• Alex Pipkin, PhD
  • 30/07/2025
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Contra a Tirania da Mediocridade


Alex Pipkin, PhD 

            Acabando de prestar uma consultoria online, olhei meu feed e, casualmente, me apareceu uma daquelas falas simples, diretas, que deveriam ser recebidas com um aceno de cabeça e um “é isso aí”. Um executivo de sucesso defendendo aquilo que qualquer ser humano minimamente desperto já deveria saber. Sim, é preciso estudar, ler, trabalhar duro e, vejam só, aparecer fisicamente no trabalho. A receita é antiga e, talvez por isso mesmo, eficaz. Há sabedoria nos costumes, nas tradições que resistem ao tempo. Como dizia Chesterton, tradição não é o culto às cinzas, mas a preservação do fogo. Mas o espírito da época, com sua obsessão pela reinvenção constante, despreza o que foi testado pela realidade.

O que me espanta não é a fala em si, mas a reação. A gritaria e a indignação automática. Não vieram apenas dos comentaristas profissionais, mas também de jovens, de trabalhadores, de estudantes comuns, já condicionados a enxergar em todo sucesso alheio uma estrutura de opressão. E o argumento-padrão, previsível como uma senha fraca, logo apareceu: “fácil falar quando se nasceu privilegiado”. Como se o fato de alguém ter vencido o tornasse automaticamente indigno de dizer a verdade. Como se o mérito, o esforço e a dedicação fossem privilégios exclusivos, inatingíveis para a maioria que, na visão deles, estaria condenada à eterna opressão e à exclusão.

Para essa geração que almoça ressentimento e janta inveja, qualquer menção ao esforço pessoal é violência simbólica. O mérito virou farsa. O talento então, um privilégio estrutural. Claro que a ambição é vista como um crime. O esforço se tornou um conceito datado, uma ideia ultrapassada, inadequada a um mundo que preferiria premiar a reclamação incessante e a vitimização crônica, em vez da superação e da responsabilidade.

Evidente que nem todos partem do mesmo ponto. A desigualdade existe, e é uma realidade inegável. Mas será que, por isso, o esforço deixou de ser necessário? Será que o caminho para a realização pessoal e profissional foi definitivamente trancado por barreiras intransponíveis? A quem serve esse discurso que infantiliza indivíduos e os liberta da responsabilidade sobre a própria vida? A quem interessa essa cultura do mimimi que transforma todo fracasso pessoal em uma culpa coletiva?

Conheço gente que trabalha o dia todo e, à noite, estuda. Que acorda mais cedo para ler, que dedica o fim de semana a construir um futuro que não virá por decreto nem por militância. Gente que prefere a solidão crítica da leitura ao conforto da aprovação fácil. Eu, por exemplo, sou um leitor contumaz. Adoro conversar com aquele amigo que não fala. O livro. Ele me escuta em silêncio, e quando fala, é com uma lucidez que raros humanos alcançam. É um diálogo silencioso, mas profundamente transformador, exigindo paciência, dedicação e um grau de autocrítica que a maioria não quer cultivar.

A crítica ao trabalho presencial vem da mesma lógica. Recusa-se o convívio, a troca, o acaso produtivo das conversas de corredor. Querem reduzir a experiência humana ao conforto do isolamento, como se a distância e a frieza virtual fossem suficientes para gerar crescimento, aprendizado e oportunidades reais. Esquecem que o mundo real — e as oportunidades — não chegam por e-mail.

No fundo, parece-me que o que incomoda não é a fala. É o espelho. Aquele que reflete o que eles mais temem ver, ou seja, sua própria irrelevância diante da realidade.