Alex Pipkin, PhD
Acabando de prestar uma consultoria online, olhei meu feed e, casualmente, me apareceu uma daquelas falas simples, diretas, que deveriam ser recebidas com um aceno de cabeça e um “é isso aí”. Um executivo de sucesso defendendo aquilo que qualquer ser humano minimamente desperto já deveria saber. Sim, é preciso estudar, ler, trabalhar duro e, vejam só, aparecer fisicamente no trabalho. A receita é antiga e, talvez por isso mesmo, eficaz. Há sabedoria nos costumes, nas tradições que resistem ao tempo. Como dizia Chesterton, tradição não é o culto às cinzas, mas a preservação do fogo. Mas o espírito da época, com sua obsessão pela reinvenção constante, despreza o que foi testado pela realidade.
O que me espanta não é a fala em si, mas a reação. A gritaria e a indignação automática. Não vieram apenas dos comentaristas profissionais, mas também de jovens, de trabalhadores, de estudantes comuns, já condicionados a enxergar em todo sucesso alheio uma estrutura de opressão. E o argumento-padrão, previsível como uma senha fraca, logo apareceu: “fácil falar quando se nasceu privilegiado”. Como se o fato de alguém ter vencido o tornasse automaticamente indigno de dizer a verdade. Como se o mérito, o esforço e a dedicação fossem privilégios exclusivos, inatingíveis para a maioria que, na visão deles, estaria condenada à eterna opressão e à exclusão.
Para essa geração que almoça ressentimento e janta inveja, qualquer menção ao esforço pessoal é violência simbólica. O mérito virou farsa. O talento então, um privilégio estrutural. Claro que a ambição é vista como um crime. O esforço se tornou um conceito datado, uma ideia ultrapassada, inadequada a um mundo que preferiria premiar a reclamação incessante e a vitimização crônica, em vez da superação e da responsabilidade.
Evidente que nem todos partem do mesmo ponto. A desigualdade existe, e é uma realidade inegável. Mas será que, por isso, o esforço deixou de ser necessário? Será que o caminho para a realização pessoal e profissional foi definitivamente trancado por barreiras intransponíveis? A quem serve esse discurso que infantiliza indivíduos e os liberta da responsabilidade sobre a própria vida? A quem interessa essa cultura do mimimi que transforma todo fracasso pessoal em uma culpa coletiva?
Conheço gente que trabalha o dia todo e, à noite, estuda. Que acorda mais cedo para ler, que dedica o fim de semana a construir um futuro que não virá por decreto nem por militância. Gente que prefere a solidão crítica da leitura ao conforto da aprovação fácil. Eu, por exemplo, sou um leitor contumaz. Adoro conversar com aquele amigo que não fala. O livro. Ele me escuta em silêncio, e quando fala, é com uma lucidez que raros humanos alcançam. É um diálogo silencioso, mas profundamente transformador, exigindo paciência, dedicação e um grau de autocrítica que a maioria não quer cultivar.
A crítica ao trabalho presencial vem da mesma lógica. Recusa-se o convívio, a troca, o acaso produtivo das conversas de corredor. Querem reduzir a experiência humana ao conforto do isolamento, como se a distância e a frieza virtual fossem suficientes para gerar crescimento, aprendizado e oportunidades reais. Esquecem que o mundo real — e as oportunidades — não chegam por e-mail.
No fundo, parece-me que o que incomoda não é a fala. É o espelho. Aquele que reflete o que eles mais temem ver, ou seja, sua própria irrelevância diante da realidade.