Rubem Sabino Machado
Se você curte Star Wars, já deve ter notado: há vários nomes que tiveram que ser mudados para passar no Brasil— ou você nota que a legenda não bate com fala dos personagens ou, nos dublados, isso já fica resolvido sem você notar: mas, com certeza, tem que ter um brasileiro sacana por trás disso, porque são vários casos e é coincidência demais, falta de noção demais...
Quando você foi ao cinema assistir ao Ataque dos Clones, filme 2, que na verdade é o 5 – numa numeração que deve ter sido feita por Mestre Yoda, como dizem os memes nas redes (enquanto ainda permitem memes) – você quase se f..., digo, quase se lascou de tanto imaginar de onde teriam surgido tantos clones como apareciam nos trailers e sugeria o nome do episódio. Bem, se você foi ao legendado e prestou atenção à fala dos personagens, deve ter sofrido o impacto da primeira estranheza. A fala da clonadora Kaminoana e de Obi Wan Kenobi expressavam um nome cuja grafia, de acordo com a pronúncia em inglês seria Mestre Sifo Dias. Mas a legenda falava em Zaifo Vias. E o tal mestre havia se f..., digo, havia morrido havia muitos anos... Não sei se o tal brasileiro queria que o nome já sugerisse o destino em português, mas parece que os tradutores não gostaram de um nome tão... profético e preferiram trocar por um nome que não iria gerar polêmica desnecessária nem colocar o... filme na reta...
Falando em colocar na reta, outra marotagem evidente do compatriota sacana foi com o nobre e ex-Jedi, que se descobriu ser um Sith: o Conde Doku... Era evidente que os momentos dramáticos do filme seriam recebidos como comédia a cada aparição do poderoso e grande esgrimista. Optaram, devo dizer que sabiamente, por falar em Conde Dookan na legenda e na dublagem, ou teriam destruído a participação um grande ator em uma grande atuação...
Nos filmes ela não aparece, mas, nos desenhos animados de Guerra dos Clones e Rebels, destacou-se um personagem, aprendiz de Anakin, com uma coragem e iniciativa no estilo do seu mestre, hiperativa como uma interjeição de atividade intensa e que, por isso deve ter recebido a interjeição no próprio nome, seguindo sugestão de nosso sacaníssimo assessor Tupiniquim: Ahsoka! Só ouvi isso antes em filmes que não poderiam ser exibidos para menores de 18 anos, mas que, diante dos nomes do Mestre Jedi falecido e do Conde, nem chega mais a fazer corar...
A animação também revela que ela foi descoberta por um mestre muito sábio e estrategista que fazia muito bem o jogo da guerra. Assim, jogou Plo-Koon e descobriu a poderosa aprendiz de Jedi. Ahsoka! E Plo-Koon!
E não podemos esquecer que Anakin só foi pro lado negro da Força e se tornou Darth Vader por causa de Padmé Amidála. Ao menos o inconveniente conterrâneo teve o bom senso de não ousar usar um hífen, mas nunca foi esclarecido se essa piadinha ele fez por causa da gravidez da senadora de Naboo. E ela sempre correu muitos riscos e sofreu atentados da segurança chefiada pelo Capitão Quarsh Panaka. O chefe da segurança de um importante planeta é um Panaka, quero dizer, da família Panaka. Acho que o canarinho sacana queria insinuar alguma falha na segurança e o fez com tão expressivo sobrenome.
Isso sem falar em alguns personagens menores. Temos o mercenário Ponda Baba, onde quer que ele a pusesse, que tem rápida porém marcante aparição com seu braço cortado por Obi wan. Ou Val Beckett que, falado rápido, mudaria a classificação etária do filme, o que seria mais provável ainda pelo reforço de Bo-Katan Kryze.
Coroando os que lembro, também havia um risco – calculado – ao se falar de Enfys Naquele, digo, Nest. Já Jocasta Nu, eu não acredito que teria sido sacanagem do brazuca, mas mero erro de concordância nominal. Em todo caso, ela não poderia aparecer assim nos filmes...
Eu diria que, na dúvida se o personagem iria ter relevância ou não, nosso brasileiro ia plantando memes prontos e cacófatos de fazer o arrepiar o Leone, lembra dele, o artista chato mas com músicas boas apesar do “quando ela tá no sofá, so far Away” e “sopra o meu prazer”, digo, “só pro meu prazer”...
Mas isso não é importante. Importante é a qualidade da saga. Faz uma versão magistral do herói das mil faces estudado por Joseph Campbell (o arquétipo do Rei Arthur, Harry Potter e outros) e fabulosa referência aos Cavaleiros Templários em que Felipe o Belo, um rei asqueroso armou toda uma narrativa para preparar o terreno para destruir Jacques de Molay, Grão-Mestre e a própria Ordem do Templo, por ter sido contrariado e porque queria roubar o tesouro da Ordem.
Teria liberado da prisão e subornado o renegado templário Esquin de Floyrac que espalhou mentiras, narrativas falsas de heresias e falsos testemunhos contra os Cavaleiros de Cristo. Organizaria com seu homem de confiança, escolhido a dedo, Guillaume de Nogaret um plano para prender os Templários em toda a França por meio de cartas que deveriam ser abertas todas na mesma data com ordens de prisão em uma sexta: 13 de outubro de 1307, o que deu origem à superstição da sexta-feira 13.
Sob tortura, confessaram várias mentiras sobre heresia na presença das autoridades do rei, mas se retratavam diante da Santa Inquisição por saberem que, como ordem eclesiástica somente o Papa teria autoridade para puni-los.
Muita coisa poderia ser dita, mas o mais importante é que, especialmente em relação ao Grão Mestre e ao preceptor da Normandia Geoffroi de Charney, o Rei Felipe passou por cima de todo o processo legal previsto na época, não observou nada, atropelou os juízes naturais da Inquisição e, tomando para si competência que jamais possuiu, mandou executar de imediato os dois cavaleiros, na fogueira, em uma ilha do Rio Sena. Antes da execução, De Molay fez uma exortação deixando clara a vergonha de estarem queimando inocentes e a invocação da famosa maldição: que se cumpriu...
Assiste ao Episódio 3, a Vingança dos Sith, e analisa os fatos, a ordem 66 que emula as cartas lacradas de Felipe e até as vestimentas dos Jedi, para notar a óbvia ligação com os templários, diferindo apenas porque os Jedis estavam sendo acusados falsamente de conspirar contra a República e contra o Grande Chanceler quando, na verdade, este é que vinha dando progressivamente um golpe que se consumou, transformando a república em Império absolutista e com perseguição total a qualquer oposição. Assiste pra ver ou, se já viu, assiste novamente.
Quase acreditei na sua promessa/ E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada/ Perdi o meu castelo e minha princesa
Quase acreditei, quase acreditei
E, por honra, se existir verdade/ Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo/Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo/ olha o sopro do Dragão
Metal contra as nuvens. Legião Urbana
* O autor adoraria criar uma nova saga, mas nem crônica escreve direito...
** In God we trust!
*** Artista desconhecido. Imagem obtida em < https://www.worldhistory.org/image/9270/knights-templar/ > em 21 de julho de 2025, às 14:15h