• Ricardo Noblat
  • 06/03/2016
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O QUE DELCÍDIO ME CONTOU

(Publicado originalmente em O Globo, blog do Noblat)

Uma vez que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) delatou Dilma, Lula e companhia ilimitada, sinto-me liberado para contar o que ouvi dele no primeiro semestre de 2006, a poucos meses da reeleição do então presidente Lula.
Delcídio era o presidente da CPI dos Correios que investigava o mensalão. Eu nunca havia conversado com ele antes. Jantamos no Restaurante Alice, no Lago Norte. E, ali, ele me disse o que segue.

Algumas semanas antes, se reunira em Belo Horizonte com Marcos Valério, o publicitário mineiro que operara o esquema do mensalão junto ao tesoureiro do PT Delúbio Soares. Valério estava aflito e furioso. Tivera dinheiro bloqueado por ordem judicial.

Precisava de ajuda para fazer face às suas despesas. Ameaçava contar o que sabia sobre o pagamento de propinas a deputados e senadores para que votassem no Congresso como mandava o governo.

Depois de ouvir o desabafo de Valério, disse-me Delcídio que havia pedido uma audiência a Lula. Fora recebido por ele no gabinete presidencial do terceiro andar do Palácio do Planalto. Delcídio transmitiu a Lula o que ouvira de Valério. E a primeira reação de Lula foi se calar.

Por alguns segundos, narrou Delcídio, Lula olhou parte da vegetação do cerrado que se descortinava a partir da janela envidraçada do seu gabinete. Parecia tenso. Voltou-se então para Delcídio e perguntou: "Você já procurou Okamotto?"
Delcídio respondeu que não. E Lula mais não disse e nem lhe foi perguntado. Seria desnecessário, observou Delcídio entre uma taça e outra de vinho chileno. Estava sóbrio, registre-se.

Paulo Okamotto era uma espécie de tesoureiro informal da família Lula. Ganhara o emprego de presidente do Sebrae. Hoje, é presidente do Instituto Lula, local de despacho do ex-presidente em São Paulo.

Delcídio procurou Okamotto. E logo depois foi procurado por Antonio Palocci, ministro da Fazenda, que fora acionado para garantir o silêncio de Valério.