Dagoberto Lima Godoy
Nos últimos quarenta anos, participei de vários movimentos memoráveis, em que os empresários marcaram posições afirmativas, em momentos críticos da política nacional. Lembro deles com um certo orgulho, embora tenham resultado em mais frustrações do que conquistas.
No final da década de setenta, quando apenas se esboçava a abertura do regime militar, o “Manifesto dos Oito” veio a público, clamando pela volta à democracia (para honra nossa, com a assinatura de dois gaúchos -- Jorge Gerdau e Paulo Vellinho). O fato marcou o esgarçamento da aliança do setor produtivo com o regime de exceção e abriu espaço para a manifestação de outros setores da sociedade brasileira. Na mesma época, coordenei uma enquete da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul sobre o pensamento político dos associados, que se declararam maciçamente na mesma direção dos “Oito”, num posicionamento com repercussão nacional.
Nos anos oitenta e noventa, foram firmes e fortes as campanhas empresariais em favor da Constituinte e, após, da Revisão Constitucional, numa defesa vigorosa da democracia e da livre iniciativa econômica. A Fiergs, por exemplo, viveu um episódio memorável quando a comitiva de 130 gaúchos que levei à Brasília, com as propostas de empresários e sindicalistas independentes para o aperfeiçoamento da Constituição, foi “recepcionada” e agredida por arruaceiros da esquerda retrógrada. Mas, a missão foi cumprida.
Com a eleição de Fernando Henrique, as entidades empresariais uniram-se de norte a sul do País em luta pela realização das reformas institucionais, indispensáveis ao desenvolvimento de uma economia competitiva. E retomaram a pressão sobre o Governo e o Congresso, depois que os primeiros avanços, obtidos no primeiro mandato de FHC, não tiveram a continuidade necessária.
Foram quatro momentos importantes da vida nacional em que o setor empresarial não se omitiu, na defesa de seus legítimos interesses, sim, mas também de garantias constitucionais e oportunidades de trabalho e melhoria de vida para a população inteira. “Mostrou a cara”, não obstante o poder econômico governamental e a militância agressiva dos inimigos da economia de mercado.
Veio então a desgraça dos governos petistas, que haveria de desembocar na atual crise, talvez a mais grave dos últimos sessenta anos, por atingir de uma só vez os âmbitos político, econômico, e moral, e colocar em risco as próprias instituições nacionais. Mas, dessa vez, as representações empresariais ...
É até compreensível a cautela de um setor tão dependente do estado todo poderoso, que faz as leis e as aplica discricionariamente, que onera com tributos insaciáveis toda a produção de riqueza, que exerce o monopólio do crédito de longo prazo com juros subsidiados, e que se mostra implacável ao exercer o poder de polícia contra quem não seja “amigo do Rei”. Mas já não é tão fácil aceitar tamanha passividade quando a situação se agrava a ponto de levar o povo às ruas, no país todo, em demonstrações de repúdio às violências perpetradas contra a ordem constitucional justamente pelos encarregados de defendê-la, e em protesto contra a falta de transparência do processo eleitoral. Chega a ser incrível o silêncio das lideranças empresarias quando a sucessão dos atos governamentais, tanto no campo político quanto no econômico e no institucional, deixam evidente a intenção de instalar no País um socialismo bolivariano, do tipo sonhado e proclamado pelo Foro de São Paulo. Será que não se dão conta do que aconteceu com as empresas da Venezuela?