformação da personagem iluminada – que vai de ferrenha defensora da liberdade de expressão à defesa intransigente de projeto que irá instaurar a censura – me faz pensar com meus botões, estará mesmo pensando ou alguém está pensando em seu lugar!

Outra dúvida merece questionamento, seu pensamento está certo? As redes sociais pensam por você? A resposta novamente é não. Isso acontecia antigamente, quando a sociedade recebia informações e opiniões de um pequeno grupo de empresas (rádio, TVs, Jornais) e que seguiam uma linha editorial. Nesse universo eram criadas narrativas que não sofriam contestação ou contraponto e ficavam como verdadeiras, embora muitas vezes não o fossem. Com a informação centralizada muita gente acreditava piamente ser a informação a mais pura expressão da verdade.

Além disso, criava-se o fenômeno da espiral do silêncio, as empresas de comunicação de massa formatavam a opinião pública com as narrativas e as pessoas que não concordavam com tal pensamento, pensando ser minoria, ficavam temerosas de se expressar, formando muitas vezes uma maioria silenciosa.

Com as redes sociais, ocorre exatamente o contrário, existem informações provenientes de inúmeras fontes e opiniões multifacetadas, permitindo a contestação, o contraditório, criando um processo dialético com teses e antíteses que vai permitir ao cidadão, dentro do seu livre arbítrio, pensar, duvidar e, ao final decidir o que julga ser certo e errado, formando e expressando sua opinião, livremente.

Isso é o que atormenta os pensadores iluminados, onde já se viu o povo formando sua própria opinião e expressando-a livremente...

Todo o jogo de palavras atacando as redes sociais é puro método para voltar ao cenário anterior, dominar a narrativa e controlar, para eles determinarem o que o cidadão pode pensar e expressar. Controle é poder...

Encerro com frase histórica em homenagem ao DIA D (06/06) marco na luta por liberdades.

“A lição é a seguinte: nunca desista, nunca, nunca, nunca. Em nada. Grande ou pequeno, importante ou não. Nunca desista. (...) Nunca se renda à força, nunca se renda ao poder aparentemente esmagador do inimigo.” Winston Churchill.

Que Deus tenha piedade de nós!..