• Pedro Henrique Mancini de Azevedo
  • 29/12/2015
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CRÔNICA DE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA

"A primeira lição da economia é a escassez: nunca há o bastante de algo para satisfazer todos aqueles que o querem. A primeira lição da política é ignorar a primeira lição da economia." (Thomas Sowell)

A notícia não é recente, mas não valeu nem a pena se apressar para ser mais um a dizer "eu falei". Falo da saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda – algo que estava mais claro do que cristal que iria acontecer cedo ou tarde.

Levy aceitou a oferta após nomes como Luiz Carlos Trabuco e Henrique Meirelles terem rejeitado a mesma. Na época das negociações, o que se noticiou foi que Trabuco e Meirelles não chegaram a um acordo com o governo por não concordar como o ajuste fiscal seria feito. Ambos entendiam que o ajuste deveria ser feito reduzindo gastos, e não aumentando receitas (impostos) como o PT queria. Levy por outro lado, tentou ser pragmático, e aceitou a oferta para fazer um ajuste fiscal aos moldes petistas, pois segundo Levy, era melhor um ajuste fiscal torto do que nenhum ajuste. Grande erro.

Levy deveria ter percebido que Dilma não queria ajuste nenhum; ela só queria um nome que o mercado gostasse, achando que bastava colocar um economista ortodoxo sentado na cadeira de Ministro da Fazenda para que a crise fosse resolvida. Essa é a visão de Dilma sobre o mercado - ela acha que o mercado é uma invenção do capitalismo burguês e que basta uma ação política para que ele se acalme. Ora, se vontade política fosse suficiente para resolver os problemas de um país não existiria mais pobreza no mundo.

Dilma não entende que o mercado vive de especulações, e que especulação é algo normal de qualquer ser humano. Especulamos se iremos nos casar, se iremos comprar uma casa, se iremos aceitar um emprego, etc. Os investidores fazem o mesmo – especulam se um país tem suas contas ajustadas para que eles possam investir.

Mas Levy não percebeu essa mentalidade de Dilma, e com isso ele foi duplamente ingênuo. Primeiro, por achar que o brasileiro que já está sufocado por altos impostos iria aceitar com passividade um ajuste que previa aumento de impostos. Segundo, por não perceber que o PT, a esquerda e os "economistas" como Belluzzo, iriam jogar nas costas do economista "neoliberal" a culpa da crise, culpando o "ajuste". (Haja aspas!) No final, esses canalhas conseguiram exatamente o que queriam - acharam os bodes expiatórios de sempre: o neoliberalismo, e o grande vilão de todos – o mercado financeiro.

Com os bodes expiatórios criados, Dilma e o PT acharam as justificativas perfeitas para voltarem a fazer o populismo desenvolvimentista que eles tanto gostam. E para colocar em prática a mesma receita que nos levou para o buraco, eles convocaram um autêntico desenvolvimentista que já estava no governo - o agora ex Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Mas isso não é tudo. Antes de assumir a pasta do Planejamento, Barbosa foi secretário executivo do Ministério da Fazenda de 2011 a 2013 quando Guido Mantega estava no comando da Fazenda promovendo todas as bizarrices que vimos no primeiro governo Dilma. Ou seja, Barbosa estava lá; concorda com tudo que foi feito. Sendo assim, alguém acha que com ele teremos algum ajuste? Alguém acha que com ele teremos algo diferente?

Então, meu caros, aqui não estamos falando de possibilidades, estamos falando de fatos concretos. Voltaremos a mesma política econômica expansionista que nos levou a ruína. Dilma e sua trupe desenvolvimentista não estão satisfeitos; querem dobrar a aposta; querem curar a ressaca se embebedando mais. Infelizmente, quem acordará com dor de cabeça seremos nós. E será uma longa dor de cabeça. Que Deus nos proteja, pois rezar e pedir misericórdia é só o que nos resta.

*Economista MBA, PMP