Alex Pipkin, PhD
Num posto de gasolina qualquer, um homem reclama dos preços dos combustíveis enquanto ostenta um adesivo “Lula 2022” no carro. Ele não vê contradição. Quer gasolina barata, emprego sem esforço e o Estado como babá. É o retrato da servidão voluntária em tempo real, e da confusão moral que paralisa o Brasil.
Há algo de profundamente doentio na alma de uma nação que ensina seus cidadãos a amar a servidão. No Brasil, essa doença é epidêmica e, pior, voluntária. Étienne de La Boétie, no século XVI, já se espantava com a facilidade com que os homens se dobram diante dos tiranos, não por medo, mas por hábito. Sua Discurso da Servidão Voluntária é, ainda hoje, um espelho incômodo para uma população que rasteja por bolsas e esmolas, enquanto demoniza quem produz e arrisca.
Não se trata mais de dominação pela força, mas pela conveniência. O brasileiro médio já não deseja ser livre. Liberdade pressupõe esforço, responsabilidade, iniciativa. O que se quer, em grande parte, é uma pseudo-segurança, ainda que ela venha sob a forma de correntes douradas. A servidão é ensinada desde cedo, sendo o Estado o pai, o patrão, o redentor. Qualquer tentativa de escapar desse cativeiro é punida com impostos, burocracia e difamação moral.
“O povo, assim que é submetido, cai de tal maneira na letargia que parece impossível acordá-lo”, escreveu La Boétie. No Brasil, essa letargia virou ideologia de Estado. Thomas Sowell, com sua lucidez implacável, já advertia sobre os efeitos corrosivos do assistencialismo. Quando o Estado substitui o esforço individual, ele não apenas destrói o incentivo ao trabalho, mas cria uma cultura de dependência, um ethos parasitário onde a virtude é ser vítima e o mérito é heresia.
Hernando de Soto vai além, mostrando como a informalidade imposta e os entraves ao empreendedorismo mantêm milhões na pobreza, em razão de uma engenharia institucional que criminaliza a liberdade econômica e premia a obediência.
Aqui, “liberdade” é palavrão e “dependência” é política pública. O cidadão quer tudo do Estado! Evidente, menos que o Estado saia do seu caminho. A inversão moral é completa. Quem cria riqueza é visto como explorador; quem vive de subsídio é tratado como mártir. Mas o verdadeiro opressor é o próprio Estado, que transforma o empreendedor em sócio compulsório e o pobre em refém permanente.
O homem livre acorda cedo, carrega riscos, luta contra o sistema, paga impostos extorsivos. O servo moderno dorme até tarde, repete slogans, espera pelo próximo auxílio. Um constrói. O outro consome. Mas é o primeiro que é tratado como vilão.
Desafortunadamente, essa servidão não é imposta. Ela é desejada. Escolhida todos os dias nas urnas, nos palanques, nas redes sociais, nas salas de aula. Porque a liberdade assusta. Ela exige coragem. E coragem é um valor escasso em sociedades moldadas pela covardia do igualitarismo forçado.
A pergunta derradeira não é “por que o povo aceita ser escravo?”, mas, até quando os poucos homens livres aceitarão sustentar essa escravidão disfarçada de justiça social?