Silvio Lopes
Não é de hoje que o tema pobreza, provoca acalorados debates no âmbito da política. Seja aqui, ou alhures. Se considerarmos que pobreza é definida como " um estado de miséria que causa sofrimentos por insuficiência (ou falta) de alimentação", então, está criado um paradoxo institucional de elevada gravidade, simplesmente porque a produção mundial de alimentos nunca foi tão espantosamente grande. E suficiente, portanto, para "acabar com a fome no mundo". Aqui no Brasil, em especial.
Sem entrar noutros aspectos, relevantes, por certo, ante um tema tão transcendental e decisivo para a própria sobrevivência da espécie, uma questão não menos impactante precisa ser resolvida: há, de fato, interesse em exterminar com a fome no mundo e reduzir o estado de pobreza que assola milhões em todos os continentes? Desconfio que não. Infelizmente.
Veja-se o caso brasileiro. Por aqui se criou uma espécie de "indústria da pobreza", institucionalizada por meio de incalculável número de entidades - governamentais ou não - e que acabam promovendo um incestuoso e interesseiro enlace entre elas. Pior e mais trágico: nesse contexto, a pobreza e sua manutenção (jamais sua extinção), é definitivamente do interesse precípuo delas. Como acabar com a própria razão de ser dessas entidades, tornadas um fim em si mesmas?
Nas palestras sobre Economia Comportamental que ministro, tenho tido a feliz oportunidade de destacar o que considero princípio equivocado de como a questão tem sido tratada: ver os pobres como simples objeto de "caridade". E, desta forma, desprezar sua dignidade e sua inata e bem viva capacidade (sim, isso mesmo!) de suprir suas necessidades e a de sua família. A mobilidade social aí está, necessita unicamente ser estimulada e se tal for bem conduzido, o caminho da redenção estará edificado.
Liberdade econômica como parâmetro macro, apoio a iniciativas e a pequenos negócios com menos burocracia e taxas e impostos sufocantes e desestimulantes, já seria um alento e tanto. Coisas simples e libertadoras.
Mas, num país em que o principal dos seus próceres confessa que o cidadão que sai da pobreza deixa de confiar nele o seu voto, torna-se prá lá de improvável (senão que impossível), sonhar um dia que este país se transforme, enfim, numa grande e próspera nação. E onde a pobreza deixe de ser institucional e se limite a ser, preponderantemente, uma opção pessoal do indivíduo. Se é que me entendem...
* O autor, Sílvio Lopes, é jornalista, economista e palestrante.